13 jun 2005 - 22h39

Um dia de rei

Cejas; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Clodoaldo e Nenê; Davi, Douglas, Pelé e Abel. Sem dúvidas, quem viu essa escalação em 28 de outubro de 1970 imaginaria que o Santos não teria muitas dificuldades para vencer o Atlético, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Afinal, a equipe paulista era um time recheado por atletas que haviam conquistado há pouco o tricampeonato mundial pela Seleção Brasileira, quase imbatível. Quase. Porque naquela noite de quarta-feira, o Rubro-negro aliou garra e aplicação tática para superar o todo-poderoso Santos, do Capitão do Tri Carlos Alberto, do eficiente Clodoaldo e do Rei Pelé. Os dias que antecederam ao confronto foram cercados de expectativa. Curitiba parou para ver o Rei do Futebol desfilar. O jogo, evidentemente, era rotulado como "Atlético contra Pelé e cia". O público no Estádio Belfort Duarte foi surpreendente, com uma arrecadação recorde até então de Cr$ 143.800,00. E se a maioria dos presentes foram ao estádio para ver Pelé, saíram de lá aplaudindo a atuação do goleiro Wanderley, que recebeu inclusive elogios do atacante santista após o jogo. Sim, Wanderley foi uma verdadeira muralha. O outro herói da noite foi Dorval, autor do único gol do jogo.

Raça e determinação

"A grande vitória – jogando com muita garra e com um sistema defensivo rígido, a representação do Atlético Paranaense conseguiu ontem à noite, no Belfort Duarte, uma grande vitória contra o Santos, pela contagem mínima". Foi dessa maneira que o jornal Gazeta do Povo resumiu o triunfo atleticano no dia seguinte à vitória do Rubro-negro por 1 a 0.

O nome do perigo, todos os atleticanos sabiam de cor. E para não deixar Pelé jogar, o Atlético entrou em campo com um bloqueio bem armado. Nair tinha a função de fazer o primeiro combate e Gibi ficava na sobra. Além da segurança na defesa, o Atlético contava com a boa sintonia entre a zaga e o meio-campo. Foi essa a fórmula encontrada pelo Furacão para conseguir a vitória.

O Atlético iniciou o jogo de forma decisiva. Logo no primeiro minuto de jogo, Liminha perdeu um gol na cara do goleiro Cejas. Aos 11 minutos, o Atlético conseguiu o que tanto queria: Dorval fez boa jogada pela ponta e tocou para Sicupira, na entrada da área. Ramos Delgado tentou cortar levantando demais o pé. O árbitro Arnaldo César Coelho marcou o jogo perigoso. Sérgio Lopes cobrou curto para Dorval, que atirou de primeira e rasteiro. A bola desviou na barreira e enganou o goleiro santista, entrando no canto esquerdo – 1 a 0 Atlético.

No restante da partida, o Atlético teve ainda outras quatro boas chances de marcar o segundo. No mais, o domínio da bola era totalmente do time visitante, que tentou de todas as maneiras chegar ao gol. O que o Santos não esperava era uma barreira humana tão eficiente. Quando não era a zaga que cortava, era o goleiro Wanderley que praticava excelentes defesas. Com tenacidade, eficiência e boa cadência, o Atlético não deu chances ao Santos sequer de conseguir o empate.

E quando o árbitro Arnaldo César Coelho apitou o fim do jogo, o que parecia difícil aconteceu. Sim, o Atlético venceu o todo-poderoso Santos de Pelé. E para chegar ao trunfo, o time Rubro-negro apostou na vontade, na determinação e aplicação tática de seus atletas. Com superação e encarando a mística do clube de que a camisa Rubro-negra só se veste por amor, Wanderley, Hermes, Gibi, Alfredo, Julio, Nair, Sérgio Lopes, Dorval, Sicupira, Liminha, Nelsinho, Peter e Toninho provaram, em campo, que a palavra impossível não existe no vocabulário atleticano.

É esse mesmo espírito de superação que todos os atleticanos esperam ver realidade nesta quarta-feira, quando mais uma vez Atlético e Santos fazem um jogo histórico, desta vez valendo vaga para as semifinais da Copa Libertadores da América.

Taça Roberto Gomes Pedrosa – (28/10/1970) – Atlético 1 x 0 Santos
L: Belfort Duarte; A: Arnaldo César Coelho; R: Cr$ 143.980,00; G: Dorval, aos 11 do 1°.

ATLÉTICO: Wanderley; Hermes, Gibi, Alfredo e Julio; Nair e Sérgio Lopes; Dorval, Sicupira, Liminha (Nelsinho) (Peter) e Toninho.

SANTOS: Cejas; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Clodoaldo (Lima) e Nenê; Davi, Douglas, Pelé e Abel.



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