23 maio 2006 - 2h44

Fim do silêncio

O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mario Celso Petraglia, foi o convidado desta noite no programa "Turma do Bate-Papo", da Rádio Clube Paranaense. Assuntos como a renovação do atacante Dagoberto, a venda dos pacotes de ingressos, saída de Lothar Matthäus, permanência de Givanildo de Oliveira, conclusão da Arena e o caso Aloísio foram debatidos nas duas horas de entrevista.

Sob o comando do jornalista Luiz Augusto Xavier, o presidente foi interrogado pelos profissionais Valmir Gomes, Silvio de Tarso, Jairo Silva e Nellinton Rosenau.

Confira as declarações de Petraglia na íntegra:

IMPRENSA X ATLÉTICO
Estamos aí para o que der e vier. Vocês sabem que ultimamente não estou disposto, disponível e motivado para falar com a imprensa local e nacional por questões pessoais. Mas vamos abrir uma exceção. Vocês sabem que eu tenho por hábito contraditório me preservar e omitir aquilo que sinto. Às vezes me torno um pouco antipático porque sempre digo o que penso e nem sempre as pessoas gostam de ouvir, principalmente a imprensa, onde nós temos conflitado um pouco na vida do Atlético. Às vezes não somos entendidos, mas paciência, seguimos o rumo, nosso projeto segue em frente e vamos conduzindo dentro daquilo que nós entendemos, aquilo que seja melhor para o clube. Dificilmente conseguimos transmitir aquilo que a gente pensa, o que se pretende, objetivos, intenções e realizações, e se cria essas situações, a imprensa está dizendo a sua vez. Respeito muito a imprensa, sei da sua finalidade social, sempre fui contra a censura por convicção e ideologia. O que realmente a gente opõe e que se indispõe é com a forma como às vezes tem sido veiculada de maneira que a gente não concorda, principalmente com algumas versões sobre fatos criados. E como temos pouco tempo para se defender, e a imprensa tem todo o tempo do mundo, nós preferimos nos calar em detrimentos das informações e desse prejuízo na comunicação, preferimos nos calar. Longe da premissa de quem cala consente, mas estamos cansados. Já estamos há 11 anos nessa caminhada e acho que não temos mais nada a provar, do projeto, das realizações, daquilo que foi ajudado ao futebol paranaense. O tempo passa e a gente não tem mais a juventude de 10 anos atrás, nem a motivação. Eu tenho preferido a simplicidade do calar do que ficar, como já estive em passado recente, no confronto. É o meu feitio, o meu temperamento, a forma de ser. Mas nesse momento, nós do Atlético estamos preferindo nos calar.

PACOTES
Quantos pacotes foram vendidos este ano?
Esta é uma pergunta especial. Eu até não gostaria de que a fizessem, mas vou responder: é uma vergonha o que o Atlético vendeu de pacotes. Não chegou a 2.500. O Figueirense vende 10 mil. O Internacional, 30 mil. Nós vendemos 2.500 com o conforto, a comodidade a segurança que a Arena permite e oferta. O curitibano, especificamente o atleticano, não tem compromisso com a sua paixão. Simplesmente por torcer acha que o clube ou o maluco que está lá onde me incluo tem a obrigação de fazer um time vencedor todos os anos, não perder jogadores e não permitir a venda. Porque se vir alguém e oferecer 2 milhões de euros por ano, o Atlético tem que pagar isso! E tirar da onde? Qual o milagre que se faz no futebol? E ainda dizem que há desvio, roubo, que tem outros interesses, que os dirigentes são isso ou aquilo. Então realmente o Atlético não vendeu bem e não sei nem se terão os pacotes no ano que vem, essa é uma grande discussão interna. Para quê disponibilizar um produto se ninguém compra? E ainda temos que ver nossos adversários venderem por 90 reais todo um campeonato!

DAGOBERTO
O Dagoberto vai sair, o contrato vai ser reduzido, qual a chance do Atlético ganhar dinheiro? Quais as providências que estão sendo tomadas para mantê-lo?
É emblemático para nós o caso do jogador Dagoberto. Ou seja, é o retrato da nova lei, essa lei que todos dizem que a nova, a Lei Pelé. É a lei Bosman, não tem nada a ver, é uma adaptação das nossas condições de estatuto e legislação, as condições exigidas pela Fifa. Isso está funcionando. Terminado o contrato ele vai para onde quiser. O contrato existe enquanto houver o vínculo federativo que mantém o atleta no clube. O caso dele não é diferente de nenhum outro. O Dagoberto possui contrato em vigência com o Atlético, estamos conversando deforma avançada para resolver essa renovação. É claro que existem propostas para o jogador. A preocupação fundamental, caso se acerte ou não, é o Atlético buscar os interesses do clube e o Dagoberto os seus, através dos seus procuradores. Mas a vontade determinante é sempre do jogador. Essa história de que A ou B influenciam é conversa mole. Sempre prevalece a vontade do jogador, é a vida dele. Quem vai decidir a vida do jogador Dagoberto é o homem Dagoberto. A nossa preocupação, e a dele também, é que ele vem de uma lesão atrás da outra, infelizmente. Teve uma lesão grave em 2004, de lá para cá sofreu uma cirurgia, se recuperou, daí teve uma lesão na outra perna, rompeu ligamento do menisco… E ninguém falou da maldade do jogador da ADAP, é isso que às vezes me entristece com a imprensa. Cria-se o estigma, a versão e a realidade dos fatos. É difícil para nós que estamos lá repetirmos o lance várias vezes para formar uma opinião, para não ser leviano, e não vemos a realidade e o fato como gostaríamos. A imprensa tem a responsabilidade dela, a forma como ela acha que convém veicular. Mas não temos preocupação no caso Dagoberto. Se houver a renovação haverá, se não, ele segue a vida dele. E outros Dagobertos virão. Não sei porquê essa história em cima do menino, deixem ele jogar, se recuperar, ter a consciência de ser um grande atleta, voltar a ser o que sempre foi, representar o Brasil. Tenho a certeza de que se não tivesse a lesão ele estaria hoje na Suíça. Sofreu uma lesão que infelizmente pode acontecer com qualquer atleta. Mas o problema do Dagoberto será resolvido da melhor maneira, que convenha muito mais a ele do que ao clube. É a vida dele. Acredito que ele não esteja fazendo corpo mole. Em toda a minha história pelo Atlético, nunca vi um jogador apanhar tanto como o Dagoberto apanha. É uma violência! Lamentavelmente o jogador é feito de carne e osso, ele sofreu as lesões, está se recuperando, mas se há alguém desesperado para jogar é ele. Imaginem, um ano e meio fazendo tratamento, que é a pior coisa do mundo? Jogador quer jogar. Nossa dificuldade é que só jogam 11 e todos querem jogar.

O Atlético já está pensando em como ser ressarcido dos investimentos que fez no jogador?
Simplesmente estamos negociando e pedindo a ele, e ele reconhece, estamos aí faltando só a formalização disso, poderemos chegar, tudo leva a crer que teremos um final feliz para todos. É haver uma prorrogação do tempo que ele ficou inativo. Ele tem a oportunidade e terá outras que o nosso futebol não pode pagar, vai acontecer mais cedo ou mais tarde. A nossa preocupação é a formação, a atividade dos nossos atletas, infantil, juvenil, juniores, criamos vários centros de avaliação, desenvolvimento de talentos, estamos investindo o que temos e o que não temos. O futebol brasileiro e o paranaense não têm condições de pagar o que o mercado oferece. Esse menino, o Schumacher, de 18 anos, que a gente preservava e gostaríamos que tivesse continuado. Veio a Udinese, ofereceu ao pai dele. Ele me disse “é a vida do meu filho”. E o Atlético perdeu a oportunidade de continuar vê-lo jogando. Ou seja, estamos abertos ao lucro, a fazer um, grande futebol e ganharmos títulos. Não somos uma empresa com fins lucrativos. Desfazemos porque não temos como preservar. Chegam ofertas milionárias. Que direito nós temos de exigir o que podemos pagar, manter um jogador desmotivado, insatisfeito, desconfortável, a família… Não há como. Quando ouço isso me dói porque ninguém, sabe a realidade dos fatos.

Quando vale o Dagoberto? Se chegar junho e houver a redução, quanto ele valerá?
Não sei, depende do mercado. Hoje ele está lesionado, está sendo recuperando, vai voltar em breve, terá que provar novamente, que está curado. Mas o mercado é volátil. Hoje ele vale, amanhã não vale nada. Não sei o quanto vale, mas agora temos um contrato onde a lei determina que haja uma redução anual. É a lei, não fui eu que criei isso.

(Comentário do jornalista Silvio de Tarso: Mas há de concordar que surgir um jogador como o Dagoberto não é sempre que aparece. Ele é um jogador fora de série. Eu costumo dizer que, com ele o Atlético é um… sem ele é outro. É um jogador de extrema qualidade, é muito bom vê-lo jogar).
Sem dúvida. Eu acho que ele tem um potencial e chegará a ser um grande jogador. Mas o que faremos? Eu aprendi desde menino que não há solução para o que solucionado está. Outros jogadores estão por vir. Veio o Kléberson, que foi pentacampeão, depois o Fernandinho, enfim, outros virão. É uma pena, mas faz parte. Hoje o Ronaldinho Gaúcho está no Barcelona, amanhã não estará mais, mas logo vem outro. Claro que se lamenta, mas lamentamos muito mais a lesão dele. E com esses jogos pelo Estadual, que só se deram pontapés, tivemos jogos na Arena contra o Iraty, ADAP, Jota Malucelli, foi um horror, uma carnificina, dentro do nosso ponto de vista. Pergunta para o Dagoberto se ele quer entrar em campo? Só lhe caçam, não deixam jogar, fazem faltas impunemente. Se alternam para preservar as expulsões. E a nossa arbitragem, quando ele cai, não dão pênalti, ainda dão amarelo ou expulsa. Contra isso que nós nos revoltamos.

RISCOS
O esporte, principalmente o futebol, por ser coletivo, os 11 jogadores, é único por ser jogado com os pés. Nenhum outro se joga com os pés. Então é muito mais imprevisível do que qualquer outro esporte coletivo. Dentro desta condição, claro que é previsível o imprevisível. Que a gente corra o risco de cair para a segunda divisão… está aí o nosso rival, quem imaginaria o Coxa na segunda? Caem quatro, um é campeão, dois vão para a Libertadores, outros sete para a Sul Americana, outros trabalham para o ano que vem, sobrem quatro e a vida segue. Mas a infra-estrutura que se criou, as condições, o ambiente, a força, a Baixada que é uma mística, não da nova Arena em si, mas da história do Atlético, não foi o Petraglia que criou. Nós até fizemos um levantamento recente, o Atlético antes e depois da nova Arena tem o mesmo índice de aproveitamento de sempre: 75 a 76% de aproveitamento nos jogos em casa. É uma história antiga. Aí que existe a probabilidade que faz mal, quando ouvimos que vamos cair. Ano passado fiemos três pontos em 10 rodadas, todo mundo dizendo que iríamos cair. Lógico que ficamos preocupados. Então é neste momento que a infra-estrutura mostra que o trabalho está sendo feito e que tem aparecer. Apareceu, ficamos em 6º, fomos vice das Américas. Quando se pensou que um clube do Paraná disputaria uma final de Libertadores? E seria sacado do seu estádio de medo, porque se não, ganharia? O Atlético é exemplo nacional. Por que o Atlético faz e os outros não fazem? Qual a diferença? Será que só tem um competente no Brasil? E ainda vem gente dizer que só falamos em estádio e CT. Nos últimos sete anos inauguramos a Arena, fomos campeões, ganhamos a Seletiva, o Brasileiro da Série A, fomos vice da Série A e da Libertadores, disputamos três e investimos em patrimônio. É um momento que vai terminar, agora com essa ampliação do CT, chega, não precisamos mais. Aquilo será a melhor infra-estrutura do mundo. Não a mais rica, a melhor.

(Comentário de Valmir Gomes, interrompendo o presidente: Mas quando a imprensa vai poder ver isso tudo?)
O momento que vocês quiserem. Eu já convidei e, se não for nariz de folha, é só me telefonar. Não estou aqui? Quantos segundos levei para recusar o seu convite, Valmir? Se quiserem conhecer vão lá amanhã ver como o Atlético funciona. Estamos trabalhando para concluir a Arena, para temos um problema sério para resolver, se faremos para 36 ou 40 mil pessoas.

MOMENTO ATUAL
Nós nos norteamos nessa vida e tudo isso que aprendemos, de todas as nossas crenças, a fundamental e básica é a relação causa e efeito. Tudo na vida é isso. O ano de 2001 aconteceu em função de 95, 96 e 1997. Em 2004 muita gente falou, e principalmente a imprensa nacional, que jamais seríamos bicampeões. E jogamos fora o campeonato mais ganho da nossa história, lá em Erechim. “Jogamos fora”, modo de dizer, porque futebol é isso. Esse imponderável não tem como administrar. Só um louco dirá que seremos campeões, que podemos cair ou chegar à Libertadores. Enfim, a pressão de vencer existe quando o Atlético joga dentro, fora, em cima, embaixo… Todos os clubes, em todos os jogos somos pressionados, seja pela diretoria, torcida, imprensa e os dois próprios times que precisam ganhar. Só há uma verdade no futebol: o resultado em campo, a vitória. Ano passado fomos longamente criticados por sermos um time “de pijama”, porque o time só ganhava em casa. A obrigação de ganharmos nós temos sempre. Se ganharmos todos os jogos e se não for de goleada, não vale nada! E ainda tem que arrasar no primeiro tempo…

O TORCEDOR
O torcedor é emoção pura. Quando vai ao campo, sob o efeito do resultado é incontrolável. Eu mesmo sou difícil de controlar, com todo os compromissos que tenho. Eu dou todos os descontos do mundo porque no momento do calor, da partida, todo mundo tem o direto de achar isso ou aquilo. Depois das 24h, de dormir e pôr a cabeça no travesseiro, eu acho que razão tem que prevalecer. Não pode ficar tomado eternamente pela paixão. O homem é mais emocional do que racional, mas não pode deixar a emoção dominar a razão.

Por isso que o senhor não ficou no vestiário ao final da partida de domingo, contra o Goiás?
Meu neto, parceiro e companheiro, estava impaciente, pediu para sair na metade do segundo tempo. Então fui levá-lo, não foi por isso que saí. Não sou destemido. Mas se tem uma coisa que a natureza não me dotou foi o medo. De poucas coisas tenho medo. Não temo resultado negativo. Nós temos a consciência e a tranqüilidade de que não estamos abertos para elogios, gratidão ou reconhecimento. Nós temos a consciência do dever cumprido porque estamos lá fazendo aquilo que a gente acha que é o melhor para o clube. Quando você tem um compromisso você tem que dar o melhor de si. Erramos? Muitas vezes. Falharemos? Sem dúvida, somos humanos. De boas intenções o mundo está cheio. E as nossas boas estão boas materializadas. Deixando a falsa modéstia de lado, não é a história do Atlético, é a história do futebol paranaense. Isso não significa nada em nível nacional, não existíamos. Agora já começamos a despontar um pouco desse iceberg, já temos quatro linhas na Folha, no Estadão, no Globo… Antigamente nem sabiam que nós existíamos. Então vamos dar valor àquilo que nós conseguimos. A história do futebol paranaense é antes e depois do projeto do Atlético. Gostem, aceitem, entendam ou não. Mas está escrito, então isso me deixa confortável o suficiente para ir pra casa e dormir. Porque a nossa missão está sendo cumprida com todas as letras. E aguardem porque ainda não terminou.

LOTHAR MATTHÄUS
Erramos quando trouxemos o Lothar Matthäus porque pretendíamos um objetivo. Ele veio só que teve um problema familiar e não pôde dar continuidade. Como você vai saber que pode dar esse problema? Só se tivéssemos uma bola de cristal. Daí eu não estaria aqui, teria uma tenda vendendo visões futurísticas. Só se sabe, se conhece, se sente e se administra o ocorrido depois de acontecer. Não da para antever. Que trazer o Lothar foi uma coisa certa, o mundo foi favorável. O Atlético nunca teve uma penetração na mídia nacional e internacional com esse fato. Não vi uma crítica, de nenhum veículo, de ninguém. Depois que foi embora, daí o Petraglia estava louco, daí o Atlético quis inovar. Administrar o passado é a coisa mais fácil do mundo. Agora antever o futuro não existe, só o Criador. Não podemos intuir, imaginar, tentar achar isso ou aquilo, somente pela experiência. Enfim, nós gostaríamos que ele tivesse permanecido, porque tínhamos aquela sensação de que poderíamos conciliar a tática e a disciplina do futebol europeu, principalmente o alemão, ao talento do futebol brasileiro. Daria, quem sabe, uma somatória, criaria uma sinergia onde 2+ 2 daria 5. Não tivemos tempo para provar. Ele é jovem, tem 44 anos, jogou nos Estados Unidos até os 37 e está iniciando uma carreira de treinador. Vocês sabem que se jogador e depois ser treinador é completamente diferente. Ele veio para ampliar a sua experiência conosco, mas infelizmente não permaneceu. Eu seria leviano se julgasse que ele é isso ou aquilo, porque em 30 dias você não conhece ninguém.

"Gostaríamos que ele tivesse permanecido porque poderíamos conciliar a tática e a disciplina do futebol europeu ao talento do futebol brasileiro" [foto: arquivo]


GIVANILDO DE OLIVEIRA
Não adianta você ficar no micro. Eu penso de forma global, genérica, macro. Minha cabeça não funciona no micro. Acabamos de ouvir aí, uma notícia do Rio de Janeiro dizendo que o Flamengo contratou o treinador do Ipatinga. Já imaginaram se o Atlético contrata? Um treinador que jamais disputou uma segunda divisão, que disputou uma Copa do Brasil. Só. E está no Flamengo. O Flamengo pode porque a tevê Globo vai apoiar, a rádio globo… Agora, não é verdade que, como li hoje, o Atlético só traz ou promove. Nós tivemos mais de 30 treinadores, como o Leão, o Antonio Lopes, Geninho, Levir Culpi, Evaristo de Macedo e tantos outros. Não é verdade que estamos revelando o Givanildo. Ele tem 20 e tantos anos de treinador e quase o número igual de títulos. É resultado. Se estivéssemos com 12, 15 ou 18 pontos, o Givanildo era o melhor do mundo. Se tivéssemos na ponta da tabela, o Fleury, o Petraglia, o Carletto, essas pessoas do dia-a-dia, seriam os reis da cocada.

Se o time perder amanhã, diante do São Caetano, ele continua?
É a pergunta que todos nos fazem. O Givanildo vai ficar até o dia que ficará. É simples. Todos definem, a torcida, o elenco, o resultado, o Atlético, a nossa vontade, a dele, de todos. Ele ficará até o momento que ficará. Não estou enrolando porque não trabalho com futurologia.

ALOÍSIO
Por que ele foi emprestado? O Atlético errou ou foi enganado?
Nós precisaríamos de mais umas duas horas para contar esse caso porque é uma longa história. Realmente houve o empréstimo porque o Aloísio veio pedir uma oportunidade para jogar o mundial, que precisava faturar. Renovamos o contrato dele por mais um ano, ele concordou e emprestamos gratuitamente ao São Paulo, dando todo o faturamento do empréstimo ao jogador. E até para não dizer que nós emprestamos para faturar, se tivéssemos cobrado alguma coisa diria que emprestamos porque o São Paulo pagou e foi feito dessa forma. Foi feita para única e exclusivamente manutenção do jogador por mais um ano, transferindo os direitos a eles por esse empréstimo. Neste meio tempo ajudamos o São Paulo a conquistar o tri mundial, mesmo porque eles conseguiram isso com um passe do nosso jogador, mas fomos enganados e a história será contada, ou pelo jogador, ou pelo próprio São Paulo, o caso está na justiça. Estamos defendendo os direitos do Atlético. Lamentavelmente houve uma falta de ética e de um comprometimento. Nós queremos uma indenização por termos perdido uma oportunidade de repassar o jogador ao exterior, houve uma oferta e nós tínhamos condições para transferi-lo. Então essa história é complicada, longa, mas em resumo é isso. Vamos ver na justiça qual será o caminho.

CRÍTICAS
A nossa intenção é o Atlético. Aliás, o Atlético não vai voltar a ser topo porque não saiu do topo. Em 2004 fomos vice, 2005 fomos vice das Américas, ficamos em 6º no Brasileiro, nos classificamos para a Sul Americana, enfim, esse ano está só começando. A Copa do Brasil foi um acidente. Queríamos ganhar, é óbvio porque nós entramos em todas as competições para ganhar. Não passamos pelo Volta Redonda, pegaríamos o Grêmio, teria o Vasco, enfim, podíamos estar na final. Agora, o Atlético não saiu do topo. É um dos clubes mais respeitados no Brasil, considerado um dos maiores e melhores clubes brasileiros. Nós continuaremos investindo, confiando e trazendo jogadores.

EXCESSO DE JOGADORES
Outra crítica que ouço é o número de atletas que o Atlético traz. A seleção brasileira, por exemplo, com os maiores jogadores do mundo, testou 63 jogadores em quatro anos de eliminatórias, tendo a tranqüilidade de poder escolher.

(Luiz Augusto Xavier interrompe, corrigindo o presidente: São mais, foram 87 jogadores testados…)
Isso mesmo, eu sabia que era um número mais elevado. Como o Atlético não tem dinheiro e condições para trazer jogadores prontos, nós não vamos trazer jogadores para serem testados, para ver se darão ou não certo. É o nosso laboratório. São jogadores com potencial, talento e só saberemos se eles terão ou não condições, se serão grandes jogadores, se trouxermos esses atletas. Na teoria não funciona. Daí ouço que o time trouxe não sei quantos jogadores… Mas tem que trazer! Se não, como vamos testar? Depois ainda conseguimos revelar outros jogadores, como agora o Pedro Oldoni, que veio, foi pro Cianorte e voltou. Quantos passam, quantos ficam? Eu estou contratando grandes talentos que sejam indicados e que vão me garantir que darão certo. Eu ouço e leio direto, "por que não traz fulano, beltrano". Traz e vê se dá certo. Falar, criticar e sugerir são as coisas mais fáceis do mundo. Agora traga, ponha para jogar, dar certo e eu vou aplaudir.

CONCLUSÃO DA ARENA
Nós temos um acordo com o colégio que está sendo religiosamente cumprido. Eles estão pagando os aluguéis mensalmente e há uma promessa de nos entregarem a parte que nos resta até o final do ano. Parecia distante, “só em 2007”, mas já estamos em junho. Estamos dependendo também desta resolução da Fifa, da Conmebol, se poderemos concluir com 36 mil lugares ou ampliamos para 40 mil. A conseqüência disto é que teremos que reestudar o projeto. Há uma determinação interna, onde faço parte, de buscar recursos extra-futebol não mais com venda de jogador para a conclusão das obras. Ou seja, não sacrificar novamente o giro, investimento em jogadores e no futebol para investir na conclusão. E ainda temos outras intenções de ampliar o projeto, um complexo mais amplo. Estamos tentando propor uma Areninha multishow para 5, 6 mil lugares, pensamos também em outros produtos para faturamento e comércio, etc. Esses recursos vamos buscar para pagamento a longo prazo. Não será uma parceria, mas um financiamento para ser pago em 10, 12 anos, pagando com o próprio negócio, não com venda de jogador. Hoje já é uma constatação que, quando construímos a Arena era uma expectativa, daí surgiu a venda do nome, o que é uma realidade. Quando eu falava em vender o nome todos riam, hoje é um substancial no faturamento das publicidades que o Atlético faz dentro do estádio.

"No momento em que concluirmos a Arena a minha missão estará cumprida." [foto: arquivo]


NOVO PRODUTO
O Mauro Holzmann, nosso diretor de Marketing, considerado um dos melhores do Brasil, e que até tentou ajudar o clube dos 13, está trabalhando com a sua equipe várias inovações. Ele sugeriu este cachecol para os torcedores atleticanos e felizmente conseguimos a fábrica para a produção. O problema é a escala e o torcedor que não consome a sua paixão. Eu falo daqueles que têm, não dos que não têm. Eles não compram e não se preocupam, não falo dos marginalizados. Contra esta injustiça social eu me revolto. Destes não pedimos e nem queremos nada. Queremos dos que têm, dessa minoria privilegiada. Será que aqui em Curitiba não tem 30 mil atleticanos com condições? Por que só tem 2.500 que compram?

PIRATARIA
Nas esquinas próximas à Arena você não encontra materiais pirateados. Nós criamos e o Atlético ganhou um prêmio sobre isso. O Atlético foi expor no Congresso, na CPI da Pirataria, e foi o único clube para expor o case das camisas piratas e ninguém divulga. Vocês sabiam? Está no nosso site, todos conhecem. É a importância que temos que dar as nossas coisas. Enfim, o Mauro contou com a ajuda de autoridades, da polícia, e acabamos com os piratas. Foi criada uma camisa com um rótulo, não com a nossa marca. É barata, eles vendem, a venda é controlada pelos fabricantes e o Atlético tem um percentual sobre isso. Você não pode tirar a oportunidade dos menos favorecidos de que ao menos comprem as nossas coisas. Então nos varais têm essas camisas. Se tiver uma imitação da camisa do Atlético, vai preso. O único clube que tomou providências a este nível foi o Atlético. E está funcionando muito.

OUTROS ASSUNTOS
Até quando o senhor pretende estar à frente do Atlético?
O que eu não cumpri? Jamais alguém imaginou que o Atlético fosse campeão brasileiro, que teríamos uma estrela amarela no peito? Cumprimos tudo. Porque ser jovem, competente, vir e fazer time campeão é fácil. Tentar, né. Se se endividar depois quem paga a conta? É só olhar os outros clubes. Nem precisamos olhar para outros estados. Vamos pegar a nossa direita, a nossa esquerda, ver o nosso quintal. Quebrou o futebol paranaense. Os clubes do interior são ridículos. Todos na mão de empresários. E nossos co-irmãos? Será que eles têm condições de fazer times campeões? Se eu já tivesse cumprido a minha promessa, de concluir a Arena, já não estaria mais lá. No momento em que concluirmos a Arena minha missão estará cumprida. E, se me permitem, tenho a intuição de que se o Petraglia sair do Atlético jamais alguém vai se preocupar em concluir a Arena e tentar fazer times campeões. Eu vou tentar terminar isso que iniciei. E que depois venha outro que trará mil facilidades que não herdei. Pelo contrário: eu herdei um time quebrado, na segunda divisão, sem ter onde treinar, sem refletores no estádio e dois ou três jogadores de média qualidade. Fomos recomprar o Paulo Rink, que tinha sido por 60 mil dólares para a Chapecoense e hoje temos um estádio inacabado, mas que vamos concluir, temos onde treinar, jogar, parcerias no Brasil inteiro e filas de jogadores querendo estar no Atlético.

O que é mais difícil: administrar o dia-a-dia ou os empresários que querem vender jogadores, tirando proveito de um time com o Atlético?
O mais difícil são vocês! (risos) O resto a gente tira de letra, vai por mim. O duro é a imprensa, destrutiva, tendenciosa, lógico, sem generalizar. Mas é difícil de engolir, lidar e digerir. Tenho total boa vontade, desde que tenham comigo também. Eu fui estigmatizando pela imprensa, não só local, mas de modo geral. Depois daquele episódio de 1997 me transformaram em um bicho que nunca fui. Agora as pessoas não me conhecem e esta aí, veja se tem algum outro projeto como o Atlético tem parecido no Brasil. Mas voltando à pergunta: a faculdade da lei e os direitos federativos existem. Existe a multa pela rescisão desse contrato, que a gente vulgarmente chama de passe. Então os empresários descobrem ou vão buscar futuros talentos, meninos com potencial e administram a vida deles. Porém, eles não se satisfazem com a participação no contrato deles, ou seja, aquele percentual de 10% que a Fifa permite pela transação do jogador. Eles querem participar dos direitos federativos, vamos chamar assim, a multa da rescisão. Então hoje os empresários querem o cachimbo, o fósforo, o chumbo, o pulmão… Querem a nossa vitrine, que a gente exponha o jogador, que valorize, venda por milhões de dólares o que eles descobriram. Eles querem levar, mas o que sobra aos clubes? Sobra o quê, se no Brasil o espetáculo não é vendido? Os clubes sobrevivem da venda dos artistas. Se esse valor também for desviado do faturamento da receita do clube, vamos sobreviver do quê? Somos criticados pelo preço do ingresso, que o rateio das cotas de tevê não é condizente, que o mershandising não funciona, que não se consegue patrocínios… E não sobrando o direito da transferência para os clubes não tem como sobreviver. Porque o Atlético construiu e fez o que fez graças a essa verba. Não foi bilheteria, mershandising ou torcida. A torcida é o grande patrimônio do clube porque é o potencial do mercado. O provável e possivelmente consumidor, mas que ainda não consome, pois não há essa cultura no Brasil.

O balanço divulgado pelo Atlético, o lucro de 25 milhões, é muito ou pouco?
Para nós é muito. Estamos investindo nas categorias de base, compramos o terreno ao lado do colégio, pagamos à vista, estamos investindo em quatro novos campos no CT, fizemos mais um hotel, investimos em jogadores jovens, ou seja, pagamos a conta e o déficit que o futebol gera mensalmente. Porque ainda o futebol não é auto suficiente.

Pergunta de um torcedor atleticano ao presidente: Por que os patrocínios não são nas rubro-negras? Há um festival de cores na Arena e deixa a casa com aspecto bagunçado. Se aparecer um patrocinador com a cor verde, o senhor vai deixar?
Bom, se pagarem bem e resolverem o nosso problema, a gente deixa! Brincadeiras à parte, não há dificuldade porque no final do mês quem paga a conta é o saldo bancário e nós precisamos de faturamento para continuar sobrevivendo. Obviamente não vamos violentar as nossas cores e tradições. Mas antes de qualquer sentimento ou paixão nós temos a razão e o compromisso de pagar religiosamente em dia como fazemos há vários anos. E dizem que isso é uma virtude, mas não passa de obrigação, pois quem está errado é aquele que não paga e deve ser penalizado. Esse balanço mostrou que de 2004 e 2005 o Atlético cresceu 700% no faturamento da Arena, sete veze maior de um ano para outro. Porque vendemos o nome para a Kyocera, que, por sorte, as cores são vermelho e preto. Então não tivemos dificuldades. Agora deixar de faturar por questões pequenas não tem sentido.

De uns tempos pra cá, o Atlético não está mais mantendo a comissão técnica independentemente da chegada ou saída de um treinador. Agora vem apenas o técnico e o auxiliar, no máximo. Como o senhor explica isso?
Uma ótima pergunta. Você vai aprendendo, vai se ajustando a uma realidade que você pensa, mas que no final é outra, os tempos mudam. Realmente nós sempre tivemos essa cultura de manter uma comissão técnica própria. Mas hoje não acreditamos mais nisso. Estamos vendo a possibilidade de um treinador trazer seus próprios colaboradores, porque se criam várias regras impostas pela comissão técnica que às vezes conflita com a filosofia do treinador, do comandante, da responsabilidade e dos resultados. O sistema na Europa e no Brasil é exclusivo de comando agora iniciando uma mudança. Com poderes absolutos do treinador. E quando a comissão é permanente, efetiva e do clube, às vezes acontecem conflitos de poder, vaidade e outros adjetivos. Então às vezes acaba atrapalhando, não é intencional, dolo ou culpa. Por achar que assim tem que ser melhor, hoje preferimos que venham juntos um auxiliar e um preparador físico para a equipe trabalhar com mais harmonia.



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