Jogo da verdade
Desabafo. Se é possível resumir uma entrevista coletiva de quase duas horas em apenas uma palavra, então esta é a escolhida. Entre 18h10 e 19h55 desta quinta-feira, João Augusto Fleury da Rocha e Mario Celso Petraglia receberam a crônica esportiva paranaense na sala de imprensa da Kyocera Arena. Com exata duração de uma partida de futebol (com direito até aos 15 minutos do intervalo), os dirigentes prestaram esclarecimentos sobre a administração do clube, falaram sobre erros e acertos do passado, a relação conturbada com as torcidas organizadas, os projetos para o futuro e a contratação da nova comissão técnica.
Porém, todos os jornais estamparão em suas manchetes desta sexta-feira as críticas disparadas contra a conduta da imprensa esportiva do estado. Foi essa a maior impressão deixada ao final da coletiva, talvez pelo entusiasmo das declarações ou pelo tempo gasto com o tema, esticado em função das réplicas de alguns repórteres.
João Augusto Fleury da Rocha, presidente do clube, deu início ao evento com um breve discurso. Relembrou os feitos dos dez anos de gestão de Mario Celso Petraglia, da mudança de imagem do Atlético perante o mercado nacional e internacional e minimizou a crise instalada nos últimos dias. "Não é o fim dos tempos. O simples resultado de uma partida não vai abalar a estrutua aqui fincada", garantiu.
Depois, Petraglia passou a comentar a atuação da imprensa esportiva do Paraná nos últimos anos e especialmente nos últimos meses. "Hoje vamos fazer o jogo da verdade", anunciou. O que se seguiu foi uma defesa emocionada de sua gestão e de sua conduta pessoal. "Não sou procurado pela justiça, não sou processado. Não devo nada a ninguém. O Atlético já foi virado de ponta-cabeças e nada foi provado. Assim como já processei várias pessoas, vou continuar processando quando falarem leviandades", afirmou Petraglia. "Minha crítica é uma reação às acusações. Quando levam para o lado pessoal, isso me dá o direito de levar também", completou.
Administração do clube
Mas a entrevista coletiva não tratou apenas de debates sobre jornalismo esportivo. Fleury e Petraglia destacaram diversos pontos da administração do clube. Deixaram claro que o projeto programado para o clube ainda não foi concluído e que, portanto, é preciso ter um pouco de paciência. "A locomotiva foi lançada e não tem como ser parada", comparou Petraglia. "O Atlético está grande, tem uma torcida fantástica e não vai deixar se levar pela minoria", completou Fleury.
O presidente do Conselho Deliberativo deixou claro que está pensando nos próximos dez anos e que as cobranças não podem ser imediatistas. "Estou preocupado com o que vem pela frente, com 2014", disse, aproveitando para confirmar que a Copa do Mundo de 2014 será realizada no Brasil e ressaltando que apenas os clubes que estiverem prontos para esse evento é que poderão se beneficiar.
Além disso, houve tempo para diversas revelações interessantes. Alguns exemplos: 1) o clube está processando a Rede Record; 2) o CT do Caju ganhará um estádio coberto e com grama sintética; 3) não será contratado um diretor de futebol em função dos altos salários desses profissionais; 4) diversos técnicos foram oferecidos, mas o clube ainda não procurou ninguém; 5) Petkovic e Pitbull foram procurados no início do ano, mas descartados por motivos financeiros; 6) a parceria com a Massa Sports não se concretizou; 7) o Atlético detém a preferência para adquirir 50% dos direitos do atacante Maciel; 8) Petraglia deseja manter Jadson, Washington e Rogério Corrêa, mas a saída deles foi inevitável; 8) o clube pretende instalar uma Universidade do Futebol em parceria com a Ulbra; 9) os dirigentes admitem erros cometidos neste ano, mas consideram que são inerentes ao futebol; 10) o Atlético está investindo para manter bom relacionamento com clubes portugueses; 11) o técnico Edinho pediu demissão; 12) para Petraglia, Levir Culpi foi o principal responsável pela perda do título brasileiro de 2004; 13) o novo técnico será escolhido com cautela.
Confira abaixo uma seleção com as declarações mais importantes da entrevista coletiva:
"Não é o fim dos tempos."
(João Augusto Fleury da Rocha, presidente do Conselho Gestor do Atlético, comentando a crise instalada nos últimos dias)
"O Atlético não está na sarjeta. No chinelo. Nem aos pés de ninguém. O Atlético está grande, tem uma torcida fantástica e não vai deixar se levar pela minoria."
(João Augusto Fleury da Rocha, criticando a capa da Tribuna do Paraná de quinta-feira, cuja principal manchete foi "Atlético no chinelo")
"Não sou procurado pela justiça, não sou processado. Não devo nada a ninguém. O Atlético já foi virado de ponta cabeças e nada foi provado. Assim como já processei vários, vou continuar processando quando falarem leviandades."
(Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, sobre as investigações sofridas por ele e pelo clube)
"Isso aqui não é o Couto Pereira. Você sabe, senhor Fernando Gomes. Você sabe! Lá você não podia entrar pela falta de segurança"
(Mario Celso Petraglia, dirigindo-se ao jornalista Fernando Gomes, que foi perseguido pela torcida do Coritiba e não teve condições de trabalhar no Estádio Couto Pereira)
"Nós estamos aqui há dez anos. A grande torcida a gente respeita. A torcida organizada, não. Os verdadeiros atleticanos estão sendo influenciados. A deformação da opinião está sendo levada de uma forma leviana, de uma forma doente. Agora, vocês sabem, a minoria protesta."
(Mario Celso Petraglia, acerca do relacionamento com a torcida)
"O Atlético não tem problemas com a Receita Federal, com o INSS. Se encerraram as ficalizações destes 10 anos. O que se foi publicado? Nada."
(Mario Celso Petraglia, comentando as investigações a que o clube foi submetido)
"É um projeto em andamento. Não há nada concluído."
(Mario Celso Petraglia, sobre o planejamento do Atlético)
"Quem tiver com problemas que vá deitar num divã e resolver seus problemas com Freud. Eu já fiz isso e deu certo."
(Mario Celso Petraglia, dirigindo-se à imprensa)
"Não uma, não duas, não três. Centenas de vezes eu pensei em abandonar o clube."
(Mario Celso Petraglia, comentando a vontade de renunciar em função das críticas da torcida)
"Ninguém acreditou quando dizíamos que venderíamos o nome da Arena. Fomos alvo de chacota. Hoje está aí. Uma das maiores multinacionais patrocinando o Atlético, um time neste Estado que tem 5% da participação do mercado publicitário. O Atlético é um dos clubes mais respeitados desse país lá fora."
(Mario Celso Petraglia, analisando o contrato de naming rights com a Kyocera)
"O Brasil vai passar nos próximos 10 anos por uma transformação no futebol. A Copa de 2014 será no Brasil. Quem tiver preparado para surfar nesta onda, estará seguro. Quem não se preparar vai morrer afogado. Agora, o que vocês pretendem? Que a gente ganhe os campeonatos todos os anos? E o Paranaense que ganhamos nao valeu por quê? Quando o Coritiba ganhou, valeu. Quando a gente ganha nao vale. Por quê?"
(Mario Celso Petraglia, sobre o futuro do futebol brasileiro e a diferença de tratamento da imprensa à dupla Atletiba)
"Já se passam 8 anos do episódio Ivens Mendes e é a única coisa que o Brasil tem a falar de mim. O Brasil só tem isso contra mim. Criaram, inventaram, em 1997, quando eu fui presidente do Clube dos 12. Enfrentei burraldamente, desprentesiosamente, despreparadamente o sistema. Eu imaginei que era de um jeito, e me disseram que era assim."
(Mario Celso Petraglia, garantindo que o caso Ivens Mendes foi uma fabricação de cunho político)
"Nós nos levantamos contra a mídia nacional. Estão aí os processos contra a Rede Record. Eu fui chamado para sentar com o Sr. Milton Neves e me neguei. E o Atlético está os processando. Por que estamos revoltados com a mídia local? Porque aqui é que nos vivemos. Ou vocês acham que a Record está preocupada com a mídia do Atlético? Está preocupada com a mídia dos times paulistas."
(Mario Celso Petraglia, revelando que o clube está tomando medidas contra a emissora que atacou o Atlético durante o Brasileirão 2004)
"Já processei muitos colegas seus (jornalistas), que não tiveram dinheiro de pagar o advogado de acusação contra mim e vieram misericordiamente pedir para eu retirar as ações. Eu retirei e ainda paguei o advogado deles contra mim."
(Mario Celso Petraglia, revelando casos do passado)
"A torcida organizada quer a bateria pra ficar em pé, pra não sentar na cadeira que a lei obriga. A torcida tem interesse de vender a sua marca. É um comércio paralelo sobre a nossa marca. O que nós queremos? Transformar. Querem criar uma Gaviões na nossa vida? Por que a imprensa não entende isso? Todo mundo é contra torcida organizada nesse país. Tem estados que proibiram a existência juridicamente. E aqui é apoiado. Por quê?"
(Mario Celso Petraglia, sobre as torcidas organizadas)
"O Jadson teve uma proposta milionária para ele e para o clube. Ele é um jogador de futuro incerto e fomos aconselhados por especialistas a vendê-lo."
(Mario Celso Petraglia, comentando a negociação de Jadson com o Shakhtar, da Ucrânia)
"O Dagoberto está prestes a voltar. Nós optamos pelo melhor centro cirúrgico de joelho do mundo para preservar o nosso atleta. Está aí voltando mais forte do que estava. Com movimento de rotação que quase a totalidade das pessoas que passam pela cirurgia convencional perde. E o Atlético não quis perder esse grande talento. Obviamente a opção foi de uma recuperação mais lenta."
(Mario Celso Petraglia, demonstrando que confia na recuperação de Dagoberto)
"O Atlético é tocado por profissionais. É uma empresa. Você acha que o terrorismo não abala as pessoas? A mim não. Estou calejado pela falsidade. Mas as pessoas que estão iniciando se perdem e erram. Faz parte. Só erra quem faz. O Atlético mais acertou. Nós temos esse credito."
(Mario Celso Petraglia, sobre a desestabilização do ambiente no Atlético)
"Não é verdade que o Petraglia faz tudo e decide tudo. É uma mentira."
(Mario Celso Petraglia, desmentindo que comanda o clube sozinho, sem ouvir a opinião de outros dirigentes)
"Nós estamos aqui também como torcedores. Basicamente como torcedores. Não podemos deixar nos envolver por essa paixão. Temos de ter lucidez, cabeça fria, inteligência, discernimento. Não podemos fazer loucuras."
(Mario Celso Petraglia, sobre o modo como o clube é administrado pelo Conselho Gestor)
"A tendência do futebol mundial é acabar com os clubes brasileiros. O Mundial desse ano terá 6 clubes e US$ 50 mi de prêmio. Quem for campeão da Libertadores vai para lá. Não seremos neste ano. Mas um dia seremos, se continuarmos com o mesmo trabalho. Mas isso se deixarem a gente continuar."
(Mario Celso Petraglia, prometendo um título da Libertadores)
"O Edinho não foi mandado embora. Ele me pediu e disse que não tinha condições de continuidade. Nós em conjunto com o presidente Fleury chegamos a conclusão que ele nao poderia continuar. Ele disse que não suportava a crise que surgiu com a Fanáticos pressionando."
(Mario Celso Petraglia, revelando detalhes da demissão de Edinho Nazareth)
"Eu saí operacionalmente das minhas empresas. Não participo mais de nada, minha dedicação é quase exclusiva ao Atlético. O Atlético é uma empresa que requer uma dedicação das pessoas que estão aqui que vocês nem imaginam. O Atlético tem condições, tem caixa, não há jogador hoje, brasileiro ou não, que não queira jogar no Atlético. É um dos clubes com a melhor vitrine do Brasil. É um clube que paga suas contas em dia. Agora, só podemos contratar dentro da nossa realidade, das nossas condições. É o que sempre fizemos e faremos."
(Mario Celso Petraglia, prometendo maior dedicação ao Furacão)
"O Levir Culpi no dia do jogo contra o Grêmio, em Erechim, pressionou toda a diretoria para falar comigo. Eu não queria atendê-lo porque não achava que o momento era oportuno, discutir contrato horas antes do jogo. Pressionado, fui e sentei. Não deveria ter sentado. E me penitencio. Depois, deveria tê-lo demitido. Não tive a coragem suficiente de fazê-lo. Me arrependo amargamente. Ele exigiu a renovação de contrato aos preços de sua oferta tida pelo Cruzeiro. Horas antes do jogo. Quando ele falou em cifras, eu falei: ‘meu caro, vai à vida, o Atlético não tem estrutura pra pagar isso’. A cara dele, a motivação dele, o ambiente de lá pra cá foi terrível. Eu vi no dia do jogo do Botafogo, a alegria quando nós não o derrotamos e eles não caíram. O Levir se abraçou com jogadores do Botafogo, comemorando. É justo? É ético? Já pensou se o Vasco empata com o Santos e nós empatamos em casa com o Botafogo, com o Fernandinho jogando de líbero quando nós precisávamos da vitória? Isso é o futebol. A gente não tem controle sobre isso. Não há planejamento que dê conta disso."
(Mario Celso Petraglia, revelando detalhes sobre os bastidores da reta final do Brasileirão 2004)
"Tivemos um problema jurídico com uma pequena área do CT. São oito mil metros quadrados em 250 mil metros quadrados de área. O real proprietário provou que tinha razão. Tentamos comprar, fazer um acordo, pra não prejudicar nosso campo. Nos pediram R$ 900 mil por oito mil metros quadrados em Umbará! Com esse dinheiro, vamos cobrir aquele campo, vamos aproveitar as intalações, o tobogã e vamos fazer um campo coberto, iluminado, com piso sintético, pro inverno de Curitiba. Com esse dinheiro vamos cercar o campo 4 com o mesmo alambrado que lá está e vamos jogar neste campo."
(Mario Celso Petraglia, explicando as futuras obras no CT do Caju)
"Nós tivemos interesse no Petkovic assim que ele se afastou do Vasco. Ele fez um contrato com o Oriente Médio de US$ 4,5 mi por duas temporadas. Preciso dizer se vamos trazê-lo?"
(Mario Celso Petraglia, sobre o interesse no sérvio Dejan Petkovic)
"O professor Antônio Carlos Gomes é um dos homens mais respeitados no mundo na área em que ele é Doutor pela Universidade de Moscou. O que ele tem divulgado, promovido o Atlético Paranaense, na sua imagem, olhando pro lado de fora, do planejamento, de promoção da nossa marca. Gracas ao Gomes e ao Oscar que esses 60 americanos estão aí. Graças ao trabalho científico que eles fazem na formação de jovens futuros valores e na recuperação do Washington e outros tantos. Além de orientar cientificamente os nossos preparadores físicos, de ter desenvolvido o sistema de avaliação dos talentos, de acompanhar o dia-a-dia do CT, de acompanhar americanos, japoneses, além de milhares de outras funções. O professor Antônio Carlos Gomes e o professor Oscar que lideraram o bicampeonato do Atlético na Dallas Cup."
(Mario Celso Petraglia, elogiando o funcionário Antônio Carlos Gomes)