1970, o Título da Raça: Lauro Rego Barros
Se o Atlético é hoje um dos maiores clubes do Brasil deve muito disso ao que foi construído ao longo de seus 80 anos de história. Se hoje a torcida tem a oportunidade de vivenciar um momento histórico fantástico, há algumas décadas a situação era bem diferente. Mais precisamente nos anos 60, quando o clube atravessou um de seus momentos mais complicados. Depois de doze anos sem conquistar um título, o Atlético foi campeão paranaense de 1970 e, com uma conquista histórica, proporcionou uma das maiores festas de que se tem notícia na história do futebol paranaense.
Para comemorar os 35 anos da conquista do Estadual de 70, os sites Furacao.com e RubroNegro.Net publicarão uma série de entrevistas com personalidades atleticanas. Ex-jogadores, dirigentes, técnicos e apaixonados atleticanos revelarão detalhes daquela conquista épica.
A décima primeira entrevista da série é com o ex-presidente Lauro Rego Barros. Na juventude, Lauro foi goleiro do Atlético e disputou o Campeonato Paranaense de 1939. Formado em Direito, foi Secretário de Educação do Estado do Paraná e integrante do Tribunal de Contas. Em 1970, era vice-presidente do Atlético, atuando sempre ao lado do presidente Rubens Passerino Moura. Com a saída de Passerino, assumiu a presidência em 1972. Confira as recordações de Lauro Rego Barros sobre a conquista de 1970:
Em setembro, comemoram-se 35 anos da conquista do título paranaense de 1970 pelo Clube Atlético Paranaense. Qual a importância daquele título no contexto em que foi conquistado?
Na época o Atlético passava uma fase bastante crítica, com sérios problemas financeiros. Não tínhamos o número de jogadores necessários para compor a equipe. Felizmente os atletas que faziam parte do nosso plantel eram de inestimável valor moral. Lutaram pela nossas cores e, contra tudo e contra todos, mas com o apoio integral da nossa torcida, fizeram uma campanha de superação e muita raça, chegando ao título de 1970.
Os mais novos talvez não saibam, mas o Atlético enfrentava graves dificuldades financeiras naquele início dos anos 70. Você lembra disso e de algum episódio que retrate a situação precária em que o clube se encontrava?
Tínhamos dificuldades para cumprir com os compromissos junto ao plantel. Buscávamos suporte junto a alguns diretores, conselheiros e torcedores para conseguirmos manter a equipe. Os atletas entenderam as nossas dificuldades e sempre defenderam a camisa rubro-negra com amor e dedicação.
Como foi a comemoração do título no jogo em Paranaguá e depois, em Curitiba?
Foi uma grande festa que iniciou em Paranaguá e tomou conta da estrada e da cidade de Curitiba. Passeando pelo centro da cidade e até a Baixada havia uma grande carreata e por todo o trajeto as manifestações de reconhecimento eram demonstradas. Na Boca Maldita, nossos atletas foram carregados pela torcida. Foi uma conquista da garra atleticana.
Qual o momento mais marcante da trajetória do Atlético no Campeonato Paranaense de 1970?
Depois de um início de campeonato claudicante, vencemos o Coritiba, na Baixada, por 1 a 0, gol de Zé Leite. A partir daquele momento, nossos jogadores passaram a acreditar mais em si e ver que poderiam chegar ao título máximo estadual. A nossa ida a Paranaguá, na última rodada, precisando derrotar o Seleto para alcançarmos o campeonato, foi emocionante. O Estádio deles estava praticamente lotado com torcedores atleticanos. O 4 a 1 surgiu naturalmente diante da supremacia do nosso time. Engraçado era o estado de nervos do Presidente Rubens Passerino Moura, que não conseguia ficar parado desde a manhã daquele domingo.
Naquela época, falava-se muito em uma possibilidade de fusão do Atlético com algum outro clube de Curitiba em função de dificuldades econômicas. Isso existiu mesmo ou é uma lenda?
Não se falava em fusão naquele momento. De qualquer forma, o título de 1970 foi fundamental para a afirmação do Atlético na época. Surgiu de maneira muito mais sólida a paixão rubro-negra. A torcida cresceu mais ainda e ficou muito mais fanática.
Qual sua melhor lembrança daquele título?
O ano de 1970 foi inesquecível para o torcedor atleticano. Por uma questão de justiça, devemos lembrar do trabalho incansável dos irmãos Passerino Moura, Rubens e Claudio, do Arnaldo Garcez de Barros, do Atilio Comodo, do Hailton Fantinatto, do Orestes Domingos Beltrami, e de outros abenegados que deram muito do seu tempo pelo nosso time. Não podemos deixar de enaltecer a dignidade dos nossos atletas Vanderlei, Djalma Santos, Zico, Alfredo, Júlio, Reinaldo, Ferrinho, Nelsinho, Zezé, Nilson e o artilheiro Sicupira, além de outros incansáveis jogadores que honraram a camisa do nosso Atlético, que hoje se destaca com um dos maiores clubes do Brasil. Quem não tem passado não terá futuro. Pela sua brilhante história, desde a sua fundação, podemos ter a certeza de um horizonte cada vez mais brilhante para o Clube Atlético Paranaense.