Evengelino: foi-se um grande advesário
Muitos podem não compreender estas próximas linhas, especialmente o mais jovens.
Mas devemos reverenciar a morte de um grande adversário, que aconteceu hoje.
Morreu Evangelino da Costa Neves, o homem que mais vezes foi campeão pelo Coritiba – e que mais vezes nos venceu, no campo e fora dele.
Alguns dirão: o JJ ficou louco!
Não, não fiquei.
Um dos segredos da vida é reconhecer a força dos outros – e ele, Evangelino, foi um forte.
Foi um dirigente líder, forte e poderoso, que manteve a hegemonia do futebol paranaense para o Coritiba, nas décadas de 70 e 80.
Eu o conheci nos anos 70, quando iniciava no Jornalismo, no caderno esportivo, no Diário do Paraná.
Convivi dois anos, como repórter no Coritiba – mesmo sendo atleticano roxo, mas mantendo-me imparcial e fiel aos fatos, como aprendi na escola e na profissão.
Não colocava minha emoção, meus sentimentos e opiniões em minhas reportagens. Só os fatos, da forma que eles eram. Comentários, impressões e opiniões são para os colunistas e comentaristas – não para os repórteres.
Por isso, Evangelino sempre me respeitou e eu o respeitei.
Uma vez fiz uma reportagem para Placar, com o Luis Afonso, ex-vice do Chinês, que bateu muito nele. Evangelino ficou p.da cara e cruzou comigo na José Loureiro. Cobrou explicações e eu apenas disse que aquelas acusações eram do Luis Afonso, não minhas e que ele deveria reler o texto da revista. Ele parou, pensou e me disse: ‘Você tem razão, estou furioso com a pessoa errada’. E me deu a mão.
Sempre, por todos estes anos, o trucidador do meu Atlético me tratou com cordialidade e simpatia.
Por isso, quando muitos adversários do coxa vibraram com aquela foto dele, idoso e aos prantos, pelo fato do Coritiba ter caído para a Segundona, meu sentimento foi outro.
Senti dó.
Fiquei triste ao ver aquele guerreiro derrotado. Aquele adversário admirável, porque era competente, chorando de tristeza e de vergonha.
Claro que sofri, como sofreram os atleticanos de minha geração (ou de anteriores) com as derrotas que o time do Evangelino nos impingiu.
Mas aprendi, também, a respeitar o adversário.
E foi assim, por anos, que fomos saco de pancadas deles – até 1995, quando viramos a mesa e geramos um novo Atlético Paranaense (que hoje transformou os coxas em nosso saco de pancadas).
Penso que, neste domingo, Evangelino merecereria um minuto de silêncio, antes do nosso jogo com o Iraty.
Seria uma homenagem póstuma a um grande adversário, que merece o nosso profundo respeito.
Sei que alguns vão me criticar por estas palavras, mas não faz mal.
Escrevocom meus sentimentos e minha opinião.
Nunca esperei agradar a todos, mas fico feliz com a minha consciência.
E a minha consciência, hoje, me diz que eu deveria prestar esta homenagem ao Evangelino – o maior adversário que já tivemos e que se foi, partiu, para o seu Alto da Glória.
Que Deus o tenha, ao lado do Jofre Cabral e Silva, Rubens Passerino Moura, e de tantos outros grandes líderes do futebol paranaense que já se foram.
Amém.