30 jan 2007 - 9h59

Petraglia explica os projetos

A diretoria do Clube Atlético Paranaense concedeu entrevista coletiva na noite desta segunda-feira em um hotel de Curitiba. Estiveram presentes repórteres de diversos veículos de comunicação e também os principais dirigentes do clube. Mario Celso Petraglia e João Augusto Fleury da Rocha responderam às perguntas formuladas e esclareceram diversas questões relacionadas ao clube. Eles não quiseram tratar mais detidamente das contratações de jogadores e reforços da equipe em virtude dos prejuízos que podem ser causados nas negociações em função das especulações geradas. Neste quesito, o principal alvo de Petraglia foram os empresários dos jogadores.

Em relação à finalização da Kyocera Arena, o grande assunto da noite, Petraglia revelou que o clube não fará investimentos imediatos em função de que a perspectiva de realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil trará muitos recursos para a construção e reformas de estádios. Desse modo, não seria inteligente desembolsar grande quantidade de dinheiro neste momento e, depois, assistir a outros clubes serem beneficiados com financiamentos públicos e privados. De todo modo, o dirigente confirmou que a diretoria está em fase final de análise do projeto arquitetônico, que será anunciado nos próximos meses.

A expectativa é de que o Colégio Expoente desocupe o terreno até o final deste mês, possibilitando ao clube a posse definitiva do terreno já em fevereiro. Nâo foram revelados detalhes da obra, mas Petraglia confirmou que será retirado o fosso, que a capacidade será mesmo de 40 mil lugares e de que se pretende construir um ginásio, a universidade do futebol, museu e lojas no espaço anexo ao estádio. Confira os principais trechos da coletiva:

CAPACIDADE DA ARENA
“Nosso projeto inicial era de uma Arena para 36.000 espectadores, num estádio todo com cadeiras numeradas. Depois que o Atlético teve de disputar a final da Libertadores fora da Baixada, questionamos a Conmebol por diversas vezes, para saber se um estádio com tal capacidade mas com todo o conforto e segurança não poderia, a partir de então, sediar uma final de uma competição promovida pela entidade. Nunca sequer obtivemos uma resposta conclusiva por parte da confederação. Decidimos, então, por um projeto com capacidade final para 40 mil lugares. Os projetos já foram encomendados e em breve serão apresentados à torcida. Todos os estudos foram baseados nos estádios que abrigaram as copas do mundo da França, do Japão e da Alemanha, e este novo projeto já está totalmente adequado ao “caderno” de exigências da Fifa.”

COPA DO MUNDO
“O que já se sabe é que a Copa no Brasil terá como sedes o Rio de Janeiro (Maracanã), Belo Horizonte (Mineirão), Brasília (Mané Garrincha), São Paulo capital e interior paulista. Queremos que uma das sedes seja em Curitiba, na Kyocera Arena. Mas para isso precisamos do engajamento da sociedade paranaense. O clube, sozinho, não tem condições de se adequar a todas as normas da Fifa. Para se ter uma idéia, um estádio sede de Copa do Mundo precisa de um estacionamento com capacidade mínima para 1.500 veículos e no mínimo 300 cabines de imprensa. Além disso, é preciso resolver o problema do tráfego na região. Ou seja, é preciso o engajamento do poder público. A municipalidade precisa abraçar a causa. Não digo só a prefeitura, mas o comércio, que também seria beneficiado com um evento deste porte, e a sociedade paranaense como um todo.”

CONCLUSÃO
“Um grupo de engenheiros contratados por nós visitou 21 estádios pelo mundo. Estivemos em Dallas e Nova Jersey, para conhecer o que há de mais moderno nas tecnologias de acesso, de logística, os materiais. É preciso pensar pelo menos em 30 anos à frente. Já temos um estudo preliminar e já estamos em fase de contratação para os projetos hidráulico e elétrico. Nos próximos meses apresentaremos os projetos à torcida. E em fevereiro devemos organizar uma cerimônia para comemorar a posse do terreno do colégio Expoente”

PRAZO E RECURSOS
“Uma coisa é certa: a Arena ficará pronta mais cedo ou mais tarde. Mas não podemos novamente sacrificar o clube, nem seus sócios, para concluir o estádio, sabendo que o poder público terá que investir para trazer a Copa ao Brasil. Não podemos investir milhões para terminar a Arena agora na base do sacrifício e, daqui a um ano, ficar assistindo o poder público distribuir dinheiro para clubes reformarem ou construírem estádios modernos. Sem falar na pressão política, já que muitos dos estádios são públicos e estão sob a administração estadual. Por isso é preciso um engajamento da sociedade no sentido de que Curitiba seja uma das sedes da Copa de 2014.”

ADEUS, FOSSO
“Com a conclusão da Arena, vamos eliminar o fosso que separa a torcida do gramado. Queremos quebrar paradigmas. Em caso de um incidente na arquibancada, é preciso ter uma área de escape para o campo a fim de evitar tragédias. Estamos apostando que o torcedor atleticano do futuro saberá quais são seus direitos e seus deveres, terá a consciência de saber o que é certo e o que é errado.”

ARENA MULTIUSO
“Os projetos prevêem a construção de uma pequena Arena indoor multiuso. Estamos pesquisando e estudando para ver se isso é viável, se a cidade precisa de um equipamento como este. Há também a intenção de se implantar uma escola de cursos ligados ao futebol, a nível de pós-graduação.”

ESPAÇO PARA AS ORGANIZADAS
"Estamos estudando. A família se afastou dos estádio por causa da violência. Tem convivência do velho com o novo."

RELACIONAMENTO COM TORCIDA E IMPRENSA
“Qualquer medida que exija uma mudança de hábitos ou de costumes é considerada como antipática. Nós trabalhamos para atender à maioria da torcida atleticana, mas entendemos que uma minoria, na ânsia de ver resultados imediatos, acabe reclamando. Mas é preciso entender que nós ainda precisamos construir uma história, criarmos uma marca, ganhar o respeito que nós não temos. Qual é a nossa história dentro do futebol brasileiro? Estamos ainda muito atrás de Grêmio, Internacional, Flamengo… Enquanto estes clubes conseguiam conquistas internacionais nos anos 70 e 80 o Atlético inexistia no cenário nacional. Por isso agora temos que queimar etapas. E isso nem sempre é visto de forma simpática. Talvez tenha sido falha nossa, por sermos intransigentes, às vezes arrogantes até. Falo isso até como uma autocrítica, porque este projeto é algo que vem de dentro de mim. Então é assim: tentou prejudicar nosso projeto, não tem conversa. Até que cheguemos onde queremos chegar. Pagamos caro pelo pioneirismo, pela inovação, que muitas vezes não é bem aceita. Mas acho que essa fase mais drástica já passou.”

CAMPEONATO ESTADUAL
“Somos contra o Campeonato Paranaense. Só disputamos porque o calendário nos obriga. É um torneio incompatível com a pré-temporada de preparação para as grandes competições nacionais. E é deficitário. Não há condições de fazer futebol com um calendário desses. Nós pedimos a redução no número de clubes que disputam o estadual e não fomos atendidos. Atualmente são 16 participantes, e 14 deles são times de empresários – as únicas exceções são Atlético e Coritiba. Ouvi a imprensa elogiar o Cascavel por ter sido adotado pela família Beletti. Isso é um absurdo. Vão ficar no clube somente enquanto der lucro. Qual é o comprometimento dos empresários com a cidade, com a comunidade? Vão investir em estádios, em instalações, em escolinhas? Não, vão tentar vender alguns jogadores depois do campeonato. Se venderem, voltam no ano que vem. Se não venderem, dão adeus e não voltam mais.”

COTAS DA TV
“Não vamos aviltar o nosso produto. Nos sentimos insultados com a proposta (da RPC). Numa única partida, contra o Pachuca (pela Copa Sul-americana), arrecadamos R$ 600 mil somente de bilheteria. E agora nos oferecem R$ 40 mil por todo um campeonato. Não entendo como os outros clubes aceitaram isso. Vejam o que está acontecendo no futebol. A Libertadores está sendo formatada para durar o ano inteiro. A Toyota está perdendo o Mundial de Clubes para o banco Santander, que levará o torneio do Japão para o México. E nós temos que disputar o Paranaense, e nos oferecem R$ 40 mil pela transmissão das partidas. Temos que tirar do faturamento de outras competições para cobrir o prejuízo do campeonato estadual. Não consigo raciocinar essa contradição. Tenham piedade. Isso já caiu de podre. Mas ainda é a regra. Estamos nela e vamos em frente.”

JOGADORES E EMPRESÁRIOS
“Hoje há grupos que estão aliciando jogadores. Só escolhem aqueles que deram certo, não investem um tostão sequer. A transferência de atletas gera uma receita fundamental para a sobrevivência dos clubes e agora está sendo controlada e manipulada pelos empresários. Os clubes estão indo à míngua e os procuradores ficando milionários. Dia destes um site (Pele.net) publicou reportagem dizendo que nos tornamos um ‘clube de advogados’. Claro, fomos obrigados a isso. E vamos à Justiça sempre que quiserem tirar nossos direitos. É nosso dever ir até o fim.”

DAGOBERTO
“Tivemos quatro propostas objetivas de compra recentemente. Em 2006 o Hamburgo ofereceu 8 milhões de euros por 50% dos direitos do Dagoberto. O jogador levaria 1,5 milhão de euros por ano e ele sequer respondeu. Naquela partida contra o J. Malucelli ele foi irreverente e arrogante com a torcida, desrespeitou a tradição do clube. Eu fui ao vestiário e disse a ele que ele não tem moral para vestir a camisa do Atlético. O Dagoberto foi a pior coisa que eu vivi dentro do Atlético nesses 12 anos. Nada foi mais aviltante. Investimos nele por dez anos. Agora, ele quer ficar livre, sem dar retorno ao clube. E ainda por cima quer sair debochando, ridicularizando a instituição. Porque não é a mim que ele atinge. O que ele está fazendo é contra a instituição Atlético Paranaense.”

POR QUE TRAZER COLOMBIANOS?
"Pelo preço do jogador colombiano. O preço do jogador brasileiro de médio, alto nível está impraticável."

A PERPETUIDADE DO CLUBE
“Queremos perpetuar o clube e blindá-lo contra aventureiros. Temos que buscar uma maneira inteligente para que o clube não fique vulnerável como era no passado. No aspecto patrimonial, nunca mais ficará. O Atlético terá sempre onde treinar e onde jogar."

Com informações da Gazeta do Povo (Ana Luzia Mikos), Tribuna do Paraná (Cahuê Miranda) e Jornal do Estado (Silvio Rauth Filho).



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