Um gesto
Ao menos agora eu me sinto dentro de um estádio de futebol. Um estádio, o meu estádio, as minhas cores, o meu amor. Um gesto, apenas, e recuperamos a identidade que parecia perdida para sempre. A importância do libera a bateria não está nos instrumentos em si, mas na simbologia do grito, na imagem da resistência. Por que não veio antes? Por que para nós tudo tem que ser assim, tão difícil? O que acontece conosco, nos detalhes aparentemente mais insignificantes, reflete, sempre, uma paixão sem limite. O curso da nossa história é diferente. Não segue uma linha reta, abomina a disciplina dos frios, estraçalha a lógica. Essa desordem que nos une enlouquece os cientistas e desafia os mercenários. Talvez precisássemos viver a crise atual. Com ela, preservaremos a essência de uma história marcada pelo sofrimento, colocaremos os pés no chão. Coisas da vida.
Estamos na lama, no fundo do poço. Nenhum ponto em cinco partidas. Lanternas. Irremediavelmente, os piores em campo. Mesmo assim, recuperamos a nacionalidade, a força da plebe por tanto tempo desprezada. Voltamos a ser um povo que se expressa nas arquibancadas, com ou sem cadeiras a nos atrapalhar. Lutar contra o rebaixamento passou a ser a razão de nossas vidas. É ruim, mas nada além disso nos restou no meio de tantos equívocos. De uma certa forma, estamos mais vivos do que em 2004. Seremos nós mesmos, onde quer que o destino nos jogue mesmo que seja na segunda divisão. Acima de tudo, somos atleticanos.