4 maio 2005 - 2h02

Para técnico americano, Atlético é modelo perfeito

O Clube Atlético Paranaense sediará nos próximos dias um Congresso Internacional de Treinadores dos Estados Unidos. O evento será realizado pela NSCAA (National Soccer Coaches Association of America), entidade do Kansas fundada em 1941 e que reúne cerca de 17 mil técnicos em todos os Estados Unidos.

A NSCAA oferece cursos e programas de treinamentos para cerca de 3 mil técnicos por ano e realizará seu congresso técnico deste ano (Premier Course) pela primeira vez no Brasil. O Atlético foi escolhido para receber o evento no ano passado, após uma visita de Al Albert, terceiro vice-presidente da NSCAA.

Recentemente, Albert publicou um artigo no "Soccer Journal", um informativo editado pela NSCAA e distribuído aos seus associados. O site oficial do Atlético disponibilizou uma versão traduzida para a língua portuguesa. Vale a pena ler o texto:

Um modelo para se espelhar
por Al Albert, publicado originalmente no Soccer Journal da NSCAA (versão traduzida publicada no site oficial do Atlético

Existe um ditado que diz: Se você quer achar jogadores de futebol, vá para o Brasil. Mais jogadores jogam no futebol profissional fora do seu país de origem do que qualquer outra nacionalidade. Os brasileiros são maioria na Champions League.

Enquanto estava a negócios no Brasil em Novembro de 2004 eu tive a chance de inspecionar a estrutura que a NSCAA irá utilizar para o seu Premier Course, em maio de 2005. O que eu descobri foi uma jóia rara no sul dessa enorme nação Sul-Americana. Um conceito errôneo popular diz que os times brasileiros tem toneladas de jovens talentos, mas não desenvolvem seus jogadores com tanto profissionalismo como seus co-irmãos europeus: Manchester United, Ajax e Real Madri. Isto pode ser verdade para alguns dos tão conhecidos clubes brasileiros, mas, eu encontrei justamente o oposto no Clube Atlético Paranaense (CAP), em Curitiba.

Dez anos atrás, os líderes deste Clube octogenário decidiram que, através de um planejamento estratégico de longo prazo, eles poderiam se posicionar na elite do futebol Sul-Americano. Antes do século XXI, o Clube venceu a Segunda divisão Brasileira e foi promovido a primeira divisão do futebol nacional. Eles ganharam diversos troféus estaduais, mas não haviam realizado grandes conquistas em nível nacional contra os grandes Clubes de São Paulo e Rio de Janeiro.

O CAP iniciou esta reviravolta construindo um dos melhores estádios do continente, no local de seu antigo campo de jogo. Com design e referências de modernos estádios europeus construídos recentemente. A sua capacidade logo crescerá de 24.000 para 32.000 mil espectadores sentados. Além de ser um local magnífico para se assistir uma partida de futebol, o estádio possui uma grande loja oficial, um excelente restaurante e planos para um segundo restaurante temático com vista para o gramado, assim como, vários camarotes corporativos com instalações modernas. O gramado é utilizado apenas para jogos oficiais do time profissional (cerca de 40 por ano) e possui condições excelentes.

O Clube também comprou uma área a cerca de 15 minutos do centro da cidade e desenvolveu uma estrutura de treinamento do mais alto nível, não só para seus atletas profissionais, mas também para as equipes inferiores. Lá, mais de 100 jogadores treinam diariamente em cinco campos com dimensões oficiais, desde os profissionais até as categorias infantis. Um dos campos conta com um pequeno estádio para 3 mil pessoas, onde as categorias de base realizam suas partidas. As amplas instalações cobertas incluem: Salas de reuniões, salas de aula, sala de computação, capela, dois refeitórios, lavanderia, academia de musculação, departamento médico para atender fisioterapeutas, médicos, nutricionistas e dentistas, além de diversos vestiários. A estrutura de treino inclui uma área de treinamento com um paredão, área de reabilitação para tratamento fisioterápico, piscina semi–olímpica, quadra poliesportiva e campo de areia.

O prédio principal pode hospedar mais de 100 pessoas ao mesmo tempo e também serve de acomodação para alguns atletas profissionais solteiros e quase que a maioria dos jogadores das categorias de base. Existem também, acomodações para atletas em testes que continuamente estão chegando e jogadores de outras nacionalidades que são enviados para seus Clubes para treinamento. Uma Segunda estrutura de alojamento e treinamento em área coberta estão sendo planejados para um futuro próximo assim como, mais três campos oficias para treinamento.

Em termos de programação e Staf, o Clube é liderado por dois PhD’s em Ciência do exercício e fisiologia esportiva. Eles fazem o planejamento de cada categoria com programações específicas para carga de trabalho, nutrição e psicologia, entre outras. Cada uma das equipes recebem o apoio de uma comissão técnica completa. Os jogadores das categorias de base freqüentam escola durante a noite e são encorajados a terminar sua educação, algo que não é obrigado por lei no Brasil. Os 42 funcionários do Centro de Treinamento acabam se tornando uma Segunda família, junto com os jogadores profissionais, na formação de jovens jogadores os quais são geralmente crianças humildes, que deixaram suas casas para conquistar o sonho de jogar futebol profissional. Não é por acidente que o Atlético vendeu o jogador Kleberson para o Manchester United no ano passado e, agora estão disputando o título do campeonato brasileiro, mesmo depois de ter vendido seu melhor jogador e, ainda sim, provavelmente, deverão vender seu maior jogador: Washington – O artilheiro do campeonato. O investimento substancial nas categorias de base irá produzir muito mais estrelas no futuro. No momento, doze dos trinta jogadores profissionais do Clube foram formados nas categorias de base, destes, seis são titulares absolutos. Outros doze atletas do Atlético estão presentes nas diversas seleções brasileiras, desde o time profissional até a categoria sub-15.

Existe uma completa verticalização na infra-estrutura no time do Atlético. Os profissionais mais jovens podem jogar tanto no time principal, quanto na equipe juvenil. Os jogadores mais jovens que pertencem a categoria infantil freqüentemente jogam na equipe Juvenil e os Juvenis também atuam na equipe júnior. Com mais de 80 partidas para a equipe profissional na próxima temporada (algumas vezes jogando até três jogos por semana), o Clube tem que estar preparado para escalar quase que duas equipes distintas. Os juniores certamente estarão presentes em muitos destes jogos.

Vencer é muito importante no Atlético, sendo assim, jogadores de todas as categorias passam grande parte do tempo em treinamentos puramente técnicos, usando uma grande variedade de exercícios e locais de treinamento. Existe um bônus agregado em desenvolver o jogador especial e o Clube tem a presença deste tipo de atleta em todas as categorias.

Eu espero que algum dia nossos clubes da Major League Soccer se preocupem um pouco com o futura a estabelecer estratégias similares. Será a veia mestra dos clubes da MLS o desenvolvimento dos seus próprios talentos, onde mesmo quando um jogador é vendido aos gigantes europeus, a qualidade e integridade da liga não será afetada. Eu jamais vi melhor exemplo para se espelhar do que o Clube Atlético Paranaense.

Al Albert é terceiro vice-presidente da NSCAA (National Soccer Coaches Association of America ou Associação Americana de Treinadores de Futebol) e dirigente do Tribe Club, da Virgínia.



Últimas Notícias

Sul-Americana

O pulso, ainda pulsa.

Pela repescagem da Copa Sul-Americana, na Baixada, Athletico 2 x 1 Cerro Porteño. Precisando vencer para avançar de fase na competição, o Athletico adotou uma…

Brasileiro

Mais do mesmo

Pela rodada 18 do Brasileirão, em Bragança Paulista, Bragantino 1 x 0 Athletico. Em mais uma jornada com a horrenda camisa amarela, o Athletico precisava…

Sul-Americana

Tá ruim mas tá bom

Pela repescagem (ou playoff) da Sul-Americana, no Paraguai, Cerro Porteño 1 x 1 Athletico. No segundo jogo de Martin Varini no comando técnico do Athletico,…