Craque do passado, Zé Roberto completa 62 anos
José Roberto Marques, ou Zé Roberto. Atacante que defendeu o Furacão entre 1968 e 1970 e voltou a vestir o manto sagrado novamente em 1977, completou nesta quinta-feira 62 anos de vida.
Em campo, a torcida o idolatrava. Na rua, a polícia o perseguia. Este foi Zé Roberto, um dos maiores talentos da história do futebol brasileiro. Nos anos 60 e 70, era um craque indiscutível. Porém, indiscutível também era sua fama de malandro. Muitos dizem que ele foi um dos jogadores profissionais de carreira mais irregular e tumultuada do futebol brasileiro. O Gazela conseguiu a proeza de ser ídolo tanto no Atlético quanto no Coritiba.
Filho de Jerônimo, ex-ponta-direita do Corinthians nos anos 40, Zé Roberto começou sua carreira em 1962, no infantil do São Paulo. Em 1964, já estava na Seleção Brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio. Chegou no Atlético em 1968, juntamente com Bellini e outros jogadores consagrados que foram contratados pelo presidente Jofre Cabral e Silva. Logo, Zé Roberto se transformou em ídolo e marcou 24 gols no Campeonato Paranaense, sagrando-se artilheiro da competição.
Terminado o campeonato, o Atlético teve que devolver o atacante, pois não tinha Cr$ 100.000,00 estipulados por seu passe. Porém, volta e meia aparecia em Curitiba e era carregado em triunfo pela torcida atleticana. E tamanho carinho era recíproco. Zé Roberto comemorou com a nação rubro-negra a conquista do tricampeonato mundial, em 1970.
Antes de se tornar jogador de futebol, mesmo na várzea, Zé Roberto teve dois empregos: auxiliar de escritório e auxiliar de corretor da Bolsa de Valores. Viveu com seus avós, Cidália e Mário de Abreu, até os 13 anos, em Ribeirão Preto. Depois que terminou o primário, passou a jogar no infantil do Botafogo, escondido da avó. Depois foi para o São Paulo, onde passou a ser considerado o maior talento do clube. Porém, seus problemas individuais acabaram lhe prejudicando e ele conviveu com a fama de "jogador-problema".
Foi somente em função disso que o presidente Laudo Natel, do São Paulo, aceitou liberar um craque assim, de mão-beijada, ao Atlético. Depois da ótima passagem pelo rubro-negro em 68, voltou ao tricolor, mas o Atlético não escondia a vontade de tê-lo novamente. O problema era arranjar dinheiro para comprar o passe. Na época, falava-se que o tricolor paulista venderia o atacante por Cr$ 150.000,00 com Cr$ 40.000,00 de entrada e o resto a perder de vista.
Zé Roberto queria ficar e propôs que os dirigentes distribuíssem uma lista entre os sócios do clube para arranjar o dinheiro. Ele mesmo ofereceu Cr$ 3.000,00 e propôs ficar sem os 15% sobre o valor de seu passe. E então, foi promovida uma avant-première do filme Copa 70 . Também foi realizado um amistoso com o Grêmio, para comprar o passe o atacante. Porém, tudo não passou de Cr$ 10.000,00. Sem dinheiro, o Atlético desistiu de Zé Roberto e a torcida, entrou em desespero.
Três semanas depois, estourava a bomba: o Coritiba conseguia o empréstimo de Zé Roberto. Em seu primeiro treino pelo alviverde, as arquibancadas do Estádio Belfort Duarte estavam lotadas. Dias depois, o atacante estreou pelo Coritiba contra o Rapid, fazendo um golaço. Pegou a bola no meio-de-campo, driblou três zagueiros e chutou no canto, para delírio da torcida, que o aplaudiu em pé. Era um pequeno amistoso, previsto para render Cr$ 15.000,00, mas acabou dando quase o triplo.
Ao mesmo tempo em que marcava gols fantásticos, sua fama de boêmio crescia em Curitiba. Muitas e muitas vezes teve de ser buscado em boates por dirigentes, desesperados com a presença do craque no jogo do dia seguinte. Tornou-se consenso entre os que viram Zé Robero jogar que ele era um craque fenomenal, capaz de jogadas mais espetaculares do que as de Pelé; porém, que todo esse talento foi desperdiçado em função do comportamento extra-campo.
Zé Roberto sentia extrema necessidade de ser reconhecido e cumprimentado nas ruas. Não ligava muito para o dinheiro, mas gostava da fama que o futebol lhe proporcionava. Muitos classificavam a personalidade dele da seguinte forma: um adolescente anarquista. Horário, compromisso, autoridade, nada disso lhe importava. Muitas vezes, isso tudo perturbava-o demais.
Dos tempos de glória, sobraram só as lembranças, como a estréia no Corinthians, em 1974, vencendo o Palmeiras por 3 a 0, com três gols seus. Em 1977, aos 29 anos, voltou a vestir a camisa rubro-negra. Porém, a noite já havia vencido a disputa com a bola. Zé Roberto não tinha mais condições físicas de jogar profissionalmente e decidiu parar em um jogo na Vila Capanema, depois de se contundir logo nos primeiros minutos.
Atualmente, Zé Roberto mora em Serra Negra e trabalha para a Prefeitura no atendimento a crianças excepcionais.