13 set 2005 - 10h05

1970, o Título da Raça: Alfredo Ramos

Se o Atlético é hoje um dos maiores clubes do Brasil deve muito disso ao que foi construído ao longo de seus 80 anos de história. Se hoje a torcida tem a oportunidade de vivenciar um momento histórico fantástico, há algumas décadas a situação era bem diferente. Mais precisamente nos anos 60, quando o clube atravessou um de seus momentos mais complicados. Depois de doze anos sem conquistar um título, o Atlético foi campeão paranaense de 1970 e, com uma conquista histórica, proporcionou uma das maiores festas de que se tem notícia na história do futebol paranaense.

Para comemorar os 35 anos da conquista do Estadual de 70, os sites Furacao.com e RubroNegro.Net publicarão uma série de entrevistas com personalidades atleticanas. Ex-jogadores, dirigentes, técnicos e apaixonados atleticanos revelarão detalhes daquela conquista épica.

A décima segunda entrevista da série é com o técnico do Atlético em 1970, Alfredo Ramos Castilho. Como jogador, Alfredo vestiu as camisas do Corinthians, Santos e São Paulo. Atuando como lateral-esquerda, foi convocdo para a Seleção Brasileira e disputou a Copa do Mundo de 1954. Devido às pernas longas e ao seu estilo de jogo, recebeu o apelido de "Polvo". Como técnico, dirigiu o Nacional, São Paulo e Atlético. A conquista de 1970 pelo Furacão foi uma das mais comemoradas de sua carreira. Hoje com 82 anos, residindo em São Paulo, "Seu" Alfredo Ramos se recordou de algumas passagens daquela época:

Em setembro, comemoram-se 35 anos da conquista do título paranaense de 1970 pelo Clube Atlético Paranaense. Qual a importância daquele título no contexto em que foi conquistado?
Você nem imagina o quanto foi importante. Eu cheguei no Atlético em maio de 1969 para desmanchar um time rico e fazer um time pobre, pois não havia dinheiro. Vários jogadores foram embora, como Gilmar, Bellini etc. Não tínhamos um plantel. Havia muitos jogadores emprestados. Então, o meu querido e saudoso Coronel Passerino Moura dizia: Alfredo, você não deixando o time cair está bom demais. Foi uma luta muito grande. A primeira medida que nós tomamos foi trazer de volta todos os jogadores que estavam emprestados. E ali começamos a montar um time, vasculhando em Santa Catarina. Quando o time já estava para se classificar, nós contratamos cinco jogadores. Isso é metade do time. Mas tivemos a sorte de, com aqueles cinco jogadores, ter um aproveitamento total, de 100%. Isso foi com muito sacrifício, com muita luta.
Os mais novos talvez não saibam, mas o Atlético enfrentava graves dificuldades financeiras naquele início dos anos 70. Você lembra disso e de algum episódio que retrate a situação precária em que o clube se encontrava?
Precisava a gente conversar um dia inteiro, escrever um livro de muitas páginas porque são tantas coisas que aconteceram que ninguém faz idéia. Para se formar aquele time, eu precisei arrumar no Nacional, um clube de amigos meus, jogadores de graça. Um diretor amigo meu me deu o lateral-direito Júlio e o zagueiro central Zico. Eles não custaram um tostão para o Atlético. Lembro de outros fatos também. O alambrado da Baixada era enferrujado. Para cortar a grama era uma luta. Era uma coisa.

Como foi a comemoração do título no jogo em Paranaguá e depois, em Curitiba?
Nós fomos para Paranaguá no dia do jogo de manhã, almoçamos lá e daí fomos numa Igrejinha perto da praia, rezamos ali. Depois, fomos para o estádio. Quando a torcida do Seleto chegou, a torcida do Atlético já tinha tomado todo o estádio. Ficou um monte de gente deles na rua. Enquanto nós jogávamos com o Seleto, jogava em Curitiba o Coritiba contra o Grêmio Maringá. E o resultado do Atlético interessava e muito para o Coritiba. Quando os gols começaram a sair lá em Paranaguá, nós fizemos 1 a 0, eles empataram, fizemos 2 a 1. Quando nós fizemos o terceiro gol lá em Paranaguá, o jogo em Curitiba parou. Acabou o jogo. Eu já tinha combinado com um amigo meu, porque eu tinha muita confiança no time do Atlético, eu tinha combinado com o meu amigo Gerson Costa para ele me esperar de carro para eu voltar para Curitiba. Antes do término do jogo, a torcida do Atlético começou a invadir o campo. Todos os jogadores do Atlético pediram para a torcida voltar senão o jogo não iria acabar. Daí o jogo acabou e enquanto faziam a festa no estádio, eu saí do estádio e fui encontrar com o Gerson. Eu vim no carro dele ouvindo pela rádio. Eu não tinha ânimo para festejar nada porque estava muito cansado. Estava numa emoção que você não imagina. Foi um ano e meio muito desgastante. Mas isso me trouxe muita alegria, me deu muito prestígio, fui muito elogiado, tenho grandes saudades de Curitiba e do Paraná.

Qual o momento mais marcante da trajetória do Atlético no Campeonato Paranaense de 1970?
Duas coisas muito importantes. A primeira foi a união de torcida, diretoria e time. Onde nós íamos, a torcida ia atrás e tomava conta do estádio. A diretoria vivia perto do plantel, como o Presidente Passerino Moura, o irmão dele, o Claudio, dois homens de uma vitalidade tremenda. Para eles, o Atlético era a coisa mais importante do mundo. Além disso, outra coisa muito importante daquele título que eu considero também uma conquista nossa: o estádio que o Atlético tem hoje. Esse estádio do Atlético hoje, que é uma jóia, se não tivéssemos feito um trabalho para que o time não caísse para uma divisão inferior, sabe-se lá onde o Atlético estaria agora. A semente deste estádio foi em 1970. Os jogadores ganharam um campeonato impossível.



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