Um ano depois
Então quer dizer que torcedor deve apoiar sempre, independente da situação? Apesar de ter o direito de reclamar quando acredita que algo está errado, deve, em nome do passado, omitir-se de qualquer manifestação que demonstre a sua indignação? Mesmo quando esse mesmo torcedor seja ultrajado por pessoas internas ao clube, deve, em nome de uma paixão, evitar protestar? Por mais que sinta que algo está errado, deve sempre silenciar?
Já que gostam de comparar o Atlético a times de primeiro mundo, vamos fazer mais uma comparação: o grande Manchester United está para ser comprado por um milionário americano, que poderá pagar mais de US$ 1,4 bilhões para tornar-se dono do time. O que os torcedores fazem? Protestam. Mas por que, já que isso pode significar investimentos e contratações? Porque eles temem que o novo comando, entre outras atitudes, aumente os preços dos ingressos. O próprio Alex Ferguson, técnico do Manchester há 18 anos, pensa em sair do time, dando como motivo a possibilidade de tornar-se o Manchester um negócio que simplesmente vise o lucro, deixando o futebol de lado. Serão esses fãs do Manchester, medíocres? Um dos técnicos mais famosos do mundo está errado ao criticar a suposta nova mentalidade, que viria a ser implantada no clube?
Os ingleses, não satisfeitos com a tendência que se instalou no Manchester, imediatamente iniciaram os protestos. Não querem perder um símbolo de tradição para o – cantado em prosa e verso – mundo globalizado do lucro. Estão eles errados? E no que diferem eles de nós, atleticanos?
Nós, brasileiros, achamos que a globalização é ótima, além de irreversível, sendo que, quem perder o bonde, estará para sempre relegado ao mundo dos perdedores, dos pobres. E é claro que isso acontece também nos clubes de futebol, o qual, segundo os novos gurus da administração aplicada aos esportes, devem, invariavelmente, aplicar as mais modernas técnicas de administração e de marketing, devem traçar planejamentos estratégicos financeiramente coesos e, logicamente, elevar o seu EBITDA…
Esquecem essas pessoas, que EBITDA, no futebol, parece ser o nome de algum jogador árabe, russo ou quem sabe ucraniano. Não importa para o torcedor, simplesmente apaixonado pelo seu time, cujo maior interesse é ter alegrias. Ou os ditos fãs apreciadores do Atlético querem que os atleticanos passem a saber analisar balanços?
Futebol pode ser um bom negócio quando soma essas modernas técnicas de administração E a paixão pelo time (talvez com um departamento de futebol) e pelos torcedores, uma das razões de ser do clube.
Mas voltando aos protestos locais, penso que tudo começou quando aplicaram conceitos econômicos e arrogância aos torcedores. Mais precisamente em março de 2004, quando quiseram aumentar os ingressos em 100%. A partir daquele momento, tudo conspirou para o que está ocorrendo agora. E isso iria ocorrer em 2004 mesmo, se o time não tivesse feito a campanha que fez no brasileirão. Quando a decisão de aumento de ingressos foi questionada na justiça, começaram as retaliações: proibiu-se a entrada dos instrumentos da bateria no estádio. Lembram-se disso? E a partir disso os torcedores insatisfeitos começaram a ser menosprezados pelos poderosos. A grande maioria se sentiu ferida e magoada com aquelas atitudes. Era só questão de tempo e alguns maus resultados para o inevitável acontecer: ação e reação.
Devemos calar em nome do que foi feito no passado? E o que a Fanáticos já fez pelo Atlético no passado, ou vão me dizer que tantos anos de dedicação não têm nenhum valor? O dito lucro que eles têm utilizando a paixão paixão essa que eles mesmos ajudaram a criar – terá capacidade de influir no EBITDA do Clube Atlético Paranaense, que possui o melhor CT do Brasil e o melhor campo da América Latina? Não poderia ser somente uma implicância? Ou então que passem a vender os materiais do clube por um valor mais acessível, que tenho certeza melhoraria o EBITDA.
O pior de tudo é que o cisma, na minha opinião, já ocorreu. Quanto mais demorar a revertê-lo, mais difícil será a tarefa (isso se ela ainda for possível…).Crises anteriores, como a ocorrida em 2002, foram muito mais insignificantes que essa. Coisa de criança, comparada ao que estamos vivendo. Torcida magoada e dividida de um lado, poderosos do time embirrados do outro. Estes nunca irão reconhecer que precisam da torcida, o seu isolamento impede uma visão mais clara; aqueles agora estão ocupados em se auto-vaiar, agindo, agora sim, de maneira autofágica.
Agora, aquele torcedor que pagou o ingresso, tem todo o direito de se manifestar e, sob hipótese nenhuma, deve ser chamado de medíocre por fãs apreciadores de memória volátil, incapazes de lembrar todo o benefício que a torcida, aquela que existia até março de 2004, fez pelo clube. Enfiar a cabeça num buraco, tal qual avestruz, e fingir que está tudo bem não irá fazer os problemas desaparecerem nem irá trazer a união entre todos: torcedores e comando. O protesto é uma forma de alerta que é impossível não reconhecer e até burrice desprezar.
Um gesto de concórdia entre torcedores e entre torcidas e comando, é agora mais que necessário: é inadiável. Resta saber quem será mais adulto para tomar a iniciativa.
Quem irá perder, caso isso não seja feito, não sou eu nem você, mas sim o símbolo Clube Atlético Paranaense.
p.s: tirar os que lá estão e colocar quem no lugar? Fazer protestos é uma coisa, fazer oposição, com propostas e planos, é outra completamente diferente…