Levir Culpi: "Petraglia não foi homem, foi um covarde"
No dia seguinte às declarações de Mario Celso Petraglia sobre sua conduta na reta final do Campeonato Brasileiro 2004, o técnico Levir Culpi também convocou a imprensa para uma entrevista coletiva. Nesta sexta-feira, na sede da Toca da Raposa II, o atual treinador do Cruzeiro rebateu as críticas de Petraglia e foi tão agressivo quanto o cartola atleticano.
Na coletiva desta quinta, Mario Celso havia dito que Levir Culpi agiu mal ao tentar renegociar seu contrato na reta final do Brasileiro e que o treinador trabalhou sem motivação nos últimos jogos, o que, na opinião do dirigente, acarretou a perda do título. Em sua resposta, Levir qualificou Petraglia como covarde, mal-agradecido e desequilibrado, além de ter dito que o dirigente não "foi homem" com ele. A íntegra das manifestações do ex-treinador atleticano foi transcrita em reportagem do jornalista Bruno Furtado no Portal Uai, vinculado ao Estado de Minas. Confira as declarações de Levir Culpi contidas na matéria:
COVARDIA
"Fiquei impressionado, não esperava jamais uma atitude dessas, partindo de uma pessoa que eu nunca tinha tido sequer um discussão. Fiquei decepcionado com o que aconteceu, mas infelizmente naquele momento ele estava muito transtornado, até vi pedaços da entrevista pela televisão e faltou para ele ser mais homem, principalmente comigo, porque na verdade ele foi covarde e foi mesmo como ele falou, faltou coragem porque realmente foi covarde. Se ele realmente estivesse sentindo aquilo, ele tinha que tomar uma atitude, mas infelizmente esse posicionamento dele me deixou muito magoado porque a gente acaba perdendo a esperança com as pessoas."
TRABALHO NO ATLÉTICO
"Eu me lembro da minha chegada no Atlético Paranaense. Eu fui ganhando menos do que eu ganhava no Botafogo porque há muitos anos eu não trabalhava em Curitiba. Toda a minha família é de lá, a dele não, ele é gaúcho. A minha é toda de Curitiba, então devo satisfações a Curitiba. Não gosto de trabalhar em Curitiba justamente por isso, tem envolvimento com família e quando eu trabalho em Curitiba a coisa que eu mais quero é vencer principalmente porque há aquela pressão, time de família, amigos, parentes, esse tipo de coisa. Fui para o Atlético pela estrutura e fui ganhando menos que no Botafogo. O Atlético estava deteriorado, justamente pela atuação do presidente. No jogo de São Paulo, que eles perderam o primeiro jogo, ele reuniu os jogadores no intervalo e disse que eles eram um bando de veados, foi a expressão que ele utilizou para os jogadores, então os jogadores estavam totalmente desequilibrados emocionalmente quando cheguei, com duas derrotas. Nós conseguimos transformar esse time, elevar a auto-estima dos jogadores, conseguimos levar esse time para um vice-campeonato, ficamos dezoito jogos invictos, tivemos o artilheiro do campeonato com 34 gols."
RESULTADOS FINANCEIROS
"Para vocês terem uma idéia da dificuldade de chegar ao vice-campeonato, como vice-campeão, nos últimos oito jogos nós tínhamos que vencer seis para sermos campeão. Nós vencemos cinco, empatamos dois e perdemos um. Logo na chegada, nós afastamos oito jogadores, o que representou praticamente uma economia de R$ 200 mil para o clube. Subimos os meninos do júnior, fizemos essa campanha e graças a essa campanha, claro que graças a um trabalho geral do clube, o Atlético vendeu aproximadamente 15 milhões de euros na temporada."
EPISÓDIO DE ERECHIM
"Quando foi chegando próximo do final do campeonato nós nos reunimos e fizemos até alguns planos para a Libertadores desse ano. O plano era o seguinte: reforçar o time que estava chegando às finais. Mas como não havia sido determinada a Libertadores, os clubes começaram a me procurar e recebi uma proposta do Cruzeiro. A primeira coisa que eu fiz foi procurá-lo para explicar a situação e o campeonato vinha seguindo, faltavam poucos jogos para terminar. A idéia era permanecer e recebi uma proposta e já tinha procurado ele umas duas vezes para falar do assunto. Ele ficou sabendo da proposta, da parte financeira, e o que eu coloquei para ele é que eu ficaria no Atlético recebendo de 30% a 40% menos do que eu receberia no Cruzeiro para disputar a Libertadores de América, que era o único campeonato que me interessava, e que eu achava que o Atlético tinha uma grande chance, dando continuidade àquele trabalho. Mas ele não tinha intenção alguma de permanecer comigo, essa é que era a grande verdade, se não ele teria ao menos…vou dizer uma coisa, chego a ficar à beira de considerá-lo um mal-agradecido, mal-agradecido porque, para qualquer presidente, um técnico pegar o time naquela situação e ter aquela campanha…pelo menos eu queria o reconhecimento do trabalho."
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Pergunta de um jornalista: ele colocou em dúvida o seu caráter. Cabe processo? Ele disse que você teve comportamento diferente após a reivindicação do aumento, começou a escalar o time diferente, colocou em dúvida a disputa do título.
"Eu não vi essa entrevista, não ouvi essa parte. Se isso aconteceu, pode acontecer um processo tranqüilamente, mas acho que não é o caso. Para vocês terem uma idéia, no jogo seguinte nós vencemos o São Caetano por 5 a 2. Nós só perdemos uma partida das oito finais. Para vocês terem uma idéia do desequilíbrio (do Petraglia). Nesse momento o Atlético sofre uma pressão muito grande e achava que ele tinha que ser um pouco mais homem para assumir as responsabilidades perante a torcida e sinceramente ser um pouco mais homem comigo, conversar diretamente se tivesse algum problema, porque até lá não, eram só elogios."
RENOVAÇÃO CONTRATUAL
"Eu não o procurei para pedir aumento de salário, eu procurei para decidir a minha situação, porque o campeonato estava terminando. Para vocês terem uma idéia, Coritiba e Paraná Clube, que tinham feito campanhas ruins no Campeonato, renovaram os contratos com os técnicos e eu queria saber para onde eu iria a partir de janeiro de 2005, só isso. "Olha, começaram a me procurar, a receber propostas, quero resolver a minha situação. Para ficar no Atlético ganho menos, 40% a menos do que ganho no Cruzeiro, a opção é sua, quero saber para onde eu vou." Isso aí não questiono muito porque quem sabe da situação financeira é ele, ele é que tem que saber se é muito ou se é pouco. Ele queria que eu permanecesse com o mesmo ordenado, essa era a proposta do Atlético. A partir daí eu estava liberado completamente para fazer qualquer negócio, então a situação foi essa. A partir daí você creditar uma perda de um título?"
DESABAFO
"Só tinha uma coisa que eu queria na minha vida. Eu queria vencer o título brasileiro para enfiar a arrogância dele na garganta dele. Só isso que eu queria, ganhar esse título porque ele não dá importância para as pessoas, para ele tudo é negócio. O dinheiro pra mim…quer dizer, eu já fui ganhando menos em muitos clubes, inclusive no Atlético."