29 ago 2005 - 22h04

1970, o Título da Raça: Heriberto Ivan Machado

Se o Atlético é hoje um dos maiores clubes do Brasil deve muito disso ao que foi construído ao longo de seus 80 anos de história. Se hoje a torcida tem a oportunidade de vivenciar um momento histórico fantástico, há algumas décadas a situação era bem diferente. Mais precisamente nos anos 60, quando o clube atravessou um de seus momentos mais complicados. Depois de doze anos sem conquistar um título, o Atlético foi campeão paranaense de 1970 e, com uma conquista histórica, proporcionou uma das maiores festas de que se tem notícia na história do futebol paranaense.

Para comemorar os 35 anos da conquista do Estadual de 70, os sites Furacao.com e RubroNegro.Net publicarão uma série de entrevistas com personalidades atleticanas. Ex-jogadores, dirigentes, técnicos e apaixonados atleticanos revelarão detalhes daquela conquista épica.

A série se inicia hoje com a publicação da entrevista com o professor Heriberto Ivan Machado, conhecedor profundo da história do Clube Atlético Paranaense e um dos autores do livro Atlético, a Paixão de um Povo. Confira as lembranças do Professor Heriberto sobre aquele título conquistado na raça:

Neste mês de setembro, comemoram-se 35 anos da conquista do título paranaense de 1970 pelo Clube Atlético Paranaense. Qual a importância daquele título no contexto em que foi conquistado?
Tendo em vista que há onze anos o Atlético não conquistava um título, o campeonato de 1970 foi uma conquista extraordinária. O Atlético voltava a dar uma alegria maior à sua torcida – diga-se a bem da verdade – à medida que o tempo passava mais e mais aumentava a torcida rubro-negra. Extravasar o sentimento com a conquista de um título, desbancando os coxas, foi algo fenomenal na história do clube.

Os mais novos talvez não saibam, mas o Atlético enfrentava graves dificuldades financeiras naquele início dos anos 70. Você lembra disso e de algum episódio que retrate a situação precária em que o clube se encontrava?
De há muito o Atlético vivia com sérios problemas financeiros. Isso desde o início dos anos 60. Presidentes foram eleitos e renunciaram logo em seguida, devido a falta de dinheiro. Joffre Cabral e Silva fez a revolução de 1968 – não pôde dar ao clube a estabilidade que ele imaginava – em razão da sua morte seis meses depois de assumir. Se vivo estivesse, Joffre teria feito do Atlético um dos maiores clubes do Brasil naquela época. Assim, o coronel Passerino Moura teve que administrar um clube falido. Através do seu amor ao Atlético (era médico do clube desde os anos 60) e, no peito e na raça, o Passerino levou o clube ao título. Sujeito peitudo, sem dúvida alguma, e, também, muito competente.

Como foi a comemoração do título no jogo em Paranaguá e depois, em Curitiba? Recorda-se de algum detalhe da festa da torcida e dos jogadores?
A torcida rubro-negra que foi a Paranaguá começou a festa lá na cidade litorânea e, em carreata, acompanhando o ônibus dos jogadores, veio comemorando. Foi uma fuzarca dananda em todo o trajeto. Quando chegaram na Boca Maldita, o foguetório foi sensacional. Os jogadores eram carregados nos ombros para lá e pra cá. A turma cantou, dançou e bebeu até o amanhecer. Eu saí direto da Boca para o trabalho. Foi difícil ficar de olho aberto.

Qual o momento mais marcante da trajetória do Atlético no Campeonato Paranaense de 1970?
A vitória no Atletiba, por 1 a 0, gol de Zé Leite, foi o estopim para acender a confiança no torcedor rubro-negro. A Baixada não comportava todos aqueles 15 mil e tantos torcedores presentes. Foi demais. E depois a vitória em Paranaguá – 4 a 1 no Seleto.

Naquela época, falava-se muito em uma possibilidade de fusão do Atlético com algum outro clube de Curitiba em função de dificuldades econômicas. Isso existiu mesmo ou é mais um boato?
Não havia história de fusão, não. Era fofoca de algum coxa ali na boca Maldita. Não passou disso. Conversa fiada. Como sempre.

Qual a importância daquele título para o torcedor atleticano?
O título de 1970 resgatou a auto-estima do torcedor e a confiança nos novos tempos traduzidos pelo entusiasmo do Joffre. Nós, torcedores, acreditávamos que o Atlético seria grande no cenário nacional – era só lembrar do grande Torneio Robertão de 1968. É bem verdade que sabíamos da fragilidade da nossa equipe. Mas o Sicupira era o maior artilheiro do Brasil para nós. Júlio era o Rei da Raça. Vanderlei, o melhor goleiro do Brasil. Djalma Santos, do alto de seus 41 anos, era o melhor lateral-direito do mundo. A gente acreditava em tudo isso. Formidável. É só o torcedor atleticano que tem essa mentalidade. Os "outros" não são de nada!



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