Enquanto os corações atleticanos estão voltados para os feitos do presente, pulsando intensamente nos jogos da Kyocera Arena, o Clube Atlético Paranaense planeja o futuro e promove uma silenciosa revolução a 20 quilômetros de distância dali. No momento, as atenções da direção do clube estão mais voltadas para a Estrada do Ganchinho do que para a Rua Buenos Aires. É a partir da remodelação e ampliação do Centro de Treinamentos Alfredo Gottardi, em andamento desde o início do ano, que o Atlético pretende dar um novo salto de qualidade e estar preparado para as exigências da próxima década.
Há dez anos, o time profissional do Atlético não tinha local próprio para treinar. Era preciso emprestar os campos da Vidraçaria Cometa e do Flamenguinho, em Santa Felicidade. Lembrar de fatos como esse não envergonha os rubro-negros. Ao contrário, é com orgulho que eles constatam a evolução do clube nos últimos anos. E o atual estágio de modernização foi fruto principalmente dos investimentos em infra-estrutura – leia-se CT do Caju e Arena da Baixada.
A história do Centro de Treinamentos do Atlético começa em 1996, com a aquisição da Estância Papa João XXIII. Nesta área, o clube implementou campos de futebol, departamento médico e sala de musculação e um estádio para jogos das categorias de base, além de aproveitar a já existente estrutura do hotel. Com esse patrimônio, o Furacão conquistou títulos, revelou jogadores e obteve uma nova fonte de renda. Porém, o crescimento do clube e a evolução do futebol impuseram a realização de mudanças. "Estamos a dez anos da Copa do Mundo que será realizada no Brasil, em 2014. O Brasil vai viver uma década de expectativa, de grande desenvolvimento para adaptação da nossa infra-estrutura para o esporte internacional. O Atlético quer acompanhar esse momento e nós estamos planejando como nós vamos estar inseridos nesse contexto todo", previu Mario Celso Petraglia no início de 2004, revelando a dedicação da diretoria ao tema desde então.
Os recursos obtidos com a negociação de atletas para o exterior (especialmente Kleberson, Jadson e Fernandinho) e o aporte de capital da multinacional Kyocera permitiram que o Atlético pudesse colocar em prática as obras de ampliação e remodelação do CT do Caju. Serão mais quatro campos oficiais, um novo núcleo médico-desportivo, uma piscina coberta e mais um hotel, sem contar com a modernização da estrutura já existente. "Em janeiro de 2006 estaremos com tudo pronto. Temos todo o tempo para fazer as coisas bem feitas. Este ano foi de muitos investimentos e, dentro das nossas possibilidades, estamos fazendo as melhorias de que o Atlético precisa", observou Petraglia em recente entrevista à Rádio Banda B.
Ampliando a capacidade
A distância impediu que o torcedor atleticano pudesse acompanhar as obras passo a passo, mas o fato é que elas seguiram um ritmo acelerado e a remodelação do CT do Caju já está quase pronta. Aquele que já era o mais moderno do Brasil ficará ainda melhor a partir de janeiro de 2006.
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Ao lado do prédio principal, foi construído um novo núcleo habitacional que dobrará a capacidade de hospedagem do CT. Ao todo, serão 284 leitos à disposição de atletas do departamento profissional, do departamento de formação e também de delegações estrangeiras. Mas esse é apenas o primeiro passo da ampliação. A diretoria já planeja a construção de mais dois edifícios para que o CT do Caju possa hospedar cerca de 500 pessoas.
Os quartos destinados aos jogadores são amplos e agradáveis. Todos contam com beliches, armários, sapateiras e escrivaninhas, além de ar condicionado e dispõem de todas as condições de conforto. A decoração seguiu o mesmo estilo moderno recentemente adotado na reforma da sede administrativa do clube.
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Para seguir o mesmo padrão do novo edifício, o antigo hotel também sofrerá mudanças. A cobertura do prédio já foi substituída por uma estrutura mais resistente e que melhora a iluminação do saguão. As duas salas sociais serão fundidas em um único salão multiusos para a realização de palestras e eventos. Além disso, os apartamentos e banheiros serão redimensionados para dar mais conforto aos atletas. Em virtude do aumento da capacidade do complexo hoteleiro e a fim de atender à nova demanda, o Atlético também construiu uma nova lavanderia industrial e reformou a cozinha e o refeitório.
Novo núcleo médico-desportivo
Do outro lado do edifício principal, está em construção o novo núcleo médico-desportivo do Atlético. O projeto prevê a cobertura da piscina e a criação de salas para abrigar a administração do futebol, o centro médico, um laboratório e a área de musculação.
O diretor de comunicação do clube, Toni Casagrande, explica que este prédio foi concebido para ser uma obra de rápida execução. Com uma estrutura metálica, grandes vãos envidraçados produzirão uma área de relaxamento e lazer, que abrigará a piscina coberta.
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Além disso, serão adquiridos modernos equipamentos para o departamento médico, que contará com instalações perfeitamente adequadas ao atendimento de jogadores em recuperação.
Modernização e funcionalidade
Além dos dois novos edifícios, que já estão praticamente concluídos, o CT do Caju ganhará obras de reforma geral para atender aos requisitos de modernização e funcionalidade. Logo na entrada, a atual portaria será transferida para o espaço onde hoje funciona a sala de imprensa. Neste local, haverá uma área de recepção e controle de acesso. Com isso, a sala de imprensa passará a fazer parte do complexo principal, instalada ao lado do hall do hotel.
O número de campos oficiais para treinamentos e jogos do departamento de formação será praticamente dobrado: dos atuais cinco campos oficiais, o CT do Caju passará a contar com nove, facilitando o treinamento simultâneo de todas as categorias do clube e de delegações visitantes.
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Por fim, todo o complexo de edifícios será interligado por uma passarela, facilitando a circulação de funcionários e visitantes, que não ficarão expostos em dias frios ou chuvosos. O conceito de funcionalidade será empregado também nas áreas de circulações verticais dos novos conjuntos. Todas serão em forma de rampas e plataformas de elevação tipo montacargas. O objetivo é que o trânsito seja fácil para todos, especialmente para os atletas lesionados.
Sempre evoluindo
Os projetos do Atlético para o CT do Caju não param por aí. No futuro, o clube pretende construir um estádio coberto, no plano mais ambicioso da diretoria. "Vamos fazer um campo coberto, iluminado, com piso sintético para podermos jogar no inverno de Curitiba", anunciou Mario Celso Petraglia em uma declaração que passou quase despercebida em virtude da repercussão dos demais temas da famosa entrevista coletiva de maio deste ano.
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Os recursos para as obras advêm das reservas acumuladas pelo Atlético nos últimos anos. "Tudo que está em construção no CT está sendo feito sem comprometer o capital de giro do clube", garantiu Petraglia na última reunião do Conselho Deliberativo. Assim, a estratégia da direção parece estar baseada numa espécie de desenvolvimento auto-sustentável, que permite a realização de investimentos gradativos sem a contração de dívidas.
Mesmo com todas as melhorias, ainda há muito espaço para crescer. Dos 230 mil metros quadrados do CT do Caju, apenas 5 mil metros são de área construída. Para quem conhece a magnitude do Centro de Treinamentos, é espantoso descobrir que ainda há tanto espaço disponível. Mas, mais do que espaço, há vontade, idéias e planejamento. Com tudo isso, há de se concordar com Mario Celso Petraglia: "O céu é infinito. O que se pode conquistar não tem fim".