14 jan 2008 - 13h25

Comitê organizador planejará captação de verba

Escolhido como sede da Copa de 2014 – na verdade, foi o único candidato que se apresentou à Fifa – o Brasil inicia 2008 preparando-se para ser anfitrião do maior evento de futebol do planeta. Algumas garantias preliminares já foram registradas para assegurar a escolha do país e um caderno com mais de 3,5 mil páginas, incluindo obras que precisarão ser feitas até 2014, como avenidas, aeroportos, expansões de metrô, foi oferecido à instituição com sede em Zurique. Outras medidas começam a ser tomadas a partir deste mês.

Agora em janeiro, será formado o comitê organizador da Fifa, que será presidido pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Responsável efetivo pelos trabalhos deste comitê, o ex-presidente do Banco Central entre 1980 e 1983, Carlos Langoni, afirma que a função do grupo é dar a "modelagem financeira" para que o Brasil tenha condições de ser sede da Copa. "As pessoas normalmente encaram a Copa do Mundo como um mero evento de entretenimento ou esporte. Acima de tudo, ela é um evento econômico e, como tal, precisamos criar um marco regulatório para sua realização", afirma Langoni.

Langoni prefere ainda não falar em cifras, considerando prematuro qualquer estimativa. Adianta que o levantamento preciso deve estar pronto em meados de agosto, mas diz que, inicialmente, a Fifa disponibilizou US$ 425 milhões para gerenciamento da Copa. "Mas são valores imprecisos e incipientes, não podemos nos basear nisso", diz. Ele lembra que a Copa servirá para estimular investimentos da iniciativa privada e atrair recursos estrangeiros para o país.

Das 18 cidades que se apresentaram como candidatas a sedes dos jogos da competição, serão escolhidas entre 10 e 12. Um ano antes da Copa, em 2013, o Brasil sediará a Copa das Confederações, disputada pelo campeão da Copa da América, da Eurocopa, o anfitrião da Copa posterior (no caso o Brasil), da Copa da Ásia, da Concacaf (América do Norte e Central), da Copa da África e da Copa da Oceania.

Na visão de Langoni, esse "marco regulatório" servirá para transformar as eventuais sedes da Copa em "áreas especiais para captação de investimentos, especialmente em obras de infra-estrutura". Nesse grupo, formado para oferecer uma "orientação aos Estados", não haverá participação do Poder Executivo federal. "Queremos viabilizar projetos e tornar mais eficaz o manejo dos recursos públicos."

Da mesma forma como não antecipa os recursos necessários para a organização da Copa, Langoni afirma não haver condições de estimar os impactos positivos de um evento como a Copa na economia brasileira. "Não podemos nem estabelecer comparações com as copas anteriores, como as da Alemanha (2006) e Japão/Coréia do Sul (2002). São países que já têm elevada qualidade de infra-estrutura, transportes, energia. No caso brasileiro, estaremos saindo de patamares bem mais modestos."

Langoni também afirmou ser impreciso estabelecer comparações com o modelo que será adotado na África do Sul, em 2010. Os africanos vão investir, basicamente, recursos públicos para realizar a Copa. No Brasil, a maior parte dos investimentos deve vir da iniciativa privada. "Por isso, é fundamental um planejamento estratégico minucioso para tudo dar certo."

O ministro dos Esportes, Orlando Silva, confirma as palavras de Langoni. O governo quer que todos os estádios que abrigarão os jogos da Copa sejam construídos por empresários. A intenção é utilizar os modelos de estádios europeus, que incluem cadeiras numeradas, praça de alimentação, comodidade e conforto para os espectadores. Tanto que até o nome muda – em vez de estádios, passariam a se chamar arenas. "Queremos deixar o Brasil com arenas de última geração, com arquibancadas próximas ao campo, e muito conforto para os torcedores. Os modelos dos estádios brasileiros são de estádios olímpicos. Todos terão que ser reformados e, em alguns casos, novos locais terão de ser construídos."

Silva não descarta que haja tentação de alguns administradores públicos de construir estádios – muitos dos atuais são estaduais ou municipais. O próprio Engenhão, construído para as partidas de futebol do Pan do Rio, tem verbas federais e da prefeitura fluminense. "Nesses casos, o aconselhável é que, posteriormente, esses espaços sejam cedidos à iniciativa privada, por sistemas de concessão, por exemplo", afirma.

Mas o governo federal não pretende terceirizar toda as obras. Quinze dias depois da escolha do Brasil como anfitrião da Copa, o presidente Lula chamou o ministro Orlando Silva e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff e fez um pedido: cruzem as expectativas de obras apresentadas à Fifa com aquelas incluídas no PAC. "As que estiverem de fora, poderão ser incluídas no PPA (Plano Plurianual)", afirmou o ministro.

Esse cruzamento deve estar pronto em fevereiro. Ter uma obra do PAC em algumas das cidades candidatas a sede dos jogos não significa que o problema esteja equacionado. "Podemos ter uma obra em uma estrada que passa distante do estádio, por exemplo", disse o ministro. Mas, em linhas gerais, ele demonstrou otimismo. "Um país que promete investir, em quatro anos, US$ 280 bilhões em infra-estrutura, gera uma credibilidade externa considerável."



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