Domingão do Vadão
E veio o Domingo, era de tardezinha (êta pior parte da semana). Cheguei na padaria e me dirigi à funcionária:
– “Moça, me veja 11 francesinhos, por favor.”
– “O Sr. espera um pouco que já está saindo outra fornada, é só uns minutinhos. Prove estas rosquinhas enquanto isso.”
– “Tudo bem, obrigado.”
Notei que havia um Sr. de costas para mim, o qual parecia reconhecível: um biotipo de comedor de churrasco (mais que eu), meio calvo (menos que eu), tranqüilo, esperando a mesma, olhava a pilha de rosquinhas, mas como se estivesse bem distante dali.
– “Com licença, o Sr. é o Vadão, eu presumo?!”
– “Boa noite. Sim, sou eu.”
– “É, prazer, meu nome é Zé Comum.” (cumprimentei-o com a mão direita) meus parabéns!” – disse eu em meio a timidez de sempre.
– “Parabéns pelo que, meu amigo?”- achei que ele não gostou.
– “Olha, acho que deixa pra lá, talvez o Sr. não goste de falar disso fora do trabalho.”
– “Não tem problema, o pão vai demorar um pouco mesmo. Mas e aí, por que o Sr. me parabeniza?”
– “Bom, já que é assim (pensei: poxa, que oportunidade rara de me manifestar sobre o Atlético, imagina só: falar direto com o técnico! Não vou perdê-la). É que eu já pude ver diferenças no time, seu Vadão, e acho que a coisa vai melhorar.”
– “É, a gente trabalha para isso, agora com um pouco de calma a gente vai dando um padrão para o time.”
– “Vem cá, Vadão: você se incomoda de eu dizer algumas coisas do Atlético?”
– “Não, absolutamente, de forma alguma. Eu adoro o futebol e respeito muito a opinião do torcedor.” -ele pegou uma rosquinha da pilha e começou a comer. Aí eu me animei, também peguei uma e soltei o verbo:
– “Olha, vamos começar pelo principal problema: ao meu ver, naquela zaga não adianta jogar com 3 zagueiros pelo seguinte: sempre tem atacante adversário sozinho, eles (nossos zagueiros) só marcam a bola e esta viaja muito mais rápido do que o atacante, não há entrosamento. Então é melhor botar só 2 na zaga e um a mais na meia ou até no ataque, porque é constante o perigo de gol, então assim a gente pelo menos tem mais chance de fazer mais gols com mais um homem de frente, toma mas faz mais, entende?”
– “Bem, isto é relativo. Assim eu perco um homem de contenção e aumenta o risco de tomar mais gols ainda.”
– “Pra mim, Vadão: Danilo já era e esse Alex é muito lento pra ser marcador de anões velozes tipo aquele gárgula do Tevez.”
– “Tevez é um bom jogador, que prima-se pela sua raça.”
– “Aquele Ivan devia ter ficado na Ucrânia, voltou congelado, porque todos os gols saem pela esquerda, e o apoio dele é muito fraco, quando consegue chegar lá na frente ou cruza baixo ou dá um peido de véia e sempre pra fora. Tá na hora de botar este Michel.”
– “O Ivan é um cara esforçado.”
– “O Jancarlos só tem um problema: precisa de umas consultas com um bom psicólogo, ele é que nem o Fabiano, aquele lateral esquerdo, lembra? Vive sendo expulso. Tem que ser alguém que dê um esporro nele mesmo, não adianta botar estas psicólogas sensuais e gostosas que os caras ficam pensando em meter outras bolas…”
– “Isto não tem nada a ver, é que ele participa do jogo mesmo, então está sujeito a isto.”
– “E o Batoré?”.
– “Quem é esse?”
– “O Cléber Mexerica, ele tem uma dificuldade enorme de se posicionar corretamente nas faltas. Isso vem desde o Ricardo Pinto, Flávio, o Pebolin(Diego) e por último o Tiago Cardoso (que vai ganhar uma placa pelo maior frango da história na Arena, uma placa escrito: 3º goleiro): será que é o mesmo treinador de goleiros ainda, que não sabe ensinar?”
– “Isto eu já passei e está sendo melhorado. Cléber ainda vai ser Bola-de-Prata, você vai ver”.
– “Puxa, o pão deve estar quase quente, quem tá esfriando ultimamente é o Terra-Samba (Alan Bahia): passa errado, anda se arrastando. até parece que…sei lá.”
– “Mas você só vê o lado ruim da coisa?”
– “Sim Vadão, pois o lado bom todo mundo sabe. Que o Ferreira tá jogando por todos, que o Denis Marques (tic nervoso) tá voando e que o Cristian já ganhou a posição, isso todos viram. Só o Galináceo é que ainda não fez jus, parece que tá com seqüela da gripe do frango.”
– “Eu dei força pra ele. Aliás, para todos.”
– “Sim, eu sei. E quem tá precisando de força é o Marcelo Silva, o Válber e este piá Marco Aurélio que pelo jeito veio pra ficar.”
– “É claro, eu tenho boas peças de reposição.”
– “É isso aí Vadão! Você tem agora até um capitão de verdade no banco, um cara que tem comando, tem voz ativa e leva amarelo mesmo fora do campo: o César, que vai ser a solução da zaga!Junta ele com o João Leonardo ou o João Guilherme que tá feito!”
– “Eu não reclamo do plantel. Mas, diga cavalheiro, o que mais o Sr. quer?”
– “Eu acho que não precisa de novas contratações. É só variar, estufar o peito e mandar estas figurinhas carimbadas pro banco (Dagoberto, Alan Bahia, Alex) e outros pro chuveiro (Danilo, Ivan, Fabrício, Herrera, Willian do gol espírita e, pelo amor de Deus aquele Alessandro Lopes, que voltou tipo Hell Raiser, o “renascido do inferno”). Que tal você mudar e sair com Cléber, Jancarlos, César, João Leonardo e Michel; Cristian, Marcelo Silva, Válber e Ferreira; Denis Marques e Marco Aurélio? Aqueles 3 no banco mais o Navarro, o João Guilherme e o André Rocha. Pô, Vadão acho que ficaria legal.”
– “Ah, ah, ah…me diz uma coisa, meu nobre torcedor: o que você faz da vida, além de sonhar?”
– “Engana-se Vadão. Primeiro eu sonho. Depois é que eu vivo. Meu nome é José Comum. Trabalho como numa empresa de mudanças. Elas estão no meu sangue. E sei que só através delas pode se chegar ao destino. Um destino melhor. Isto dá sentido à própria vida. A vida por si só exige mudança. Para então se chegar ao destino, aquele que está no sonho…”
Silêncio…
– “Senhores, aqui está o pão, quentinho! Desculpa a demora.”
– “Obrigado e boa noite a todos”- disse Vadão educadamente e foi saindo com um carrossel de pensamentos na cabeça.
– “Moça! “- disse eu em voz alta. “Me dá mais 5 rosquinhas!”
Na fila do caixa:
– “Desculpa, Vadão. Estou agradecendo a sua atenção em me ouvir, eu, um simples torcedor. Por isto aceite aqui estas 5 rosquinhas: é bom variar. Viver só de pão a gente enjôa. E você acabou de ver que rosca nova é bom.”
– “Muito obrigado, vou experimentar!”
– “Saudações Rubro-Negras, Vadão!”
– “Igualmente, Sr. Comum.”
E veio a segunda-feira…
Glossário:
Sr. Comum: eu
Comedor de churrasco: Oswaldo Alvarez
Rosquinhas: César, Michel, Marcelo Silva, Válber e Marco Aurélio
Pão véio (que nem cachorro quer): Danilo, Ivan, Fabrício, Herrera, Willian e Alessandro Lopes
Moral nº 1 da estória : “se você acha que é capaz de fazer uma coisa, comece-a: a coragem traz consigo gênio, poder e magia” – Goethe (escritor de cabeceira do Petraglia).
Moral nº 2 da estória: “roscas, o outro lado bom da vida: experimente!” – Sigmund Freud.
ps: qualquer conotação ou alusão sexual ou homossexual à “roscas”, é mero desvio de comportamento e de identidade sexual reprimida: neste caso, procure um psiquiatra ou uma irmandade gls qualquer.