10 jan 2006 - 22h11

Petraglia: "Não se pode duvidar do Atlético"

O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mario Celso Petraglia, concedeu uma entrevista de cerca de meia hora à emissora de rádio Transamérica na noite desta terça-feira. Dentre diversos assuntos abordados, Petraglia tratou da possível contratação do técnico alemão Lothar Matthäus, do planejamento do clube para esta temporada, das negociações de Marcão e Aloísio, da contratação de reforços, da conclusão da Kyocera Arena e do preço dos ingressos.

Muito à vontade, o dirigente rubro-negro fez brincadeiras com os comentaristas do programa Transamérica Esportes em diversas ocasiões. Rebateu as críticas de Airton Cordeiro, que não aprova o nome de Matthäus como técnico de futebol, e disse que a possível contratação não é apenas uma jogada de marketing. Apesar disso, foi cauteloso ao tratar do assunto. "Para nós seria um orgulho muito grande poder contar com ele, mas ainda não temos nada", despistou. É bom destacar que as declarações de Petraglia foram realizadas entre às 18h30 e às 19h00 – portanto, antes de ser divulgada a notícia de que Matthäus confirmou sua contratação pelo Furacão.

Mais adiante, Petraglia disse que o Atlético precisa fixar sua marca no futebol brasileiro e que isso só se consegue com a conquista de títulos. Ele afirmou que os títulos são alcançados com grandes jogadores e técnicos e que o clube tem uma equipe preparada para buscar reforços nessa área. O presidente do Deliberativo justificou o aumento do valor do ingresso mais barato para R$ 25, dizendo que é a única forma de o clube suportar seus altos custos. Para finalizar, disse que os corpo diretivo do clube tem em mente um projeto para a instalação de um moderno complexo no terreno do Colégio Expoente.

Confira como foi a participação de Mario Celso Petraglia no Transamérica Esportes:

Por que contratar Lothar Matthäus como técnico?
Ninguém disse que ele viria para ser o nosso técnico. Assim como ele esteve aqui, muitos outros grandes jogadores também já estiveram para conhecer a melhor estrutura do futebol brasileiro. Aconteceu que, durante as conversas e a visita surgiu essa possibilidade de ele comandar o nosso time. Porém, entre uma alternativa e uma concretização há uma distância grande. É óbvio que o Atlético queria ter essa figura carismática, um dos maiores jogadores do futebol mundial, uma das marcas do futebol alemão, presente em cinco Copas, atuando em 150 jogos pela seleção alemã, embora não tenha ainda uma carreira marcante como treinador. Para nós seria um orgulho muito grande poder contar com ele, mas ainda não temos nada.

Se ele vier, será para ser treinador ou auxiliar técnico?
Se meu pai fosse mulher, eu teria duas mães (risos). O "se" não existe. Se ele vier, nós vamos analisar. Se não vier, pensaremos em outro.

Mas há a possibilidade? Dia 25 ele estaria aqui para assinar o contrato?
Você ainda acredita no que a imprensa publica? O que sai nos jornais são notícias às vezes fantasiosas, para vender o jornal, às vezes especulando várias coisas. Há várias formas de se veicular uma notícia. Eu também gostaria de ter essa informação.

(Neste momento o comentarista Airton Cordeiro expõe sua opinião contrária à contratação de Lothar Matthäus)
Quanto se paga no Brasil para um treinador consagrado? Não sairemos e nem vamos sair da nossa política de contratação. Desta vez você está equivocado, Airton, porque será e seria uma grande contração e não uma jogada de marketing. Ele é o treinador da seleção da Hungria. Já temos um precedente na história do futebol brasileiro que veio da Hungria, o Béla Guttman, que treinou o São Paulo (Nota da Furacao.com: o consagrado técnico húngaro Béla Guttman dirigiu o São Paulo em 1957 e 1958). Nós só poderemos dizer alguma coisa, caso a contratação aconteça, depois. Antes, é mera especulação.

A possível vinda do Lothar Matthäus foi uma estratégia de marketing?
Não seria jogada de marketing nunca como objetivo principal. Agora, como subliminar, objetivo secundário e promoção da marca, sim. O Atlético é o paranaense. Nós não temos 100 anos de história nacional, rádio ou televisão. A história do futebol brasileiro se resume ao eixo Rio-São Paulo. Então, o Atlético tem que fixar a sua marca ganhando campeonatos. E como se consegue isto? Com grandes jogadores e técnicos. Já pensou, uma hipótese, se nós conseguíssemos trazer esse homem e ele conseguisse conciliar a disciplina tática e a tradição do futebol alemão com a nossa criatividade e a nossa ginga do futebol brasileiro? Teoricamente seriamos imbatíveis. Afinal, quando estabelecemos algum plano, este sempre será iniciado como teoria. Depois partimos para a prática.

(Novamente o comentarista Airton Cordeiro interrompe Petraglia e afirma: "Mas eu continuo duvidando, aqui, na sua presença, de que Lothar Matthäus não virá")
Bom, você sabe que não se pode duvidar nada do Atlético Paranaense.

(Airton Cordeiro prossegue: "Como falei, se analisarmos o Matthäus como jogador, ele foi fantástico. Mas se partimos deste princípio de que todo jogador fantástico seria um treinador fantástico, o Pelé seria maravilhoso")
O Beckenbauer foi um grande treinador e um grande jogador e hoje é um grande executivo, é o presidente do comitê organizador da Copa do Mundo. Os membros são os mesmos que estão indo organizar a Copa da África do Sul. O Lothar está hoje na Cidade do Cabo, na África, porque teremos lá a Copa em 2010. E nós sabemos que serão importadas todas as tecnologias dos alemães. Quer coisa mais organizada no mundo que a cultura germânica? Aliás, eu não estou defendendo a contratação do Lothar, se está certo ou errado. Estou defendendo a priori, afinal, nós não podemos defender sem experimentar, dizer se é bom ou ruim, principalmente no futebol que vive de resultado. Nós só saberemos se vai dar certo ou não se experimentarmos.

Quais são as outras opções para treinador que o Atlético tem, caso não seja possível a contratação do Matthäus?
Mário Celso Petraglia não seria um bom nome? (risos) João Augusto Fleury da Rocha como técnico e o Carletto como supervisor, não poderia? (risos) Nós sempre trabalhamos com um planejamento, com uma alternativa. Já estamos conversando com outros treinadores. Mas quais são as opções que temos para as ambições do Atlético? Mesmo porque nós não entramos mais nas competições para não cair, para ser preservar etc. Nós entramos para ganhar todas as competições. Com esse objetivo, quem vocês sugerem? O Toninho Cerezo é uma velha e antiga ambição do Atlético, desde o tempo em que ele estava na Sampdoria. Mas será que conseguiríamos um patrocínio para pagar o salário dele? Estou falando de empresas fortes e vivas, aliás, muito vivas. O próprio Evaristo não está descartado, já conversei com ele. Mas nós temos tempo.

O Atlético já terá um técnico até o início da Copa do Brasil?
Nosso grupo está pronto. Temos uma estrutura de inteligência, técnica e experiente, com os auxiliares técnicos, preparadores físicos e de goleiros. O Atlético mantém esses homens lá, eles conhecem nosso elenco. Começa agora o Campeonato Paranaense, nós temos todo o tempo do mundo. Nós não contratamos técnico para definir a contratação de jogadores. Quem contrata é a direção, por indicação dos nossos observadores e conselheiros. Nos não dependemos de indicações de técnicos para formar o nosso elenco.

O jogador Marcão esteve muito próximo de acertar com times como o Grêmio e o Fluminense. O que houve no caminho que até agora nada foi definido?
O caminho não foi percorrido. Pode ser ele vá para o Sul, para o Rio, para Trás-os-Montes, pode ser que atravesse o Oceano Atlântico. Nós estamos caminhando. O Marcão tem várias propostas e não é justo que o Atlético não permita que ele, com 30 anos, não vá fazer um contrato, um "pé-de-meia". Afinal, ele apareceu como jogador e está sendo procurado depois que jogou aqui, que foi valorizado e jogou a Libertadores. Há também o próprio Michel Bastos, que veio com 20 anos do Feyenoord, na venda do Jean. Nós trouxemos o Michel, acabou sendo emprestado ao Grêmio, mas não foi bem. Agora ele voltou, assim como vários jogadores nossos que estavam emprestados, essa é a nossa política há muito tempo.

Mas o Marcão não estava com um pé no Kawasaki?
Bom, se ele for pra lá, irá com os dois pés, pois com um só ele não pode jogar. (risos)

E o Aloísio, fica no Atlético ou no São Paulo?
Ele tem contrato conosco até o dia 31 de dezembro de 2006. No São Paulo, ele tem contrato de empréstimo até o dia 11 de fevereiro, data do meu aniversário. Ou seja, dia 12 ele estará aqui, a não ser que o São Paulo pague a multa, daí pode levar.

O que você tem a dizer sobre a conclusão da Arena?
Já temos 100% da área quitada do colégio. Para que nós pudéssemos construir aquelas arquibancadas móveis e cumprir o regulamento da Conmebol, para jogar a primeira partida da final da Libertadores, o colégio nos cedeu espaço suficiente para aquilo. Infelizmente não tivemos a força política necessária para jogar, tivemos que ir para o Beira-Rio. Por isso que já temos parte da área e a posse, ou seja, o Atlético já está usando. No resto, o colégio tem um compromisso conosco e vai cumprir até o dia 31 de dezembro deste ano. Então o Atlético só poderá pensar na conclusão da Arena a partir de janeiro de 2007. Hoje o colégio é nosso inquilino.

Qual é o tempo estimado para que as obras sejam realizadas?
Se fosse somente a conclusão, o aumento para 40 mil lugares, cumpriríamos em seis meses, máximo oito. Mas como nós somos ambiciosos, nosso projeto tem uma visão maior do futuro. Estamos prevendo a construção de uma Areninha fechada, para multiuso, integrando todo o complexo. E estamos pensando em outras coisas também para anexar ao projeto. Tudo isso não será apenas a conclusão, nós temos em mente um complexo para trazer outras coisas ao Atlético. Se não precisássemos 40 mil lugares ficaríamos com 25 mil e aumentaríamos o preço. Mas como os regulamentos exigem os 40 mil lugares e como sabemos que iremos disputar outras Libertadores, aumentaremos.

Como o senhor avalia o preço dos ingressos, cujo valor mínimo agora passa a ser 25 reais?
É barato. O torcedor precisa se habituar a ter a cultura de que ele precisa consumir a sua paixão. O torcedor, ajudando na bilheteria, uma das fontes mais importantes de renda de um clube, ele vai também ter a possibilidade de adquirir o pacote, que fica mais barato. Temos que nos habituar a ver o Atlético, não importa o adversário. Temos que acabar com essa história de só ir à Arena quando o Atlético tem jogos contra times mais fortes, teoricamente. O torcedor tem que ir para ver o Atlético. Se for com um menos forte, a expectativa de sair sorrindo é muito maior.

E sobre o ingresso mais caro, no valor de 60 reais?
Exatamente, 60 reais é o ingresso mais caro, na Getúlio Vargas superior, porque há uma deformação. Lamentavelmente, o setor superior no Brasil tem mais valor que o inferior. É aquele medo do xixi dentro do pacote de pipoca em cima da cabeça! No mundo inteiro, quanto mais próximo o setor é do campo, mais caro é. Aqui não, então temos que mudar essa cultura. A nossa intenção sobre o preço do ingresso, lá atrás, era de 30 reais, e não conseguimos. Mas vendo pelo que nós fizemos todas as nossas últimas campanhas e conquistas, nossa infinidade de jogadores na seleção, nosso sexto lugar no ano passado no Brasileiro, toda essa expectativa de ganhar todas a competições, o torcedor vai entender e vai nos ajudar. É um aumento só de cinco reais. O preço mais baixo será R$ 25. A gente esquece também que agora foi aprovada uma lei que, além do estudante, o professor também vai passar a pagar meia-entrada. Ou seja, a cada três ingressos vendidos, dois são meio-ingressos.

É verdade que o Atlético se tornará uma sociedade anônima?
É absolutamente mentira. Seria totalmente burro, com todo respeito. Atualmente, não pagamos nenhum imposto. Caso isso acontecesse, a carga tributária nesse Brasil cairia sobre a nossa cabeça. Então, da nossa parte não poderia partir uma proposta dessa.



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