Nós, eles e o monopólio da mídia nacional
Pensando bem, com toda a serenidade e frieza, a tendência é El Paranaense chegar à final da Libertadores. Não estou fazendo essa afirmação tão-somente sob os auspícios da minha irrefreável paixão de torcedor rubro-negro araucariano, mas sim pela análise pura e simples da importância, da qualidade e da tradição das duas escolas futebolísticas envolvidas nesse confronto (Paranaense x Chivas) em nível de futebol mundial através dos tempos, ou seja, a brasileira e a mexicana. Não podemos esquecer, em qualquer circunstância, que nessa disputa, em última análise, está o Brasil, de um lado e, do outro, o México. Nessa perspectiva maior, com todo o respeito ao representante do futebol mexicano, quem é o Brasil e quem é o México? Bem, para sintetizar a resposta, bastaria dizer que somos penta-campeões mundiais de futebol, enquanto que o México jamais conseguiu título algum. E mais, se, como dizem, Libertadores da América é torneio onde a garra, a luta e a coragem são absolutamente imprescindíveis para se alcançar o sucesso, essas são exatamente as características que, a par da incomparável excelência técnica dos jogadores brasileiros, presentemente mais avultam no perfil de nosso primeiro campeão nacional do terceiro milênio. É bem verdade que, para os interesses comerciais do centro monopolizador da mídia nacional, sem a mais mínima dúvida e por mais anti-patriótico e absurdo que possa parecer, será muito mais interessante que o nosso Hurricane seja alijado da disputa pelos mexicanos, isso porque um eventual êxito nosso no magno Torneio poderá implicar em possível futura participação maior do vermelho e preto paranaense no rateio dos investimentos publicitários de empresas brasileiras em esportes, até agora privilégio único dos denominados grandes clubes paulistas e fluminenses, principalmente o das respectivas capitais. Como todos sabemos e até compreendemos, pois, caso fosse aqui o centro sócio-econômico-cultural do país, certamente agiríamos da mesma forma-, paulistanos e cariocas, no que respeita a esse sobredito monopólio, não abrem mão de uma nesguinha sequer dele. Do ponto de vista exclusivamente comercial, como é inevitável concluir, portanto, para eles foi simplesmente catastrófica a desclassificação do Leão do Mar pelo Furacão Paranaense; a Rede Globo de Televisão que o diga (ainda que jamais vá dizer ou admitir aberta e publicamente). Essa verdadeira autofagia brasileira, não tenham pois, quaisquer dúvidas, deriva diretamente desses interesses mercantilistas paulistano e carioca e não por pura e simples antipatia deles em relação a nós. Como já dizia o velho Platão, o ouro e a virtude são como dois pesos colocados nos pratos de uma mesma balança, de maneira que um não pode subir sem que necessariamente o outro desça. A verdade é uma só: se eu tenho a força e o poder, eu vou é tratar de promover e enaltecer as coisas que são minhas, não as dos vizinhos, por mais próximos que estejam. A maior prova disso que estou afirmando, com todo o respeito, é o fato de serem hoje o Flamengo e o Corinthians os dois clubes de maior torcida no Brasil. Não é difícil lembrar que, até 4 ou 5 anos atrás, somente eram transmitidos aos sábados, domingos e quartas-feiras jogos de futebol que envolviam, principalmente, esses dois clubes. Ora, assim sendo, parece evidente que, por exemplo, lá no nosso longínquo Piauí, entre outros tantos Estados brasileiros, todos fossem, por assim dizer, obrigados a assistir a esses jogos. Como os recursos midiáticos da televisão são fabulosos e realmente fazem a cabeça da maior parcela da população, não é difícil descobrir o porquê de um incontável contingente de adultos brasileiros de hoje meninos e meninas de anos atrás- ser e se dizer torcedor ferrenho de Flamengo e/ou Corinthians, mesmo nunca tendo pisado no Rio de Janeiro ou em São Paulo (e o pior é que eles pensam que essa predileção nasceu-lhes expontaneamente na mente e no coração; sequer possuem noção da intensidade do massacre sub-liminar a que foram submetidos em seus inconscientes). Está tudo muito certo e tal, mas, agora, caros irmãos paulistanos e cariocas, nessa disputa entre México (Chivas) e Brasil (Paranaense), que tal sermos todos brasileiros? Só dessa vez, combinado?