"E a camisa rubro-negra só se veste por amor!". Não há frase melhor para definir Zanetti, que defendeu apenas as cores do Furacão em sua carreira profissional. Se estivesse vivo, esse paranaense, nascido em Morretes, filho de imigrates italianos estaria completando 95 anos de vida neste sábado.
Ele formou com Caju e Augusto um dos mais perfeitos trios finais do futebol paranaense. Octávio Zanetti, um dos melhores zagueiros do Atlético nesses 80 anos de existência, começou sua carreira nas categorias inferiores do clube, passando logo a seguir para o quadro efetivo. Do alto do seu 1,90m, Zanetti foi um dos melhores cabeceadores da história do futebol paranaense. Dedicado e disciplinado, cumpria à risca o que lhe era solicitado dentro de campo. Manteve-se amador mesmo com a profissionalização do futebol paranaense, nos anos 40.
Naquele tempo, a situação do futebol local era bastante difícil. Não havia preparos técnicos, muito menos condicionamentos físicos. A maior parte dos jogadores trabalhava, além de atuar pelo Atlético. No caso de Zanetti, o futebol era jogado com amor, pois muitas vezes nem salário recebeu. De família italiana, ele trabalhava na padaria do pai e jogava futebol nas horas vagas.
Estreou no Atlético em 1931, com 19 anos. Seu primeiro Atletiba foi desastroso: o rubro-negro perdeu por 6 a 1 em pleno Estádio Joaquim Américo. Jogou no clube até 1933, quando a padaria passou a lhe exigir mais tempo. Assim, passou a jogar por diversão no Botafogo, time amador do Bairro Mercês. Mas em 1936, o Atlético convenceu Zanetti a voltar. O time não podia prescindir de um zagueiro com suas qualidades.
Retornou em 1936, ano em que conquistou o primeiro título de sua carreira. Não saiu mais do clube, completando no total treze anos de dedicação ao Atlético. Integrou muitas vezes a Seleção Paranaense, onde jogou pela primeira vez ao lado de Augusto, do Coritiba e formou a tão famosa parelha ao lado de Caju. Voltariam a jogar juntos no Atlético em 1945, ano em que Zanetti conquistou seu quarto título pelo Atlético e resolveu encerrar a carreira, com 33 anos.
Era extremamente forte fisicamente e não perdia dividida. Costumava dizer que ou passava a bola ou o jogador, nunca os dois. Quando se preparava para "chegar junto", costumava limpar a ponta da chuteira no gramado. Graças a essa mania, recebeu o apelido que lhe acompanhou durante toda a carreira: "Ciscador".
Depois que parou de jogar futebol, Zanetti também deixou de ir aos estádios. Não agüentava assistir ao jogo e não poder fazer nada para ajudar o seu Atlético, que atravessou anos difíceis durante as décadas de 50 e 60. Mas a paixão não lhe permitiu ficar totalmente alheio ao rubro-negro. Ouvia os jogos pela rádio, seguindo uma rotina meticulosa: instalava um aparelho em cada cômodo e passava o jogo inteiro andando impacientemente pela casa. Diante das derrotas, não poupava reclamações aos jogadores, usando sempre a mesma frase: "Esses caras não sabem jogar. Eles jogam de salto alto" .
Depois que deixou o Atlético, praticamente perdeu o contato com o dia-a-dia do clube. O amigo mais próximo dos tempos de jogador foi o goleiro Caju, que às vezes lhe visitava no supermercado "Felicidade", localizado nas Mercês. Caseiro, Zanetti saiu às ruas para comemorar uma vitória atleticana uma única vez, no título do Campeonato Paranaense de 1970. Nesse dia, voltou sentir na emoção de ser campeão.
"Atleticano debaixo até em cima" , como costumava dizer, Zanetti morreu em 1983, com problemas de saúde. Seu túmulo foi coberto com uma bandeira do Atlético, único clube profissional pelo qual jogou durante toda a sua vida.
Zanetti foi eleito para integrar a Seleção dos 80 Anos do Atlético.