7 jun 2007 - 14h08

Atirei o pau nos coxas

“Atirei o pau nos coxas / E mandei tomar no c* / Coxarada, filhos da p*** / Chupa a r*** e dá o c* / Hey, Coxa, vai tomar no c*”

Apesar de alguns palavrões, a música cantada há 17 anos pela torcida atleticana é uma das canções mais tradicionais e populares de torcida organizada no Brasil. Adaptada de The Wall, da banda Pink Floyd, hoje a canção virou uma espécie de segundo-hino da torcida do Atlético, numa “homenagem” ao Coritiba, tradicional rival do Rubro-negro no futebol do Paraná.

A música começou a ser criada em março de 1990, numa iniciativa do torcedor atleticano André Luís Gonser. André, que na época era membro da Torcida Organizada Os Fanáticos, admite que contou com a colaboração de diversas pessoas e de outros membros da torcida organizada para a composição da versão completa. “Eu digo que fiz 80% da música, o pessoal ajudou, eu não fiz sozinho. Mas fui eu quem apanhou para ter a idéia e a idéia original que foi levada para as arquibancadas”, diz.

Para saber mais sobre a história da origem da música “Atirei o pau nos coxas”, a Furacao.com entrevistou o atleticano André Luís Gonser no Slaviero Braz Hotel. Confira a entrevista exclusiva com o pai da homenagem à coxarada:

Como que surgiu a idéia de fazer uma música para “homenagear os coxas?
Eu apresentei a música no dia 17 de março de 1990, depois de ter levado uma surra da Império. O pessoal da torcida (os Fanáticos, organizada do Atlético) queria ir lá bater neles, eu falei que não adiantava. Aí tocava na rádio “atirei o pau no gato”, verão inspirada no “The Wall” (da banda Pink Floyd), daí eu comecei a mudar: “atirei o pau no coxa e mandei TNC”. Levei no dia 17 na Sinal Verde, que era a lanchonete que tinha na esquina da Baixada, e eu tocava violão, levei lá e comecei a tocar. A torcida estava indo para Foz do Iguaçu, o Atlético ia jogar em Foz, tinham dois ônibus que viajaram, mas também tinha bastante gente no dia que criamos a música.

Você levou a música pronta ou ela foi criada com a ajuda de todos?
Eu digo que fiz 80% da música, o pessoal ajudou, eu não fiz sozinho. Mas fui eu que apanhei para ter a idéia e a idéia original que foi levada para as arquibancadas. Teve uma parte, “coxarada fdp, chupa a r*** e dá o c*” que eu não tinha, daí não lembro se foi o Bacana ou o Pica-pau (ex-integrantes da Fanáticos), um dos dois criou. O “Hey, coxa, VTC” eu tinha, mas não tinha a outra parte que foi criada na reunião também: “e a galera rubro-negra dá porrada a bangu”. O resto fui eu quem fez.

A música estreou quando no estádio?
O primeiro jogo que a gente cantou foi no Pinheirão, contra o Paranavaí (no dia 21 de março de 1990). A gente foi cantando em todos os jogos, até todo mundo pegar. O pessoal se atravessava, muitos erravam a música. Teve também adaptações que foram feitas nas arquibancadas. Na parte do “coxarada” era “torcidinha fdp”. Aí na arquibancada foi adaptando, até que o coxarada que pegou. A própria galera foi mudando, adaptando

A música só se popularizou no dia da final do Paranaense de 1990?
No Atletiba da quarta-feira (no primeiro jogo da final) nós empatamos no último minuto, a galera já foi mais no espírito da raça daí, tanto que na quarta a gente quase não cantou. Aí no de domingo que explodiu. Agora não sei, o pessoal daquela época gostava só de rock, era uma música conhecida e aquela novidade de elogiar os coxas, o clima da final, pegou. Nessa final foi interessante, quando a gente cantava, eles ficavam quietinhos, até parecia que era para escutar, para tentar entender a música, para saber o que a gente estava cantando. Foi emocionante. Quando eu fiz, peguei o violão para criar, nem imaginava que ia pegar desse jeito.

Hoje a música é a mais tradicional da torcida do Atlético, virou quase que um segundo hino do time. Você imaginava tudo isso quando criou?
Eu não gosto dessa música sendo cantada em todos os jogos. Eu acho que a gente tem que esquecer que eles (o Coritiba) existem. Eles são bem inferiores a nós, temos que esquecer que eles existem. A música foi feita para cantar para os coxas. Quando o Atlético joga contra o Cianorte, por exemplo, a torcida canta essa música e eu não acho legal. Não acho legal porque tudo que é demais enjoa, desgasta, estraga. Eu acho que tem que cantar só quando a gente pega eles, ou quando eles se dão mal, uma data especial. Agora, todos os jogos eu não concordo. Eu quando vou em jogo e não é Atletiba sou um cara que não canto essa música. Eu não fiz a música para cantar para o Fluminense, por exemplo.

Música se popularizou no Atletiba da final de 90, no Couto Pereira [foto: GPP/arquivo]


O que você acha de outras torcidas copiarem a música e adaptarem para a rivalidade local de cada estado?
É normal, a torcida aqui também já copiou um monte de música dos outros. Eu acho que ficaria mais legal se ficasse só para nós, mas se copiaram é porque ficou boa. Eu só achei uma falta de criatividade os coxas fazerem uma resposta usando a mesma música. Pô, se querem fazer uma resposta, peguem outra música, criem uma música. Agora copiar, fazer um plágio da música que foi feita para eles, eu achei falta de criatividade, ridículo.

Muita gente diz que a torcida antigamente era mais vibrante do que hoje. Você concorda com isso?
Falar em vibração não tem como comparar como era na nossa época. Até porque hoje na torcida está cheia de restrições, tem dia que não pode usar instrumento, depois pode, aí não pode mais usar bandeira, não pode usar faixa, chega clássico e não pode mais usar camisa. Nós já fomos para Atletiba uma vez, no Porco Pereira (estádio Couto Pereira, do Coritiba), com 200 bandeiras. É diferente a empolgação com bandeira, o povo levantava junto.

A autoria da música é bastante discutida até hoje, muita gente questiona a sua autoria e outros se dizem autores da letra. Como você encara isso?
Eu já conheci um monte de autor dessa música. Eu tenho o jornal (reportagem da Tribuna do Paraná de 1990), que é da época, que prova. Quem era da torcida na época, que estava lá, sabe. Quem fala outra coisa é porque não estava lá. Foi feita na época que o Renato (Sozzi) era o presidente ainda, o próprio Renato pode confirmar, o Belotto (José Carlos Belotto, ex-presidente da Fanáticos) também pode confirmar. Não fiz sozinho, fiz 80%, mas o sentido fui eu quem deu.

Existe alguma fórmula para fazer uma música dar certo entre a torcida?
Não existe fórmula. Tem música que você acha que não vai pegar, chega no estádio e pega. E outra que você acha legal, lá no meio do povão não pega. A melhor experiência é jogar no meio da galera e ver se pega ou não. O estádio, a arquibancada é o melhor laboratório para saber se a música é boa ou não para a torcida.

Como você avalia a relação atual entre a torcida organizada, diretoria do clube e os demais torcedores?
Hoje tem um radicalismo meio forte. Está faltando alguém que saiba dialogar melhor, até com a diretoria do Atlético. A própria guerra que há entre a Fanáticos e a diretoria do Atlético gera também uma guerra com o restante da torcida. Eu acho que é tudo por excesso de radicalismo, de todas as partes.

Qual é a música que hoje você mais gosta de cantar no estádio?
Hoje é o hino do Atlético. Também hoje eu vou pouco nos jogos, não é sempre que eu vou, fico mais com as minhas filhas. O meu atleticanismo hoje está menor, primeiro são as minhas filhas, depois o Atlético. Mas eu gosto do hino. Antigamente, quando era mais novo, gostava de tudo, cantava de tudo, sem preferência nenhuma. Agora em Atletiba, aí dá gosto cantar a música para eles.



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