O que resta

Não sei o que mais me irritou no jogo atlético (com letras minúsculas) x ADAP (com letras maiúsculas): se o estúpido, desastroso, inacreditável frango do Tiago Cardoso ou o Dagoberto, abaixando a cabeça quando tomamos o segundo gol e parando de jogar após o fato, muito antes de “se machucar”.

Sábado à noite, já em casa, sentado no sofá, televisão desligada, escuridão, um único pensamento insiste em me perturbar: “a que ponto chegamos…”.

Decepções, desastres, podem ter um lado positivo porque nos levam a questionar, avaliar o que deu errado, e com isso acabamos por evoluir. Essa regra de ouro pode valer para mim, para você, menos para os comandantes do atlético (com letra minúscula). Conclusão ainda mais válida após a entrevista do Grande Timoneiro atleticano, sábado após o fiasco na Arena. Quão nobre dizer “a culpa é minha…”, mas ao mesmo tempo atacar a imprensa (menos o repórter da rede globo, tratado com deferência de avô para neto). Quão profissional afirmar que ainda estão esperando o alemão comunicar oficialmente sua decisão de que não volta mais. Quão conveniente…

Pergunto: se o alemão afirmar segunda-feira via email, telefone celular, SMS, MSN, telepatia ou seja lá por qual meio de comunicação, que vai voltar ao atlético (com letras minúsculas), ele retomará suas funções?? Será que poderemos ser assim, tão bobinhos? Do fundo da minha estupidez, de onde realmente não entendo nada desse marketing cômico, eu não consigo sequer imaginar esse “weiß-schenkel deutsch” por aqui novamente.

Outro ponto interessante que o Grande Timoneiro atleticano tocou na entrevista diz respeito ao “projeto” do atlético (com letras minúsculas). Ele, o projeto, segue firme e forte.

Pergunto: e o que diz esse projeto, amado mestre? Quais são os pontos de controle, pelos quais nós, simplórios e ignorantes torcedores do atlético (com letras minúsculas) poderemos aferir se estamos evoluindo ou regredindo? O que o amado mestre quer para o ano de 2006? E para 2007? E para 2008? Quantos títulos ganharemos? Quando teremos a Arena concluída?

Projeto, caro e amado mestre, como o senhor deve saber, é conseqüência de um plano. Quem parte para um projeto antes de planejar os passos a serem tomados corre o risco minimizar o início de temporada e de contratar Heriberto da Cunha no início de 2003; insistir em Mário Sérgio, no início de 2004; sair com Casimiro Mior, seguido de Edinho, no início de 2005 e imaginar que um alemão choroso de saudades iria funcionar em 2006. Baseado no seu projeto, qual o passo a ser dado agora?

Isolamento, arrogância e orgulho não podem fazer bem a ninguém, a não ser aos ditadores. Aqueles que costumam impedir o trabalho da imprensa quando ela ousa divergir da linha de pensamento “oficial”; aqueles que costumam criar uma aura de magia e fantasia ao redor de suas realizações; aqueles mesmos que acabam por destruir tudo que podem até ter construído, devido a uma cegueira enevoada, conseqüência direta de sua auto-percepção como se fosse um semi-deus.

Está no projeto do atlético (com letras minúsculas) como prioridade vencer competições, ou devemos nos resumir como um dos maiores participantes da política pecuarista (tópico interessante do fórum do Furacao.com)? Nada contra criar e engordar jogadores, desde que essa ação seja parte do objetivo maior, ser campeão, vencer, crescer. Qual é a nossa, amado mestre?

Atleticanos (esses sim, merecem letra maiúscula), não podemos permitir que atitudes positivas do passado possam impedir-nos de questionar sobre o presente. Não há como garantir um futuro grandioso sem questionamento contínuo, persistente e vigoroso. Afinal, depois das tempestades, o que sempre resta somos nós, com a garganta doída, a alma sangrada. Roucos de tanto empurrar e motivar uma cambada que parece não se importar com nosso suor e lágrimas.

Eles e nós vemos o Atlético de uma forma e com objetivos diferentes. Quem deve prevalecer?