Nas décadas de 80 e 90, éramos pouco mais de dois mil abnegados. Enfrentávamos o vento gelado do Pinheirão e nossos olhos se distraíam com espetáculos de mediocridade protagonizados por um bando de pernas-de-pau. Não tenho saudade daquele tempo. Difícil comparar com o que possuímos agora: o melhor estádio, o centro de treinamento mais moderno, métodos científicos avançados, etc., etc., etc…
Durante alguns anos, recuperamos a dignidade. O retorno à Baixada, depois transformada em arena, nos encheu de orgulho. Chegamos a acreditar que seríamos invencíveis em nosso território sagrado. Aos poucos, porém, como num cuidadoso procedimento cirúrgico, uma nova verdade foi sendo construída. Os cartolas que edificaram os templos da modernidade logo perceberam que a pompa e a circunstância dos seus projetos combinavam mais com a alta burguesia da cidade do que com os modos rudes e primitivos de torcedores como nós. Fomos excluídos da festa. Roubaram-nos as bandeiras, as camisas, as cores, o nome. Roubaram-nos a felicidade.
A arena do caparanaense, outrora Caldeirão do Diabo do então Atlético, virou um monumento à tristeza e à agonia. Brindaram-nos com tecnologia, sofisticação e conforto. E com um time tão ruim quanto aqueles que testemunhávamos no banhado do Pinheirão. Não, não tenho saudade daquele tempo, do tempo do Pinheirão dos dois mil abnegados. Éramos pequenos e sem pretensões.
Diria, então, que tudo melhorou? Não sei. Eram magras as vacas que pastavam no velho e abandonado Joaquim Américo. Mesmo assim, conhecíamos o nosso clube, a sua identidade, as suas crises intermináveis. E o amávamos profundamente, a ponto de sermos capazes de incríveis demonstrações de paixão e loucura. Hoje, restam-nos os sonhos de grandeza e um time tão ruim quanto aqueles que tropeçavam nos buracos do Pinheirão. Temos o melhor estádio, o centro de treinamento mais moderno e métodos científicos avançados. Mas uma enorme distância nos separa da instituição à qual dedicamos a maior parte das nossas vidas. Eis a diferença fundamental entre o passado e o presente: os senhores da Kyocera do CAParanaense, os inventores de muros de vidro, não nos amam. Nunca, em nenhum momento da nossa história, estivemos tão sós, as seis mil testemunhas contemporâneas da mediocridade fantasiada de Atlético.
Até quando permaneceremos em silêncio?