Delegado interrogado
Antonio Lopes dos Santos assumiu o comando técnico do Atlético em um momento extremamente delicado. As demissões de Casemiro Mior e de Edinho Nazereth em pouco mais de quatro meses tornaram o cargo de treinador do Atlético uma profissão de alto risco. Entendendo que o clube precisava de experiência, a diretoria rubro-negra anunciou a contratação do veterano Lopes, com 25 anos de carreira. A notícia caiu como uma bomba nas rodas de conversas atleticanas. Menos de 20 dias depois de ter deixado o Coritiba, Antonio Lopes assumia o comando do Atlético com missões das mais complicadas: classificar o time na Libertadores, iniciar a recuperação no Campeonato Brasileiro e dar estabilidade à equipe. Nesta quinta-feira, o técnico completa exatos três meses de trabalho no CT do Caju. Se as metas ainda não foram completamente atingidas, ao menos a resistência da torcida Lopes conseguiu vencer. Respeitado pelo trabalho árduo e pelos resultados alcançados, Antonio Lopes pretende realizar uma campanha bem melhor no segundo turno do Brasileiro e já faz planos para 2006. Em um intervalo entre um jogo e outro, o técnico conversou com a Furacao.com e concedeu ao site um entrevista exclusiva, organizada sob quatro temas (Atlético, profissional, pessoal e curiosidades) e publicada abaixo:
A entrevista foi realizada no final do mês de julho em um hotel de Curitiba. Participaram como entrevistadores os colaboradores da Furacao.com Eduardo Aguiar, Julia Abdul-Hak, Marçal Justen Neto, Marcel Costa, Nadja Mauad, Ricardo Campelo e Sérgio Tavares Filho e o jornalista convidado Alexandre Teixeira.
ATLÉTICO
Quando seu nome foi anunciado como novo técnico do Atlético, a torcida imediatamente o rejeitou. O senhor já esperava por isso?
É lógico que eu já sabia que ia acontecer certa rejeição por parte da torcida, pois o torcedor é passional. Eu estava do lado de lá (Coritiba) e tinha de ver o lado da equipe que eu estava dirigindo. O Petraglia estava desesperado porque as coisas não estavam bem e eu sabia que poderia ajudar a consertar o Atlético e quando o time começasse a subir de produção, eu seria bem recebido pela torcida. Todos iam mudar a visão que tinham no início, quando da minha contratação. Eu também sabia que a torcida gostava de mim, pelo fato de ter feito um bom trabalho aqui anteriormente. Eu ajudei a preparar a equipe para 2001, que foi campeã brasileira, e até recebi uma faixa do título, que está na minha sala de troféus, no Rio. Agora a torcida está vendo o meu espírito guerreiro, que eu levo no sangue a equipe que estou dirigindo. A torcida está satisfeita e eu estou satisfeito também.
E qual foi a receita para recuperar essa equipe que estava muito mal técnica e psicologicamente?
É muito difícil uma equipe disputar duas competições simultâneas. O Campeonato Estadual e a Libertadores são competições que iniciam quando ainda se está formando o time, no começo do ano. O Atlético desmanchou o time todo no final do ano passado e teve de montar um time rapidamente para entrar nessas duas competições. O clube não teve a felicidade de fazer as contratações acertadas. Os meus colegas antecessores (Casemiro Mior e Edinho) não tiveram o tempo adequado, não foram felizes porque não conseguiram montar a equipe, dar um conjunto. A equipe ainda conseguiu ganhar o Estadual, mas depois veio a Libertadores e o Campeonato Brasileiro, que, com jogos às quartas e domingos, tornou as coisas piores. A equipe fez uma pré-temporada, mas parece que não conseguiu uma base boa e os colegas anteriores não tiveram tempo para condicionar a equipe na parte física. Foi isso que sentimos. Pegamos uma equipe totalmente sem condições na parte física, muito mal fisicamente. Não por erro dos rapazes das comissões anteriores, mas por falta de tempo. Aliado a isso teve o problema de não se ter uma base de equipe. Quando nós chegamos, a nossa sorte foi que parou o Brasileiro por causa da Seleção e aí nós tivemos aqueles onze dias em que trancamos os caras e a comissão se reuniu, fez os planejamentos, demos mais intensidade aos treinamentos físicos. Eu coloquei para eles que não adiantava nada a gente trabalhar tecnicamente nem taticamente, tínhamos que trabalhar fisicamente para dar uma condição boa à equipe para eles poderem fazer o que queríamos com relação à parte tática. Foi 80% de trabalho físico e 20% só de trabalho tático pra ir começando a montar a equipe. Isso foi a nossa salvação. A equipe fez um trabalho excelente, ganhou uma condição física relativamente boa e começou a subir de produção. Então, os resultados começaram a aparecer, mesmo assim com muita dificuldade porque tínhamos que trabalhar as duas competições e estávamos subindo na Libertadores. Quando eu entrei, o time vinha de cinco derrotas no Brasileiro e ficou difícil recuperar. Tínhamos que dar mais atenção à Libertadores porque à medida que ia passando o tempo nós sentíamos que podíamos ganhar.
O senhor achava que a equipe podia ser campeã da Libertadores?
Eu achava que podia ser campeã e uma das coisas que pesou muito foi não termos jogado na Baixada. Se a gente jogasse na Baixada teríamos ganhado o jogo. Não vou dizer que iríamos ganhar de goleada, mas iríamos ganhar porque dificilmente o Atlético perde na Baixada. Fomos para o segundo jogo com um empate, tudo igual e eles tiveram uma tranqüilidade imensa por jogar em casa. Foi como fizemos com o Santos. Ganhamos e o Santos entrou num desespero imenso porque tinha que ganhar da gente. Além disso, tivemos alguns jogadores que nunca tinham participado de uma decisão e o time deles era muito mais maduro. Eles tinham três jogadores que foram pentacampeões do mundo comigo, o Júnior, o Rogério e o Luizão, e isso pesa numa decisão. Mas eu acho que o que pesou mais foi o problema de não termos jogado aqui. Se tivéssemos jogado aqui, iríamos ganhar.
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O grupo ficou abalado psicologicamente com a mudança do local do primeiro jogo?
Não. Antes de a gente jogar no Beira-Rio, não. A equipe foi relativamente bem e podíamos ter ganhado lá. Acho que o grupo não se abalou pela mudança do local do jogo. Depois da igualdade no primeiro jogo e jogando fora de casa contra eles, aí sim acho que pesou.
Os últimos jogadores contratados pelo Atlético foram indicados por você?
Não. O Petraglia me perguntou sobre o Adriano (zagueiro) logo que eu cheguei. Eu já tinha o visto jogar e liguei para o Procópio (Cardoso, técnico de futebol), que o treinou e deu as melhores recomendações. Para o ataque, eu sugeri alguns, como o Marcel, ex-Coritiba, mas não deu.
Esse time do Atlético ainda precisa de reforços para o Brasileiro?
Uma das coisas que eu queria era um outro atacante de referência. Tínhamos só o Aloísio e todas as vezes que eu não podia contar com ele eu estava "frito" porque acho que é preciso trabalhar sempre com uma referência na área. Trouxeram o Finazzi, que é matador e sabe jogar perto da área, sabe fazer gol. Precisamos de um lateral-esquerdo, pois o Marín ainda não se adaptou, é um jogador que vai levar um tempo para se adaptar. Eu falei no Fabiano, mas o Palmeiras não quis fazer negócio.
Então haverá novas contratações?
Tem chances sim de contratar mais.
Além de reforços, o Atlético possui muitos atletas no plantel que não estão jogando. Por que razão não há esse aproveitamento de alguns jogadores?
Eu fiz uma avaliação e montamos um segundo grupo. É humanamente impossível trabalhar com 48 jogadores porque não vai se produzir nada. Não dá para você ministrar um treinamento técnico para um grupo de 48 porque hoje o treinamento é quase individual. Então, você dá exercício para um e tem mais 40 para passar o mesmo exercício. Dividimos os grupos e falei para eles que ainda estou conhecendo o grupo todo. Há muitos jogadores que eu não tinha nem ouvido falar, mas vou observar os dois grupos.
Isso significa que um atleta que está no grupo de baixo pode ser "promovido"?
Sim, com o Caetano aconteceu isso. Eu o trouxe para o principal. O mesmo aconteceu com o Dennys Richard, que depois foi negociado. E eu continuo observando os outros. Eu quero ver esse tal de Netinho, que tem um bom pé esquerdo. Comigo é o seguinte: passou o bonde, tem que pegar carona. Se não pegar carona, fica a pé e está fora. Todo mundo tem que estar bem preparado para o caso de aparecer a oportunidade. Futebol é assim: tem que manter o espírito de competição. Eles sabem que comigo tem que correr, senão eu tiro do time.
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E as categorias de base, o senhor costuma acompanhar para descobrir algum novo talento?
Eu vejo sim. A gente procura sempre fazer um coletivo ou com os juniores ou com o grupo dois. Com pouco tempo de clube, eu realmente não conheço todos os jogadores, mas lógico que eu peço informação principalmente ao Vinícius (Eutrópio, ex-coordenador das categorias de base) e ao Beto (Médice, ex-auxiliar-técnico dos juniores), que foram da base e hoje me auxiliam. Esses dias eu perguntei ao Beto se não tinha um zagueiro. Ele falou do Douglas e eu o trouxe para treinar com a gente. O Marcus Winícius foi o Vinícius que indicou e eu mandei chamá-lo. O Ricardinho, o Sammir, são todas boas indicações. Mas você tem de ir devagar para não queimar etapas. Esses dias o Branco (coordenador das categorias de base da CBF) esteve aqui em Curitiba e falou muito bem do Sammir.
Esse time que o senhor está montando agora está sendo preparado já para o próximo ano?
Sim. E eu já falei para o Petraglia: a gente não pode vender uma porrada de jogador agora no final do ano e começar do zero outra vez. Não há planejamento que resista.
Qual é a meta do Atlético para este Campeonato Brasileiro?
A meta é a que a gente já traçou quando chegou. Contando do Atletiba eram 10 jogos para sairmos da zona de rebaixamento, depois mais 10 jogos para subir para décimo e os últimos 10 jogos para pelo menos disputar uma vaga na Libertadores. Mas no futebol tudo pode acontecer. A meta inicial é essa. Não adianta estar sufocado e pensar em ser campeão.
Dá para perceber que a torcida do Atlético é mais fanática ou todas as torcidas são mais ou menos iguais?
Não, dá para perceber a diferença. A torcida do Atlético é uma torcida boa porque não avacalha com o time, ela espera. O que eu sinto é que a torcida apóia muito durante o transcorrer de uma partida, coisa que não acontece com as outras. O time está mal e ela apóia. A torcida do Flamengo é fanática, mas tomou um gol, ela vira contra. A torcida do Coritiba é a mesma coisa: o time começa a ir mal e ela já esculacha. Isso a torcida do Atlético tem de bom porque ajuda o time a sair do buraco. A torcida ajuda a ganhar jogo porque ela inflama o jogador.
Alguns jogadores sentem muito a cobrança da torcida. É o caso do Fabrício, que não conseguia se destacar no Atlético, mas após a sua chegada ganhou a confiança do torcedor. O que mudou?
Eu sempre cobrei muito o Fabrício. Ele é um baita jogador, tem boa qualidade técnica, chuta bem, passa bem a bola, protege bem, mas era muito devagar dentro de campo. Falei que se ele mudasse isso e começasse a marcar e voltar, ele ia ficar de bem com a torcida mesmo errando, passando mal a bola. Se ele perdesse a bola e desse um carrinho para recuperar, a torcida iria gostar e ficar ao lado dele e era isso que estava faltando a ele. É o que eu passo para eles: tem que ganhar a torcida, e para ganhar a torcida tem que dar carrinho, chegar junto. A diferença do Fabrício é essa. Eu sempre acompanhei o Fabrício e pedia a contratação dele nos clubes em que eu estava, até no Coritiba. Falei que ele joga muito, mas não adianta querer jogar só com a bola no pé, a torcida fica "pê da vida". Depois eu dei um apoio para ele quando ele perdeu aquele pênalti contra o São Paulo, na final da Libertadores. No intervalo eu já comecei a fazer aquele trabalho de recuperação, deixando ele a vontade. Depois ele fez o gol no jogo contra o Atlético Mineiro e na reza final ele agradeceu a força depois de ter perdido o pênalti. Funcionou a minha psicologia de cais de porto.
PROFISSIONAL
Qual o sistema tático que lhe agrada mais?
Eu não gosto muito do 3-5-2 porque a gente perde o meio-campo. Dizem três zagueiros, cinco jogadores no meio-campo e dois atacantes, mas isso não é verdadeiro. Você tem dois laterais, pois os brasileiros não sabem jogar como alas. A maioria joga com os alas abertos e funcionam como laterais e aí há uma facilidade daqueles que jogam com quatro ganhar o meio-campo e ali se realiza tudo. Então, eu não sou favorável a jogar com três zagueiros fixos. O que eu faço, e fizemos até na Seleção Brasileira e deu muito certo, é jogar com um falso terceiro zagueiro, quando há uma necessidade. Isso depende muito do time adversário também. O que eu faço muito é estudar o adversário, a maneira de jogar do adversário. Se você vai enfrentar uma equipe que joga com um atacante só, você não vai ficar com três zagueiros, dois sobrando, que você acaba perdendo o meio-campo.
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E na parte ofensiva, quais são as variações táticas? Atualmente, Aloísio e Lima são os titulares, mas Dagoberto, Denis Marques e Finazzi lutam por posições. Uma das opções seria recuar o Lima para o meio-campo?
A posição dele é segundo atacante. Ele não sabe jogar de costas para o gol, então não pode jogar de referência. Até em um desespero dá para colocar ele nessa posição, mas a característica dele requer que ele seja colocado como um segundo atacante. Mas ele também pode jogar como meia-atacante, ele tem cacoete de voltar para pelo menos pegar um volante. Você tem de procurar encaixar os melhores. É o tal negócio: o Dagoberto tem que jogar, o Aloísio tem que jogar, o Lima tem que jogar. Então, eu tenho que arrumar um jeito de encaixar os três. E ainda tem o Denis…
Qual sua opinião sobre a nova geração de técnicos brasileiros?
É difícil de avaliar porque eu não vejo como eles trabalham. Esses recursos de tecnologia têm transformado o futebol e quem não souber utilizá-los, fica ultrapassado. Pelo que eu ouço falar, o PC Gusmão está bem porque aproveita tudo isso, está trabalhando dentro daquilo que o futebol moderno requer. Quanto aos ex-jogadores que viram treinadores, eu acho que precisam passar por uma faculdade de Educação Física, fazer o curso de técnica numa faculdade, sem ser aqueles cursinhos mixurucas. Senão, eu não acredito muito. Acredito nestes que são formados e que vêm com outra cabeça.
Dentro das várias atribuições de um técnico, qual é a que o senhor mais gosta?
Eu gosto muito deste trabalho motivacional, acho muito importante. Não estou falando do trabalho de psicologia. Este eu acho bom para você recuperar jogador, esse trabalho individual, de divã. Eu gosto da parte de motivação, para todo o grupo. Recentemente, eu trouxe um profissional de motivação muito bom, ele fez um trabalho espetacular, mas nós fizemos também. O Vinícius e o Oscar me ajudaram muito com o trabalho de motivação. Na inter-temporada nós trouxemos as famílias dos jogadores, filhos, esposas, mães. Pegamos trechos dessa reunião e passamos para os jogadores. Isso foi feito antes dos jogos contra o Santos, Chivas, São Paulo. Essas declarações também ajudaram muito, os jogadores ficam loucos quando mexem com o brio deles.
PESSOAL
O senhor tem fama de disciplinador, mas parece que não gosta da alcunha de delegado. Por que isso?
Sou aposentado, então não adianta mais. As armas estão todas enferrujadas lá em casa, já nem uso mais.
Mas não tem um pouco de delegado no treinador?
Todo mundo pensa isso. Meu comportamento é mais em razão da minha formação familiar. Sou filho de portugueses e tive uma criação muito rígida, muito forte com tudo, meu pai se metia em tudo. Só passei a chegar depois de 10 horas da noite em casa quando completei 18 anos e ganhei a chave. Ele estava sempre em cima. Eu tinha que fazer barba todos os dias e andar com o sapato engraxado. Foi uma formação muito rígida. Eu fui ser policial por acaso e não por vocação. Eu sou filho de gente pobre, o meu pai era motorista de praça. Comecei a jogar com futebol aos 13, no infantil do Olaria. Fui infantil, infanto-juvenil, juvenil, profissional e aí passei em Educação Física. Como eu não era titular do profissional, meu pai falou para eu optar pela faculdade. Então eu deixei o futebol e comecei a trabalhar à tarde para sustentar os estudos que eram de manhã. Comecei a trabalhar como vendedor, junto com o meu irmão. Um dia fui visitar um cliente e vi edital de concurso para detetive. Quando eu vi o salário, cresceu o olho. Era o triplo do que eu ganhava como vendedor. Fiz o concurso para detetive e entrei para a polícia com 19 anos.
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Hoje o senhor seguiria carreira de policial no Rio de Janeiro?
Seguiria sim, eu gostei. Na minha época já tinha violência, eu me aposentei em 1990. Entrei para ser detetive e continuei fazendo educação física, fiz técnica de futebol e quando terminei resolvi que não ia morrer como detetive, queria ser delegado. Fiz vestibular para Direito, passei e fiquei um monte de tempo fora do futebol, só jogava na segunda divisão. Treinava à noite. Aí terminei Direito e passei no concurso para delegado. Em 1974, um amigo que era da polícia e preparador físico do Vasco sabia que eu era assessor jurídico do Detran e me procurou para liberar o carro do Andrada, goleiro do Vasco. Ele me falou então que precisava de um preparador físico no Vasco e me convidou. Foi aí que entrei para o futebol. Fiquei nas duas, fui delegado e técnico. Todo mundo me dava colher de chá, já era delegado titular e eu fazia meu horário de acordo com o futebol. Trabalhava de madrugada para compensar.
Pela sua formação familiar, o senhor acabou sendo um pai durão?
A minha rigidez foi muito mais em razão do meu pai, mas não é tanto. Digo para eles que dou um tapa para quem merece um tapa e um beijo para quem merece um beijo. Está direitinho, ganha um beijinho; não está, ganha um tapa.
O senhor e o seu filho conversam muito sobre seus clubes, tiram sarro um do outro (Nota da Furacao.com: Antonio Lopes Júnior é auxiliar-técnico do Coritiba)?
Não. Eu o respeitei, tanto que nós estávamos sozinhos aqui, mas ele mora num lado e eu moro no outro.
Depois da discussão que o senhor teve com o Cuca não ficou um clima chato para o seu filho no Coritiba?
Não ficou porque o presidente (Giovani Gionédis) gosta muito dele. Eu perguntei como o Cuca estava o tratando e ele disse que estava tudo bem. Aquele episódio foi desespero do Cuca. Os caras (torcedores do Coritiba) jogaram mijo e cerveja em mim já quando eu entrei. Aí eu fiz sinal de 1 a 0 para eles. O Cuca não tinha nada que se meter. Primeiro que ele não queria perder para mim porque eu tinha acabado de sair de lá, depois ele ficou louco porque todos os jogadores vieram falar comigo e ele não deve ter gostado. Aí ele achava que ia ganhar porque a gente estava com o time reserva. Perdeu e veio reclamar que eu não podia fazer aquilo com uma torcida que tanto me prestigiou. Mas eles me sacanearam muito. Tinha uma facção da torcida lá que queria a minha cabeça de qualquer maneira por causa de um problema político lá dentro. Foi mais por problema político que começaram a me atacar. Queriam que me tirassem e o Giovani Gionédis me dava força. Então queriam me tirar para quebrar um pouco a crista do presidente.
A gente percebe que você é bastante supersticioso. Em que você acredita?
Eu tenho as medalhinhas, crucifixo. É de religião, sou católico como todo português e é nisso que eu me pego. Tem também um Santo Antonio, de quem eu sou devoto, porque eu sou Antonio e porque Antonio também foi um grande amigo de Jesus Cristo. No futebol, você tem que tirar partido de tudo, dos pequenos detalhes.
E a história de usar sempre a mesma camisa, como surgiu?
Comecei a usar a mesma camisa em 97, quando dirigi o Vasco. Nós perdemos os três primeiros jogos do campeonato. Aí veio o jogo contra o São Paulo, que naquela época tinha um timaço. Ganhamos de 2 a 0 e demos um chocolate. Eu fui fazer aquele jogo com uma camisa verde e aí não tirei mais ela. Depois, passei a usar a cor dos clubes em que eu estava e também deu sorte. Essa vermelha que uso agora foi a minha mulher que me deu. Na primeira vez que usei, ganhamos do Santos. Ela até já descosturou, mas minha mulher levou para arrumar.
Falando na sua esposa, Dona Elza, é verdade que ela lhe ajuda e acompanha os jogos?
Ela é fabulosa. Ela corta os jornais todos os dias, pega as notícias dos adversários e ouve rádio, vê televisão, grava tudo. Esse trabalho o próprio Atlético faz através do Vinícius (Eutrópio) e do Oscar (Erichsen, diretor científico), que é muito bom. Mesmo assim, a minha mulher continua fazendo.
Ela gosta mais do Atlético ou do Coritiba?
Ela é do Antonio Lopes Futebol Clube. Ela é parceira. Eu a criei (risos), pois comecei a namorá-la novinha. Estamos juntos há 45 anos.
O senhor pensa em retornar à Seleção Brasileira?
É um sonho. Se eu for chamado. logicamente que vou querer, mas não vou querer ser mais coordenador. Quero ser treinador, senão não me interessa.
Até quando o senhor pretende seguir a carreira como técnico?
Enquanto eu achar que tenho força para dar treino dentro de campo, eu quero ser treinador. Quando eu sentir que já não agüento mais dar treino, que é o que eu gosto, que estou cansado, não estou com saco mais de dar um treino tático, um treino técnico aí sim posso ser coordenador.
CURIOSIDADES
O senhor ajudou na convocação do Kleberson para a Seleção Brasileira?
O Kleberson só foi convocado por causa de mim. Ninguém conhecia o Kleberson. Falei com o Felipe (Luiz Felipe Scolari, então técnico da Seleção) e ele mandou o Murtosa (Flávio Murtosa, auxiliar-técnico) ver um jogo aqui na Arena e nesse jogo ele não foi bem. Mas eu falei que podia convocar que era bom jogador, fazia muito bem a função de segundo volante.
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Existe um preconceito contra os times de fora de Rio e São Paulo para a convocação?
Não, pelo menos na nossa época não. A equipe de trabalho queria sempre convocar os melhores dentro da nossa visão.
Como é trabalhar com o polêmico dirigente Eurico Miranda?
O Eurico é excepcional para a comissão técnica. Ele procura oferecer todas as condições de trabalho, é um cara inteligente, um cara que está à frente dos outros dirigentes. Ele estuda regulamento "pra burro" para poder tirar partido durante as competições. Em muitos títulos que eu colaborei no Vasco, ele ajudou muito a gente. Ele dá apoio ao treinador. Nunca ouvi ninguém reclamando, para mim é um tremendo dirigente.
E o Mário Celso Petraglia?
O Mário é mais ou menos igual ao Eurico, só que não é espalhafatoso. Ele é águia também, é espertão, está no futebol há um tempão. Trabalha bem para a comissão técnica, ele está sempre oferecendo determinadas coisas, está sempre pronto a atender. Eu acho que isso é que é importante para o dirigente fazer: procurar oferecer todas as condições e boas para que a comissão técnica possa desenvolver um trabalho. Precisa ter dirigentes inteligentes também porque às vezes a gente pega dirigentes inexperientes que não te ajudam porcaria nenhuma.