Matemática elementar
Nos velhos tempos quando eu estudava para o vestibular, havia uma parte da matemática que eu detestava: a tal da probabilidade. Para mim, parecia puro esoterismo, magia hermética, alquimia. Você fazia tudo certo, mas um detalhezinho punha tudo a perder. Graças a Deus nada de probabilidade caiu na prova do vestibular que prestei.
Mas qual foi o meu pavor quando, em pleno segundo ano do curso de engenharia, reapareceu o tal fantasma, escondido dentro da matéria de estatística! Resultado: salvo pelo gongo e pelas distribuições amostrais e regressões lineares. Confesso que o resultado não serviu para minimizar minha antipatia pela tal probabilidade.
É claro que essa aversão acaba diminuída quando sabemos que é possível explicar como o Sol brilha, através do efeito de tunelamento quântico, pura probabilidade aplicada.
Como já disse que não gosto da probabilidade. Não sei calcular, mas creio ser possível dizer, matematicamente, que quando temos um punhado de jogadores, cerca de 50, existirá um momento na vida de todos eles em que, pelo menos cinco ou seis, estarão em boa forma técnica ao mesmo tempo. E esse mesmo modelo matemático poderá afirmar que esse evento ocorrerá 1 vez a cada tantos anos, sendo que sua ocorrência estará diretamente ligada à qualidade dos jogadores em questão: quanto melhor for o grupo em análise, menor será o tempo entre a ocorrência do fato. Isso pode explicar como, com um grupo tão ruim, o Atlético consegui ser vice-campeão da Libertadores. Isso também explica porque não conseguimos deslanchar no campeonato. A fase boa acabou e não existe nenhum líder, em boa condição técnica, seja em campo, seja no grupo, que possa iniciar uma reversão em busca de bons resultados.
Também através da tal probabilidade, podemos analisar as chances do Diego rebater uma bola que for chutada no gol: uma estimativa pessimista deve apontar algo em torno de 99% das bolas chutadas que não entrarem serão rebatidas, não seguradas (contra o Corinthians, por incrível que pareça, vi o Diego segurar um chute). Da mesma forma, qual a probabilidade do adversário entrar tabelando em nossa defesa e ficar na cara do gol? Como vimos contra o Santos e contra o Corinthians, essa probabilidade é cada vez maior. E qual a probabilidade de tomarmos gol em bolas aéreas alçadas na área? Talvez 98,9%?
Por outro lado, qual a chance do Dagoberto voltar a jogar nesse mês? Alguém duvida que é ZERO? E o Aloísio? Que tal algo em torno de 1,5% de chance? O Evandro, então, será enfim o líder que precisamos no meio de campo? Impossível computar, poderia ser a resposta.
Indo mais longe, qual a chance de termos, para o ano que vem, alguma ótima contratação, um destaque, alguém que poderá fazer a diferença? Alguém duvida que a resposta é ZERO% com um grau de acerto de quase 100%? E o treinador, teremos um treinador já consagrado ou iremos realizar novos experimentos, como as tragédias Heriberto da Cunha e o Casemiro Mior, só para citar dois exemplos?
O ano de 2005 foi mal planejado e estamos agora pagando o preço, pelo desmonte total do time de 2004 e as experiências em contratações que foram feitas, somando-se a isso a tal da política pé-no-chão de gastos, o que impede qualquer arrojo nas contratações. Não que eu seja contra, muito pelo contrário, mas, na mediocridade que se transformou o futebol brasileiro, jogado aqui no País, não creio que a solução seja buscar atletas de alto risco como regra para investimentos em uma temporada. O Alto risco acaba sendo transferido para o desempenho do time como um todo. Isso é resultado do mercantilismo que assola o futebol, o que acaba trazendo apostas de altíssimo risco em nome do lucro. O Atlético arriscou pesado, e agora está pagando por isso. Novamente, pura probabilidade.
Dizem que, para sobreviver, os clubes de futebol devem ser administrados como empresas, visando o lucro financeiro e coisas semelhantes. Eu continuo, modestamente, teimando contra isso, pois futebol não é o mesmo que administrar uma carteira de investimentos. Nesse ponto, as leis probabilísticas parecem não funcionar direito. Se assim fosse, o Malutron S.A. seria atualmente um grande time-empresa.
O atleticano está olhando para as probabilidades e não está gostando do que está vendo. Se, no ano passado, essas análises apontavam quais as chances que tínhamos de ser campeões, nesse ano apontam para o outro lado, quais as chances que temos de sermos rebaixados. E nessa hora, não sei se adiantará rezar, pois um grande cientista afirmou que Deus também não gosta muito de probabilidade.
Então o que precisamos agora são atitudes, não probabilidades.