Depois de um início complicado no Campeonato Brasileiro de 2005, o Atlético teve uma ascensão notável na reta final e terminou em sexto lugar, obtendo a classificação para a Copa Sul-Americana. Antes mesmo do final da competição, a diretoria iniciou o planejamento para a temporada de 2006 a fim de não incorrer nos mesmos erros do passado. Porém, o Atlético acabou eliminado em casa no Campeonato Paranaense e na Copa do Brasil e, depois, ficou quase dois meses sem vencer. A má fase ocasionou diversas mudanças no departamento de futebol profissional, mas uma pergunta ainda permanece sem resposta: afinal, o que teria causado esse desvio de rumo na trajetória rubro-negra?
Para tentar desvendar o mistério, a Gazeta do Povo entrevistou na última semana o psicólogo Gilberto Gaertner, um dos integrantes da comissão técnica que acabou sendo desligado do clube neste início de ano. A matéria do jornal, intitulada "O diagnóstico de uma crise", aponta três possíveis causas supostamente relacionadas por Gaertner: a) a escolha do auxiliar técnico Vinícius Eutrópio para comandar o início do processo, b) a falta de uma comunicação interna mais forte; e, c) a ausência de coesão no grupo de jogadores.
A publicação da reportagem causou repercussões. O próprio psicólogo veio a público para esclarecer o conteúdo de suas declarações (clique aqui para saber mais). Expressamente citado, o ex-auxiliar técnico Vinícius Eutrópio enviou à Furacao.com uma carta na qual rebate as críticas e tenta explicar o que ocorreu durante o treinamento da equipe profissional do Atlético na temporada de 2006. Leia abaixo a íntegra do texto enviado por Eutrópio ao site:
Araras, 2 de maio de 2006
Infelizmente meu nome foi citado em uma entrevista e, com isso, senti-me no dever de esclarecer algumas questões postas em público.
Foram citados três aspectos do mês de janeiro, no qual estava comando da equipe do CAP, juntamente com a comissão técnica: 1) parte tática; 2) comando; e 3) deslumbramento pessoal.
1 – Todos sabem que basicamente o técnico arma suas equipes de duas formas (existem outras opções): a) tendo um elenco à sua frente e com os jogadores que possui ou que estão à sua disposição, cria uma formação tática para atuar, utilizando as características de cada um; b) tem um modelo de estrutura tática e contrata, escolhe os jogadores que se adaptam ao seu estilo.
No meu caso (comissão técnica), como tínhamos somente 19 atletas à disposição para o início dos jogos oficiais, adaptei um esquema que me parecia mais adequado para o momento (pré-temporada, jogadores há mais de seis meses sem jogar etc.). Então, óbvio que foi feita a opção A. Também foi dito e repetido várias vezes que estávamos dando ênfase à parte física e que estávamos trabalhando para deixar todos os atletas em condições de competição até à chegada do novo técnico. Portanto, os treinamentos técnicos/táticos ganhariam importância no mês de fevereiro.
A partir do terceiro jogo, foram liberados para atuar três atletas (Denis, Adriano e Ferreira) que se apresentaram após o dia 26/12/05, resguardando a integridade física e preparando-os para o calendário inteiro, somando então 22 atletas. Seguindo o mesmo raciocínio, mantivemos o mesmo pensamento com os atletas que estavam recuperando a forma física e clínica neste mês (período). Mesmo assim, acredito ter aplicado uma estrutura tática e seguido a seqüência lógica e didática de treinamentos táticos que seriam necessários para o momento (ocasião). Não foi por acaso que, com a chegada do técnico, todo elenco estava à sua disposição no início deste mês de fevereiro, concluindo uma etapa do trabalho e iniciando a segunda etapa com todos atletas à sua disposição. Também não foi por acaso o crescimento técnico nesta fase, pois os treinamentos técnicos e táticos ganharam prioridade.
Até cito o meio-campo com três volantes, com Alan (fixo), Rodriguinho (esquerda), Cristian (direita), tendo grande semelhança com o Santos campeão paulista: Maldonado (fixo), Cléber Santana (direita) e Léo Lima (esquerda). Utilizei atletas de que dispunha na ocasião, não levando em consideração sua posição, mas sim a movimentação e características dos atletas de meio-campo.
2 – Quanto à questão de comando, gostaria de dizer que grande parte do mês de janeiro, como foi citado acima, os atletas passaram se empenhando na pré-temporada e que em momento algum tive problemas de postura com eles. Pelo contrário, foram passivos e dedicados nos treinamentos e jogos, permanecendo alojados no CT até a quarta rodada do campeonato – lembrando que estes já haviam se apresentado sem problemas dia 26/12/05.
Talvez a hipótese que possa ser levantada (dois meses depois) é do momento ruim e da incerteza do possível retorno ou não do Lothar ao clube, que coincidiu com os dois jogos em que fomos desclassificados e que agora, com mais calma e clareza, tenho a opinião que neste momento todos têm uma parcela de culpa e ao mesmo tempo nehuma. A diretoria não imaginava que ele não pudesse voltar, a comissão também, os atletas também não e acredito também que ele (Lothar) não tinha a pretensão de sair do clube, mas algo foi mais forte. Há coisas que na vida que não controlamos, às vezes as coisas saem errado por um motivo ou outro. Digo isso porque três semanas antes, participei de uma reunião com ele, traçando um parâmetro dos clubes do Campeonato Brasileiro que iria começar, elencos, estruturas etc. Esta atitude é de quem teria planos no Brasil. Infelizmente, algo aconteceu no caminho.
3 – Quanto ao meu deslumbramento, em todos os momentos citava o objetivo meu e da comissão em fazer o melhor para clube e o melhor para o futuro técnico. A situação bem definida e meu comportamento sempre foi em prol do trabalho discreto. Estou diretamente ligado ao futebol de competição desde os 12 anos, com passagens como atleta em viagens à Europa disputando torneios, Seleção Mineira, Campeonatos muitas vezes com estádios cheios (mineiro, paulista, brasileiro, pernambucano, catarinense), muitas reportagens durante a carreira de atleta. Não seria em um momento assim que iria direcionar meu trabalho à vaidade.
Aliás, quem conviveu ou convive comigo sabe bem o meu perfil. Gostaria de deixar claro que tive minha parcela de culpa, mas que não posso deixar as pessoas acreditarem que o trabalho proposto não foi bem executado só porque lá na frente, por N motivos, as coisas não saíram como desejávamos. E sei que durante quase seis anos, fui importante e fiz parte de uma engrenagem a qual obteve muitas vitórias, como: vários atletas revelados ao profissional, outros tantos na Seleção Brasileira de Base, vários títulos na base, Campeonato Brasileiro, Campeonatos Paranaense, Classificação Sul-Americana e Vice Libertadores.
Tenho ciência que um bom potencial foi demonstrado, senão eu não teria a confiança de muitos técnicos e profissionais do clube. Não deixei no Atlético colegas de trabalho, mas sim amigos. Porque sempre fui bem tratado por todos e até o momento em que não estiver trabalhando por outro clube, estarei torcendo por meus amigos e pelo clube que me oportunizou desenvolver e mostrar meu trabalho em várias áreas.
Obrigado, um abraço a todos,
Vinícius Eutrópio
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