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4 maio 2005 - 11h34

Refém do passado?

Assim foi com o Palmeiras da década de 90: ganhou tudo e mais um pouco. Mustafá, seu presidente, virou deus. Luxemburgo, super-técnico. Anos depois, o próprio Mustafá colocou o time na 2a. divisão…

Petráglia é fantástico: sem dúvida! E graças a Deus por ser atleticano. Mas sua visão empreendora veio ao encontro também da emergente Curitiba que, organizada por Lerner, se industrializava e ganhava ares de metrópole a partir de meados da década de 90. Nada mais natural que a cidade tivesse um futebol mais representativo. Se não fosse o Atlético teria sido o Coritiba, como quase foi o pobre Paraná que nasceu revestido de modernidade e se dizendo milionário.

Há alguns anos estamos muito bem, é verdade. Todavia, não se ganhou tudo o que podia e vários graves equívocos estão sendo cometidos, sobretudo nos últimos anos:

1) Promove-se a tal elitização congelando o ex-caldeirão agora sem bateria, sem ritmo, sem vida. Está se detonando a mola propulsora do Atlético, está se apagando a chama em nome da ilusão de um país-colônia que acha que deve copiar tudo de fora… “Na Europa é assim…” “Esta é a tendência…” dizem… Santa ignorância ! América Latina é América Latina e ponto final. Somos calorosos, vibrantes e isto nos diferencia. Querem que eu somente balta palmas ao comemorar um gol do Dago? Neste ponto parabéns aos gaúchos e argentinos pois duvido que algum profeta capitalista se levante e diga que La Bombonera deva ficar calada! E a falta que fizeram aqueles 3 pontos do jogo contra o Figueirense ano passado? O resultado está na história: O Palmeiras foi BI na década de 90, nós não conseguimos nesta década. Que saudade de dizer de boca cheia para os coxas: “O Atlético nos une. A união nos fortalece”. Se isto fosse hoje verdade seríamos Bi-campeões do Brasil.

2) Outro grande erro: A diretoria deveria estar já há algum tempo de peito aberto encabeçando uma campanha pública contra o Expoente, conclamando a nossa torcida para berrar aos (infelizmente somente) 3 cantos da arena “Fora Expoente!” mostrando toda nossa indignação com o fato da não conclusão da arena. Gostaria de ver faixas na arena do tipo “sou atleticano e não estudo no Expoente”. Mas passivamente se acompanha a disputa em tribunais como se isto fosse conveniente e, como se não estivéssemos lidando com tamanha força popular…. Esquecem que a mobilização já derrubou um presidente…. Esquecem (propositadamente ou não) que o Expoente é apenas uma empresa … Em breve sentiremos os reflexos desta passividade… Os coxas já dizem que o estádio deles está nos padrões europeus e ainda é o maior do Paraná… Já temos arena em Joinville e um belo estádio em Belém do Pará. No Rio teremos estádios fantásticos em função do PAN que serão utilizados por Botafogo e Fluminense. O Corinthians, com tanto dinheiro e sendo do Estado mais rico do Brasil, deve fazer algo sobrenatural em pouco tempo. Em poucos anos o Atlético não será mais referência nisto…não terá mais este diferencial…

3) É chover no molhado falar de preço de ingresso mas isto é sem sombra de dúvida um dos maiores erros da era Petráglia. Mais acessível, o Atlético estaria explodindo em números de torcedores, a Arena estaria transbordando em quase todos os jogos e haveria com isto mais receita mensal do que o tal contrato com a Kyocera… não que isto não seja bom…afinal Petráglia é tão fantástico que ainda tem lampejos de gênio marketeiro… Mas isto deveria ser mais uma renda e não vir para tampar o buraco das bilheterias… Sem falar que hoje quem vai ao estádio não é o povão que berra o jogo todo e sim almofadinhas, como eu, que podem pagar os absurdos valores praticados. O pior é que estes torcedores – produtos do marketing de Petráglia – não sabem ainda o que é realmente torcer por este time e sequer sabem as músicas da fanáticos e, talvez, nem saibam o hino completo do clube. Eles são bem vindos sim, como eu um dia fui chegando devagar na Baixada e vendo abismado o fervo da torcida em plena quarta-feira à tarde contra um Goiatuba ou Barra do Garças da vida…. A propósito, virei atleticano fundamentalmente pela acessibilidade pois entrava de graça no segundo tempo quando os portões eram abertos.

Petráglia e sua turma devem sair para o bem do Atlético pois, assim como no Palmeiras ou na política, nenhuma ditadura traz bons frutos a longo prazo.
Por mais fantástico que ele seja não é um ser absoluto, dono da verdade e eterno. Já entrou para a história mas como Romário insiste em não parar e começa a queimar sua imagem.

Onde estão os outros atleticanos de quatro costados?
Onde está a oposição para promover a salutar rotatividade no poder?
Quem é maior: a criatura marcada para crescer ou o criador marqueteiro?



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