Desde dezembro passado eu esperava e sonhava com o dia 22 de fevereiro de 2006. Disse para parentes e amigos: ninguém me procure dia 22 de fevereiro, às 16h45. Vou estar incomunicável, rendendo graças ao que, imagino, ser a maior concepção esotérica da religião Futebol. Chelsea versus Barcelona iria ser, pelo menos na minha imaginação, o Armagedon moderno. Desculpem-me colegas rubro-negros, mas temo que deixarei o Furacão, pelo menos em parte, de lado nessa guerra.
Quem viu, com certeza contará a história de um grande jogo. Primeiro tempo dominado pelo Barcelona, jogador expulso do Chelsea, tudo apontava para uma vitória do time azul-grená. Segundo tempo inicia, zero a zero, mas o técnico do Chelsea, Mourinho, mostra porque é considerado um dos (se não O) melhores do mundo: mesmo com um a menos, anula o Barcelona e ainda consegue um gol. Por seu lado, o técnico do Barcelona, Rjkaard, ousado, coloca seu time à frente e consegue a vitória por 2×1. Eu não sei você, meu amigo, mas eu vibrei e torci com o jogão, principalmente pela raça, vontade, técnica e aplicação tática dos jogadores. Para mim, ignorante que sou, foi uma aula de como jogar futebol.
O Chelsea parece jogar um futebol pragmático, no 4-3-3, enfocando a marcação e procurando montar um conjunto consistente, em detrimento do virtuose individual. Para mim, Lampard poderia ir muito mais longe, excelente meia que é, se não estivesse no futebol inglês. O ponto forte do time, a defesa, com Ricardo Carvalho, John Terry e Paulo Ferreira; o meio defensivo e forte na marcação, com Makelele, somente confirma esse pramatismo defensivo, culminando com o estilo do ataque, onde os dois pontas, no caso Gudjonhsen e Robben voltando para marcar quando o time não está no ataque. Mesmo o melhor do time, Lampard, sempre volta para marcar. Esse tipo de jogo me enche o saco. Esse pragmatismo estúpido, que privilegia a posse de bola, é, para mim, o maior responsável pela tristeza no jogo de futebol: manter a bola, rodar e rodar, esperando uma falha do adversário. Que saco! Pode valer quando se joga contra um time mais fraco tecnicamente, cujo erro é só questão de tempo. Mas quando se joga contra um time equivalente, a estratégia pode dar muito errado.
Já o Barcelona, jogando no mesmo 4-3-3, quanta diferença! Objetividade, contundência nos ataques, predomínio da técnica e, melhor, estratégia do time montada baseada na virtuosidade de seus jogadores: Ronaldinho, Messi, Deco, Etoo. Que magia… e sem esquecer a marcação e a defesa (só precisa de um goleiro melhor. Victor Valdés parece o velho Diego: defesas marcantes anuladas por falhas acapachantes).
Foi um quase um êxtase assistir esse jogo do dia 22 de fevereiro. Pena que fica claro, pelo menos para mim, que o nosso Parreira está mais para Mourinho do que para Rjkaard. A seleção brasileira, apesar de ter o material humano que tem disponível, parece jogar mais como o Chelsea do que como o Bracelona: o mais importante não são os virtuoses, mas a tal da posse de bola: 90% de posse de bola deve ser motivo de orgasmos múltiplos para nosso comandante parreiral.
Futebol para mim é objetividade e contundência nos ataques e contra-ataques, exatamente como o rubro-negro mágico de outros tempos jogou.
O que me deixa mais entristecido é que nós, rubro-negros, passamos a nos contentar com tão pouco, tal como uma goleada de seis num time com todo o respeito mambembe, para dizer o mínimo, como o Francisco Beltrão. Ou então a vitória de três sobre um time como o Moto Clube (também com todo o respeito, por favor). Ressuscita-se jogadores como Rodriguinho, Selmir, Bruno Lança e outros; coloca-se todas as fichas em Dagoberto, cujo sonho já está, há muito tempo, do outro lado do Atlântico, o Atlético é mero empecilho; Michel Bastos, Igor, Denis Marques, etc. Nenhum destes tem o menor amor pela camisa do Furacão, nenhum destes irá jogar como os vinte e dois que jogaram no jogo histórico de hoje. Ganhar dos arremedos de times que existem no campeonato paranaense é fácil. O que podemos esperar, com esse time, com esse elenco, de resultados nesse ano? Campeonatos? Eu não creio.
Mas estou errado. Pelo menos é o que pensam os colegas torcedores que participam da pesquisa da Furacao.com. Com 3971 votos até o momento (22/02), 47% acreditam que somos sérios candidatos aos títulos. Devo render-me a opinião da maioria e reafirmar minha ignorância.
Barcelona, se não os seus craques nem seu profissionalismo, pelo menos ver sua forma de jogar, aqui no Furacao, continua para mim, um sonho.
Veja mais notícias do Athletico Paranaense, acompanhe os jogos, resultados, classificação e a história do Club Athletico Paranaense.