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24 mar 2008 - 18h19

O crime da bala

Ao tornar públicas imagens em que o jogador do Paraná é atingido por um objeto vindo da nossa torcida, a RPC fez um trabalho jornalístico. São os regulamentos que estabelecem punições ao clube que não adota medidas capazes de evitar esse tipo de incidente. Até aí, tudo bem. Havia interesse na divulgação da matéria. Mas convém desconfiar. As pendências comerciais entre o Atlético e a maior rede de televisão do Estado são notórias. Tem muita gente que nos quer longe das fases decisivas do melancólico campeonato.

A esse respeito, o furacao.com. acertou na veia. Fez um levantamento em que fatos semelhantes, de maior gravidade, passaram em branco, sem nenhuma repercussão. Também registrados pelas câmaras da “rede”, não sustentaram denúncias no “tribunal desportivo”. Nesses casos, as vítimas fomos nós. Mas, para a ordem vigente, “eles podem”. Está tudo lá, com objetividade contundente, na matéria “Quatro pesos, quatro medidas”.

O tema é cansativo. Particularmente, acho que arremessos de copos plásticos, cusparadas e semelhantes têm que ser coibidos. Mas a “lei” erra ao estabelecer penas severas para infrações miúdas. Não consigo assimilar a idéia de que um pedaço de material plástico provoque a interdição de estádios onde se reúnem milhares de pessoas. Aí vem o absurdo, que já vimos em outras oportunidades: os tais arremessos, inofensivos apesar de mal-educados, passam a se equiparar à pancadaria generalizada, que ameaça vidas e afasta o público que sai de casa em busca de lazer. Tem alguma coisa errada nisso tudo.

O Atlético foi denunciado porque uma bala perdida, desembrulhada e chupada por um nervosinho qualquer, roçou a orelha do jogador que se preparava para cobrar um escanteio. É obrigação do clube mandante adotar medidas preventivas e repressivas para garantir a “paz” nos seus domínios. Pelo que me consta, a Baixada dispõe de um bom sistema de prevenção. Teria faltado, no episódio fatídico, a necessária repressão ao agressor. Mas aí me vem a dúvida atroz: se não fosse o teatro protagonizado pelo grande desportista adversário, alguém conseguiria enxergar o confeito?

É razoável supor que profissionais da RPC tenham assistido à fita várias vezes antes de enquadrar o perigoso objeto. A imagem que nos mostraram foi aproximada, compondo um filme caprichosamente produzido. Clark Kent talvez captasse o projétil logo de cara. Para nós, desprovidos de super-poderes, o crime da bala não aconteceu. Ele faz parte de um mundo de fantasia, em que cartolas se travestem de homens sérios e a televisão finge que presta serviços públicos relevantes.



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