21 maio 2005 - 1h40

O batuque está de volta

Exatos 382 dias depois, a bateria da torcida organizada do Atlético enfim pôde novamente ditar o ritmo de uma vitória atleticana no lugar que lhe é de costume: no setor inferior da Buenos Aires, fazendo sacudir o Caldeirão. Nesse período todo, uma série de manifestações marcaram a trajetória do "Libera a bateria!" na Baixada. Teve fanfarra no anel superior, bateria da Fanáticos que foi literalmente jogada para o andar inferior, manifesto, abaixo-assinado, campanhas. Todas mantidas sob o coro: "libera a bateria, deixa de bobagem, já virou, sacanagem!". Na última quinta-feira, o sonho de um milhão de atleticanos enfim foi realizado. O tratado de paz foi assinado, com a liberação da bateria no segundo tempo da importante partida contra o Cerro Porteño. Nas arquibancadas da Kyocera Arena, não teve atleticano que não ficou emocionado com a decisão. E se numa batalha sempre existe heróis, um dos heróis nesse "acordo de paz" entre diretoria e organizadas é Mário Celso Puglielli da Cunha. Fanático torcedor atleticano e conselheiro do clube, com influências tanto no lado da diretoria quanto dentro das organizadas, coube a ele desempenhar o papel de "bombeiro" para resolver a situação.

Em entrevista exclusiva à Furacao.com, Mário Celso revela como foi esse movimento de reconciliação entre diretoria e torcida, a importância do apoio dos torcedores e o pacto feito com os jogadores para liberar o material de percussão já no jogo contra o Cerro. O vereador também disse que não assumirá nenhum cargo no clube, estando disposto apenas a colaborar quando preciso. Confira os principais pontos da entrevista:

Como surgiu a idéia de tentar uma aproximação entre a diretoria e a torcida?
A minha proposta desde o início era de articular uma ação para novamente unir o clube com o torcedor. É uma unanimidade para todos que vivem o Atlético que o clube precisa dessa união toda para crescer. A minha função era quase de bombeiro, aparar as diferenças para manter um bom relacionamento do Atlético com a torcida e com a imprensa.

Você conversou com os líderes das torcidas organizadas por iniciativa própria ou a pedido da diretoria do clube?
Eu desenvolvi todo esse trabalho de reaproximação do clube com a torcida, lógico, com o aval da diretoria do Atlético. Mas tive carta branca para poder trabalhar. Eu fiz toda a negociação, com o acompanhamento da diretoria. Foram várias reuniões com a Torcida Organizada Os Fanáticos, com a Ultras, com o pessoal do ETA. Até que finalmente chegamos a um acordo, com todas as partes ficando muito satisfeitas com o resultado final

Por que a bateria só foi liberada no intervalo do jogo?
Antes do jogo, os atletas souberam que a liberação da bateria naquele jogo dependia deles. Fizemos um plano de divulgar no intervalo para motivar os jogadores. A condicional para ser liberada a bateria nesse jogo era de que o Atlético estivesse vencendo nos primeiros 45 minutos. Sabíamos do talento, queríamos a garra em campo. Então eles sabiam que só dependia deles para a festa ficar completa. Eles sabem que demonstrando raça, garra, amor eles vão ter sempre o apoio do torcedor atleticano. Para isso, precisavam mostrar competência e amor à camisa.

Qual foi o grande trunfo para celebrar o acordo entre as partes?
Havia posições que as diretorias, tanto do clube quanto da organizada, tinham. Foram posicionamentos que eles acharam certo tomar em determinado momento, seguindo suas próprias convicções do que é o melhor para o Atlético. Mas todos sabiam que para resolver o problema seria necessário abrir mão de algumas coisas. Agora, acho que não é mais o momento de se mexer nessas feridas. Houve boa vontade de todas as partes. E todas as atitudes que tomei tiveram o respaldo dos presidentes Mario Celso Petraglia e João Augusto Fleury da Rocha, que reconheceram a importância que o torcedor tem na vida do Atlético e acharam que havia a necessidade de o clube ter novamente o seu torcedor jogando junto, com sempre foi a trajetória do Atlético vencedor.

A bateria foi liberada para todo o estádio? Há previsão de liberação das faixas?
A bateria está liberada ali no local onde as organizadas ocupam seu espaço na Baixada. As faixas não estão liberadas. Ontem, por ser festa, na comemoração da liberação da bateria, eles puderam levar. Mas elas continuam proibidas.

CRONOLOGIA

02/05/2004 – No Atletiba válido pelo Campeonato Brasileiro, a diretoria atleticana se vê obrigada a baixar o preço dos ingressos por determinação da justiça, decidindo, então, proibir a entrada do material de percussão das torcidas organizadas.
30/05/2004 – Cedendo parcialmente aos apelos do torcedor, a diretoria decide liberar a bateria no anel superior da Arena a partir do jogo contra o Cruzeiro.
03/07/2004 – O aparente clima de paz chega ao fim. No jogo contra o Juventude, a torcida Os Fanáticos desce para o local que tradicionalmente ocupava, mesmo isso representando a ausência do material de percussão.
26/07/2004 – Integrantes do Fórum Furacao.com organizam um manifesto em favor da volta da bateria. "O apoio incondicional de nossa torcida, nosso gritos de guerra, a batida da nossa bateria e o entoar dos cantos sempre foram nosso diferencial. Sempre fomos temidos e admirados por adversários por este motivo. A bateria é fundamental neste quesito. Não podemos abrir mão desta ferramenta, que complementa a raça que orgulhamos ter", diz o documento.
28/07/2004 – Um grupo de torcedores atleticanos organiza um abaixo-assinado pedindo a liberação da bateria.
08/08/2004 – No jogo contra o Vasco, um grupo de pessoas sem vínculos com as torcidas organizadas decide "improvisar" uma bateria no anel superior.
26/09/2004 – Usando a criatividade, a torcida Os Fanáticos consegue promover a "volta" da bateria ao anel inferior da Buenos Aires na partida contra o Flamengo. Eles entram com os instrumentos no segundo andar e, lá de cima, jogam o material para os torcedores que estavam na parte de baixo. A ação acaba resultando na proibição definitiva da bateria em todo o estádio.
01/11/2005 – A torcida organizada Os Fanáticos entra com uma ação na justiça contra o Atlético, pedindo a liberação de faixas e da bateria perante a 8ª Vara Cível de Curitiba. A medida é negada pela justiça.
28/04/2005 – A diretoria do Atlético admite estudar a viabilidade de voltar a permitir a entrada dos instrumentos musicais na Arena.
19/05/2005 – Mais de um ano depois, enfim a bateria pode legalmente retornar ao setor Buenos Aires inferior da Baixada. No intervalo do jogo contra o cerro Porteño, o clube anuncia a decisão, fazendo o batuque retornar ao Caldeirão.



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