3 jun 2005 - 10h43

Para colunista da Folha, vitória atleticana foi épica

O colunista Mário Magalhães, da Folha de S. Paulo, enaltece a vitória atleticana em sua coluna de sexta-feira no periódico. O texto do colunista trata os jogadores atleticanos como heróis e afirma que fosse o Atlético de São Paulo ou Rio de Janeiro, a partida da última quarta-feira seria considerada épica. Além disso, recomendou que a Seleção Brasileira tenha a mesma garra atleticana nos jogos das Eliminatórias. Confira o texto na íntegra:

Vuelvo al Sur
por Mário Magalhães, da Folha de S. Paulo

Desculpem-me o divino Rogério com seus dois gols de falta, o São Paulo que fez o Tigres miar, o Fluminense do pianista Abel, o Paulista que, como nunca, foi galo no Mineirão. Desculpem, amigos, mas os heróis supremos da noite de anteontem foram os gigantes do Atlético-PR que bateram o Santos por 3 a 2.

Fosse uma equipe aqui de São Paulo ou do Rio, a façanha na Baixada seria narrada e celebrada como épico, um grande feito de grandes homens. O que dizer de um bando de jogadores, pois era isso que eram até outro dia, que se transformou em time e derrotou quem desfila o melhor futebol no Brasil?

Não custa lembrar: o Atlético jogou seis vezes no Brasileiro e perdeu todas. Nem um pontinho. Classificou-se na Libertadores, em Assunção, quando não merecia nem ir aos pênaltis. Na quarta, saiu atrás, teve o marcador de Robinho expulso na metade do primeiro tempo, ficou com dez e mesmo assim triunfou.

De tanto correr, seus atletas foram caindo, fatigados, com cãibras. Cocito, celebrizado como Coicito pela truculência, peleou limpo, com o coração. O goleiro Diego, com conjuntivite, viu mais que o santista Henao.

Comoveu a bravura do vice nacional, despedaçado por cartolas que, como o dono de um clube alagoano, tratam os contratados como caranguejos: colocam-nos para "engordar" até que valham bom preço. E dane-se o time.

Vivesse mais acima do Sul, o Atlético seria aclamado por seu feito. Para piorar, tem o técnico mais sem glamour que já existiu, o talentoso Antônio Lopes, ex-tira de cabelo implantado e enegrecido a pincel. Assumiu agora e já melhorou a equipe.

Os atleticanos encarnaram a valentia atávica de quem joga no Sul. Tão mal estava, o "Furacão" passou a ser tratado como "ventinho". Anteontem, lembrou a canção da dupla gaúcha que anunciava que a "brisa ligeira" iria virar "viração". Virou para cima do Santos.

O gremista Eduardo Bueno sintetiza esse espírito em livro sobre seu clube: "Futebol-arte é coisa de veado". A tirada é injusta com a região que revelou o gaúcho Ronaldinho e o catarinense Falcão. Porém Bueno, brincando, captou o fenômeno da garra e do destemor. Fez lembrar, e ele não vai gostar de saber disso, os cotovelos com que o inigualável chileno Figueroa limpava a área colorada.

O compositor pelotense Vitor Ramil identificou na música uma "estética do frio". Nada a ver com lugares-comuns sobre gaudérios. Essa estética se manifesta no futebol. Para os boleiros do Sul, vale o toque do cearense Belchior: "Por conta desse destino, um tango argentino me vai bem melhor que um blues".

No domingo, o Brasil pega o Paraguai no Beira-Rio. Depois, a Argentina no Monumental. Que a entrega atleticana ilumine a seleção na sua volta ao Sul. Em Porto Alegre e Buenos Aires, cidades onde cantam nos bares os versos de "Pino" Solanas musicados por Piazzola: "Soy del Sur, como los aires del bandoneon".

O colunista da Folha de S. Paulo certamente não redigiu seu texto com o objetivo de ganhar a simpatia dos atleticanos ou para receber elogios. De todo modo, é justo que receba as congratulações pelo brilhantismo da coluna. O e-mail de contato é o seguinte: mario.magalhaes@uol.com.br.



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…

Opinião

O tempo é o senhor da razão

A famosa frase dita e repetida inúmeras vezes pelo mandatário mor do Athletico, como que numa profecia, se torna realidade. Nada como o tempo para…