1 nov 2007 - 0h08

Que pena, Grêmio!

Alguns jogadores e dirigentes do Grêmio protagonizaram cenas lamentáveis na noite desta quarta-feira na Kyocera Arena. Claramente destemperados, atletas do time gaúcho cometeram agressões covardes durante e após a partida. Nos vestiários, a pancadaria gerou danos físicos e materiais. Os atleticanos reagiram e o que se viu foi algo que não tem mais lugar no ambiente do futebol profissional. É preciso saber respeitar os resultados dentro de campo. Com a bola rolando, o Atlético venceu a partida por incontestáveis 2 a 0. Ferreira e Michel marcaram os gols da vitória e garantiram os três pontos para o Rubro-Negro. Festa atleticana, lamento gremista. A reação ao resultado deveria ser assim, mas infelizmente não foi.

Não é segredo que este jogo foi cercado de expectativas. Para entender melhor, é preciso voltar no tempo. No confronto do primeiro turno, em Porto Alegre, os times empataram por 1 a 1. Mas daquele jogo não se guardam memórias unicamente esportivas. Durante a partida, dois jogadores do Atlético sofreram violentas agressões físicas. O atacante Alex Mineiro levou um chute de Tcheco. As lesões na face do jogador o conduziram a uma cirurgia reparadora e a três meses fora dos gramados, em tratamento. O meia Evandro levou uma dura entrada do volante Itaqui que lhe custou quatro dentes e também um período fora dos jogos.

Evidentemente que tais acontecimentos gerariam uma reação por parte dos atleticanos. Ainda que se discuta se houve intenção dos jogadores em cometerem as agressões, o fato é que os atos mereceram reprovação por parte do então técnico Antonio Lopes e dos dirigentes Alberto Maculan e João Augusto Fleury da Rocha. Os dirigentes gremistas retrucaram os comentários de maneira agressiva, inclusive atacando pessoalmente o presidente Fleury. Após esse episódio, tomaram o Atlético por inimigo, e não por adversário. Primeiro foram declarações veladas, nos bastidores do Clube dos 13, contrárias aos diretores do Atlético. Depois, o assessor especial da presidência do Grêmio, Alfredo Oliveira, afirmou ao site UOL que torceria pelo rebaixamento do Atlético e classificou o time de "desprezível".

Clima tenso

Passaram-se meses. Neste período, o Grêmio se viu envolvido em outro episódio de jogadas violentas de seus jogadores. No jogo contra o Palmeiras, em São Paulo, os gremistas Gavilán e Sandro Goiano agrediram duramente o palmeirense Valdivia. Os atos mereceram reprovação por parte da mídia.

Quando a partida do segundo turno contra o Atlético se aproximou, os dirigentes do Grêmio se apressaram a anunciar que temiam uma represália em Curitiba e, portanto, pediriam segurança especial à CBF e ao Clube dos 13. Imaginavam que seriam recebidos de forma hostil e que os integrantes de sua delegação correriam riscos.

Pois nada disso ocorreu. Aliás, muito ao contrário: a delegação gaúcha foi recebida com extrema cortesia, com direito a camarote privativo e a todas as regalias que os adversários comumente recebem na Arena. Em troca, alguns gremistas perderam o controle e descontaram a raiva batendo em jogadores do Atlético. Não é assim que se faz futebol.

Violência

Durante o jogo, os volantes Sandro Goiano e Diego Souza cometeram faltas violentas, mas foram poupados pela arbitragem. Somente Tcheco foi expulso, por reclamação. Na opinião do jornalista gaúcho Luiz Zini Pires, o árbitro Wagner Tardelli deveria ter mostrado o cartão vermelho para Sandro e Diego, por faltas violentas, e para o atleticano Claiton, por provocação. "Ele deixou de expulsar o provocador Claiton, o agressivo Sandro Goiano e o descontrolado Diego Souza", escreveu Zini.

Mas pior do que as faltas desleais durante o jogo foram as atitudes depois do apito final e de consumada a vitória do Atlético. Primeiro, o peruano Hidalgo partiu para cima de Netinho e derrubou o atleticano com um empurrão gratuito, gerando um clima de conflito que foi levado para a sala de imprensa, que dá acesso aos vestiários. Lá, atrás de um pilar, escondeu-se o volante Eduardo Costa, jogador com passagem pela Seleção Brasileira e times do exterior. De maneira covarde, deu uma voadora em Claiton quando o atleticano concedia entrevista e depois correu para o vestiário gremista.

Antes disso, já havia ocorrido uma confusão envolvendo o volante Tcheco e o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mario Celso Petraglia. Os gremistas alegam que Tcheco teria sido agredido por seguranças particulares. Os atleticanos sustentam que Tcheco se sentiu debochado e partiu para cima de Petraglia. Depois, teria se autoflagelado para simular uma agressão. Este episódio conta com diferentes versões e ainda não foi esclarecido – talvez o seja com as imagens do circuito interno de televisão do estádio. Mas as agressões de Hidalgo a Netinho e de Eduardo Costa a Claiton foram aos olhos de várias testemunhas, o que torna ainda mais constrangedora toda a situação.

Lamentável

A atitude desses jogadores e dos dirigentes gremistas que vieram a Curitiba é condenável. Os primeiros, principalmente Eduardo Costa, Hidalgo, Diego Souza, Tcheco e Sandro Goiano, protagonizaram cenas de barbárie há muito não vistas no futebol brasileiro. Já os cartolas Alfredo Oliveira, Cesar Pacheco e Paulo Pelaipe endossaram as atitudes destemperadas dos atletas, censuradas até mesmo pelo técnico Mano Menezes durante a entrevista coletiva.

É lamentável que essas pessoas tenham produzido uma mancha na história do Grêmio, um clube centenário e de muita tradição. Algumas das principais páginas da história do futebol brasileiro foram escritas pelo Grêmio, sempre lembrado por times aguerridos e raçudos. Mas o que se viu na noite desta quarta-feira, Dia das Bruxas, foi um espetáculo deprimente. Não é possível confundir raça, fibra, luta e disposição com violência física e destempero emocional.

Nesta noite, o Atlético deu uma aula em todos os aspectos. Primeiro em campo, com um show de bola e uma equipe alegre e habilidosa. Depois no espírito guerreiro, na disposição para a vitória. Por fim, na educação e na civilidade. Pena que alguns gremistas não tenham aprendido a lição.



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