22 jan 2006 - 22h03

Alemão, seja bem-vindo!

O livro Como o Futebol Explica o Mundo, do jornalista americano Franklin Foer, apresenta uma noção de como o esporte mais popular do planeta é encarado em diversos países. As desigualdades sociais e as características das populações tornam-se irrelevantes quando a bola começa a rolar. Quando o assunto é futebol, todos têm um único objetivo: a vitória. Foer sustenta que se todos conseguissem os famosos três pontos, teríamos, até, um mundo menos violento. Mas isso não é possível. A história é contada por vencedores e os perdedores arrumam uma maneira de justificar os erros.

E o novo técnico do Atlético Paranaense, Lothar Matthäus tem muita história para contar. Conhecedor das mais diferentes culturas do mundo da bola, o alemão é considerado um dos principais jogadores de futebol da história. Como capitão da então Alemanha Ocidental, conquistou a Copa do Mundo de 1990. Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA nos anos de 1990 e 1991. Depois de pendurar as chuteiras, aos 39 anos, tornou-se treinador e dirigiu o Rapid Viena (Áustria) e o Partizan Belgrado (Sérvia e Montenegro). Nos últimos dois anos, Matthäus comandou a seleção húngara.

A geografia do futebol fez com que Lothar visitasse o Brasil há três semanas. No Centro de Treinamentos do Atlético, o treinador se apaixonou pelo clube e pela cidade de Curitiba. Não demorou muito para que ele se sentisse em casa e aceitasse o convite dos presidentes João Augusto Fleury da Rocha e Mário Celso Petraglia para assumir o comando rubro-negro.

Para que o nosso novo técnico se sinta bem à vontade, o site Furacao.com começa hoje uma série de reportagens sobre a influência alemã em Curitiba, que é facilmente identificada em parques, bosques, bares e até na gastronomia local.

Para facilitar a compreensão dos textos, as reportagens da nossa equipe foram traduzidas para a língua alemã (clique aqui para ler essa reportagem em alemão). Vamos no embalo da feijoada com chopp. Chucrute com caipirinha. América com Europa. Futebol com futebol. As diferenças entre Brasil e Alemanha ficam menos visíveis quando o assunto é a bola.

Boa leitura, atleticano.

Boa leitura, amigos alemães.

Seja bem-vindo, Lothar, e dá-lhe Atlético!

A Alemanha em Curitiba

Quando desembarcar em Curitiba, no dia 1º de fevereiro, técnico Lothar Matthäus começará a perceber que a distância que o separa da cultura e das tradições de seu país de origem são menores do que a distância física entre Brasil e Alemanha. Afinal, a capital paranaense é conhecida como a mais européia das capitais brasileiras, devido à diversidade cultural das várias levas de imigrantes que se instalaram na cidade como ucranianos, poloneses, italianos e alemães. A influência alemã em Curitiba é tão significativa que o termo "vina", uma das palavras mais representativas do linguajar típico do curitibano, provém do alemão Wienerwurst (ou salsichas tipo Viena) – isso sem falar na cerveja e no chopp, tradicionais na Alemanha e muito apreciados pelos curitibanos.

Assim que chegar a Curitiba, Lothar Matthäus vai se sentir em casa [foto: arquivo]


Primeiro técnico alemão a vir trabalhar no país do futebol, Lothar Matthäus chegará ao Brasil 182 anos depois que os seus primeiros conterrâneos desembarcaram em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. No Paraná, a primeira cidade a receber os alemães foi Rio Negro, em 1829, a maior parte deles refugiados das guerras. Curitiba conheceu os primeiros imigrantes alemães anos depois, resultado de uma "reimigração" espontânea dos que não se adaptaram a Rio Negro. Entre Michael Müller, o primeiro alemão a chegar a Curitiba, e Lothar Matthäus, talvez o mais recente, muitos outros para cá vieram, colaborando com o comércio, a indústria e o progresso da capital paranaense. Eles foram médicos, farmacêuticos, donos de botequins, de engenhos de erva-mate, ferreiros, cervejeiros e também contribuíram significativamente para a sociedade local. Foram os alemães, por exemplo, que fundaram a primeira corporação voluntária do Corpo de Bombeiros na cidade, em 1897.

Com o passar do tempo, Curitiba ganhou também algumas características das cidades alemãs. "Logo que cheguei gostei das faixas de pedestres, que é uma coisa rara de se encontrar em outras cidades do Brasil, mas bastante comum na Alemanha", observa a diretora do Instituto Brasileiro-Germânico da capital, a alemã Claudia Römmelt Jahnel. Uma das atrações que provavelmente Matthäus apreciará na capital paranaense são as ciclovias, já que na Alemanha é possível andar de bicicleta tranqüilamente, sem se incomodar ou se preocupar com os carros ou pedestres. "Na Alemanha nós fazemos quase tudo de bicicleta, vamos ao trabalho, às compras, mesmo porque as cidades têm toda uma estrutura para isso, com os locais apropriados para deixarmos as bicicletas. Aqui em Curitiba já tem muito disso, mas comparado com as cidades da Alemanha, é muito pouco", comenta Claudia.

O jeito fechado e conservador do curitibano também combina muito com os alemães. Mas, quando o assunto é receber quem vem de fora do país, o brasileiro de uma maneira geral sempre trata muito bem os estrangeiros. "O Brasil é um país bem aberto, as pessoas são bem curiosas quando você não é daqui. No início, minha adaptação foi um pouco estranha porque tudo era muito diferente. O Brasil é bem mais agitado do que a Alemanha, o trânsito, os negócios, as pessoas. Aqui tenho a impressão de que sempre estou com pressa. Mas preciso dizer que as dificuldades nunca chegaram a comprometer a minha vida aqui", explica Claudia Jahnel, relatando um panorama que poderá ser encontrado por Matthäus.

Natural de Erlangen, ao Sul da Alemanha, o novo técnico atleticano também verá semelhança entre sua nova cidade e sua cidade-natal. Assim como Curitiba, que tem a primeira universidade do Brasil, Erlangen tem uma universidade muito importante, a Frederic Alexander, responsável pela educação de grande parte dos jovens alemães da região.

E num ambiente com tantas semelhanças, uma o próprio Matthäus já apontou quando esteve em Curitiba pela primeira vez: a paixão dos dois povos pelo futebol, segmento com o qual o técnico tem bastante intimidade.

Instituto Goethe, em Curitiba: diversas atividades para quem se interessa pela cultura alemã [foto: FURACAO.COM/Monique Silva]


Erasto Gaertner (médico e prefeito de Curitiba de 1951 a 53), Jorge Hermann Meyer (prefeito de Curitiba em 1896), Augusto Stellfeld (farmacêutico), Michel Mueller (ferreiro). Todos personagens ilustres na história do Paraná e que têm em comum a origem alemã. Com trabalho e resultados em campo, Lothar Matthäus poderá levar o Atlético Paranaense a grandes conquistas e, assim, cravar o seu nome nessa seleta lista. Torcida e apoio dos atleticanos é o que não faltará. Num tipo de paixão que talvez ele ainda não esteja acostumado a ver, mais brasileira… e bem atleticana!

Instituto Cultural Brasileiro-Germânico

Clubes de bolão, culinária típica, idioma. Essas são algumas das tradições alemãs ainda presentes em Curitiba. Ponto principal da concentração da cultura do povo, o Goethe-Institut funciona na capital paranaense desde 1989, ministrando cursos de ensino da língua. Além disso, oferece cursos de aperfeiçoamento, conversação e serviços de tradução.

Em ano de Copa do Mundo na Alemanha, o Instituto Brasileiro-Gerânico não poderia deixar de homenagear essa paixão comum dos dois países. No dia 8 de fevereiro, o espaço recebe a exposição mundial "Planeta Futebol", com 50 fotos de fotógrafos do mundo inteiro retratando cenas do esporte. Além disso, está programado um curso sobre as cidades-sedes dos jogos da Copa.

"Também oferecemos uma grande programação cultural com exposições diversas, exibições de filmes, seminários, apresentações de música, dança e teatro", explica a diretora do instituto, Claudia Römmelt Jahnel.

Serviço:
Goethe-Institut – Instituto Cultural Brasileiro-Germânico
Dra. Claudia Römmelt Jahnel (diretora)
Rua Reinaldino S. de Quadros, nº 33, bairro Juvevê.
Telefone: (41) 3262-8244
www.goethe.de/curitiba
info@curitiba.goethe.org

Exposição "Planeta Futebol"
de 8 de fevereiro a 12 de março
Al. Dr. Muricy, 915 – Centro – das 8 às 19h

Saiba mais:
Como o Futebol Explica o Mundo – um olhar inesperado sobre a globalização
Franklin Foer
Tradução: Carlos Alberto Medeiros
Editora: Jorge Zahar
224pp; 14x21cm;
Preço sugerido: R$29,50

Créditos:
Pesquisa e reportagem: Monique Silva e Patrícia Bahr
Edição: Marçal Justen Neto e Sérgio Tavares Filho
Tradução:Elinson Woyceichoski



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