31 maio 2007 - 10h55

Pesquisador avalia reflexos da Copa no Brasil

Nesta quinta-feira termina o prazo para que os estados que disputam para ser subsede da Copa de 2014 entreguem à CBF o questionário com as perguntas sobre a infra-estrutura oferecida pelas cidades-candidatas. Com esse documento, a CBF irá preencher o caderno de encargos da FIFA, apresentando aspectos técnicos para a candidatura brasileira ao Mundial. Neste contexto, o Atlético Paranaense estará representado, já que a Kyocera Arena é o estádio indicado pelo governo do Paraná para receber os jogos da Copa no estado.

Para avaliar as influências que a Copa do Mundo pode trazer ao estado do Paraná e ao Brasil, a Furacao.com entrevistou o professor Oliver Seitz, pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol (Football Industry Group) da Universidade de Liverpool. Seitz é o primeiro brasileiro a se tornar pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol, e também o primeiro brasileiro a dar aula sobre Indústria do Futebol em uma universidade inglesa. Além disso, ele é consultor de negócios esportivos, professor de Marketing Esportivo e Administração Esportiva da UnicenP e PUC-PR e colunista dos portais Cidade do Futebol e Máquina do Esporte.

Confira a entrevista:

O Brasil está muito longe de reunir todas as condições exigidas pela FIFA para sediar uma Copa do Mundo?
É óbvio que o país possui uma série de problemas sociais, tecnológicos e estruturais, mas isso não necessariamente implica em uma inadequação àquilo que a FIFA exige. Como a FIFA adotou publicamente uma postura de rodízio entre continentes, as exigências precisam ser adaptadas para cada região. A FIFA não pode querer que a África do Sul e o Brasil ofereçam as mesmas coisas que a Alemanha ou o Japão e a Coréia. Para 2014, a escolha é a América do Sul, e dentro da América do Sul, o Brasil é provavelmente o país mais apto a receber a Copa do Mundo. Como o rodízio de continentes foi uma opção da FIFA, ela tem que estar disposta a arcar com as possíveis conseqüências dele. Dependendo de como for na África do Sul, também, é possível que a FIFA ache por bem cancelar o rodízio e rumar para lugares mais seguros.

O que representa a realização de uma Copa para um país como o Brasil?
O Brasil possui uma história bastante peculiar em relação ao futebol. São poucos os países do mundo que utilizaram tanto o esporte como meio de criação da identidade nacional. Com isso, a Copa assume no país uma grandeza maior do que ela deveria ter. Por um lado é bom para o país, porque vai dar um objetivo para toda a nação, coisa que em uma sociedade tão fragmentada como a brasileira, é muito difícil de acontecer. O país todo, ou pelo menos uma boa maioria dele, trabalhará em prol de um bem comum. É questionável se uma Copa do Mundo, que é comandada por uma entidade privada, deveria ou não exercer tamanha influência no rumo de um país, mas não dá pra negar o fato. Por outro lado, o Brasil tem evoluído muito bem nas duas últimas décadas, muito por causa de uma política que busca a estabilidade econômica e os gastos contidos. O Estado corre o risco de ser pego no afã da comoção nacional, e pode querer dar um passo maior do que a perna, fazer investimentos maiores do que os devidos, e isso pode ter efeitos devastadores para o futuro do país. Para o mundo do futebol, o maior risco é que a Copa do Mundo reinflacione a percepção do mercado do Brasil e da indústria do futebol como um todo. A indústria do futebol brasileiro sofre, e muito, com uma supervalorização do jogo causada por anos de políticas populistas. O país ainda atravessa um lento período de adequação da estrutura do futebol à sua demanda. Enquanto esse equilíbrio não se estabelecer, dificilmente o mercado conseguirá evoluir. A Copa do Mundo pode desequilibrar ainda mais a balança, dando – e posteriormente cobrando – mais estrutura pro futebol do que ele de fato precisa, e isso pode prolongar bastante o desenvolvimento racional do mercado. Por outro lado, a Copa pode acabar fomentando a demanda, como por exemplo aconteceu na Alemanha. Mas como o público-alvo do futebol moderno, que é a classe média, praticamente não existe no Brasil, esse último cenário é improvável. A não ser que ela aumente até 2014, mas aí já é pedir demais.

Quais são as principais exigências da FIFA para que um estádio possa receber jogos do Mundial?
Eu não tenho acesso ao caderno de encargos da FIFA, portanto não posso responder essa pergunta com muita propriedade. Entretanto, dando uma olhada no guia de recomendação para a construção e remodelação de estádios da FIFA, é possível ter uma idéia do que ela exige. O guia está disponível no site e aborda questões bastante técnicas. Porém, ele enfatiza que são apenas recomendações, e não exigências, por isso fica difícil opinar. De qualquer maneira, a FIFA tende a se preocupar com alguns fatores mais específicos, como segurança do público, segurança da transmissão e proteção comercial do evento. Essa última conta com áreas de proibição de comércio no perímetro do estádio, dentre outras coisas.

Se a Copa de 2014 for confirmada no Brasil, mas o Paraná não for escolhido como uma das sedes, quais podem ser os prejuízos para o estado?
O Paraná já é um estado bastante subrepresentado nacionalmente. A ausência do estado no maior evento de mobilização nacional poderá ser bastante danosa, principalmente na afirmação do orgulho paranaense, que, aparentemente, já é bastante precário. Além disso, é uma boa janela principalmente para a fomentação do turismo. Ainda assim, mesmo sem um estádio, é possível se envolver de maneira periférica na hospedagem de seleções, por isso é difícil imaginar que o estado vá ficar efetivamente de fora da Copa. De qualquer maneira, dependendo de como for a coisa, ficar de fora não é inteiramente ruim. O estado pode se livrar de possíveis custos e compromissos posteriores à Copa e desenvolver o seu mercado de futebol com mais cautela. Óbvio que todo mundo prefere que o estado seja uma das sedes escolhidas, mas caso não seja, isso não representará o fim do mundo.



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