Atlético e rádios debatem cobrança por transmissão
Há muito tempo que um assunto não despertava tantos debates na comunidade atleticana. O comunicado publicado no site oficial do Atlético na última quinta-feira informando que o clube passaria a cobrar pela cessão dos direitos de transmissão radiofônica causou intensa repercussão. Mais de cem torcedores escreveram colunas para o Fala, Atleticano – um recorde absoluto na história do espaço. O tópico destinado ao tema no Fórum Furacao.com já conta com mais de 600 mensagens. Cinco colunistas do site escreveram textos com reflexões sobre a medida.
Fora da comunidade rubro-negra, a decisão da diretoria também causou polêmica. Blogueiros especializados em futebol comentaram a iniciativa pioneira no Brasil. Jornalistas renomados também. A Folha S.Paulo, normalmente restrita à cobertura dos times paulistas, abriu espaço para noticiar o fato. E, como não poderia deixar de ser, o setor também reagiu. A Abrace – Associção Brasileira dos Cronistas Esportivos divulgou uma nota oficial e dirigentes de emissoras de rádio do Paraná e de outros estados foram entrevistados para reportagens publicadas em jornais.
Para entender melhor os argumentos do Atlético e das rádios, a Furacao.com elaborou um questionário sobre os principais reflexos da decisão do Atlético e o enviou para as principais emissoras curitibanas: CBN/Globo, Banda B, Transamérica, BandNews FM e Rádio Mais. Apenas a Banda B não respondeu. Além disso, nossa equipe também ouviu a diretora de comunicação do Atlético, Luciana Pombo. O resultado você confere abaixo, torcedor atleticano.
Processo de decisão
Um dos principais argumentos levantados pelas rádios é o de que o Atlético tomou a decisão sem consultar os diretores das emissoras de Curitiba. "Foi uma decisão unilateral. O Atlético em momento algum manteve contato anterior com as emissoras de rádio para tratar do assunto, discutir a validade da medida e também se existia como viabilizar a condição. Todas as emissoras foram pegas de surpresa", afirma Moisés Machinsky, coordenador de esportes das rádios CBN e Globo.
O Atlético sustenta que a decisão não foi tomada de repente. É fruto de ampla discussão interna. Mas isso não significa que o clube está fechado a debater a questão com as empresas. "Não houve uma conversa prévia com as rádios. Mas há mais de um ano, discutíamos isso internamente e no Clube dos 13. Tanto que a intenção da cobrança ganhou a página da Folha de S. Paulo do dia 28 de março. As conversas com as rádios podem acontecer a qualquer tempo. Basta que queiram conversar", afirma Luciana Pombo.
A diretora revela inclusive que o Atlético já chegou a um acordo com uma emissora: "Nós já tivemos reuniões e fechamos contrato com uma rádio, cuja parceria deverá ser anunciada oficialmente nesta terça". Na tarde desta terça-feira, haverá uma entrevista coletiva na sala de imprensa da Arena da Baixada para esclarecer a decisão sob os pontos de vista jurídico, econômico e mercadológico.
Divulgação do clube
As rádios também alegam que fazem divulgação e publicidade do clube e não cobram nada em troca disso. "As emissoras de rádio são prestadoras do serviço. Divulgam e valorizam os times. É a oportunidade de igualar todo e qualquer torcedor. Quando o Atlético precisou divulgar a parceria com a Kyocera Arena, as emissoras apoiaram de graça", sustenta Rogério Afonso, diretor da Transamérica. "Foi esquecido que o veículo rádio é um dos principais fomentadores do esporte. A simples divulgação dos horários das partidas, assim como os noticiários diários dos clubes, leva o torcedor ao estádio e dá uma visibilidade gratuita para o clube", completa Machinsky.
A diretora de comunicação do Atlético discorda. "A transmissão de jogos não é marketing ao clube. Na transmissão, as rádios vendem quotas e exploram a marca do clube de forma gratuita. Ainda usam a estrutura da Arena para as transmissões de forma gratuita: cabines, técnicos, fios, água etc.", observa.
Direito
A questão jurídica também é objeto de controvérsia. "Acho que [a cobrança pela cessão dos direitos] é uma tendência natural, mas ainda não há embasamento na lei e que os valores estão muito acima da realidade do mercado. Acredito também que, isoladamente, o clube não conseguirá levar adiante a idéia", afirma Napoleão de Almeida, que coordena as equipes de esportes de duas emissoras: BandNews FM e Rádio Mais. O jornalista concorda que a cessão de direitos não deve ser gratuita e vê virtudes na polêmica: "Jornalismo não vende nem se compra, os direitos de arena, sim. Penso que a discussão é válida e bem acertada, o radiojornalismo estará dando um passo à frente na profissionalização".
Moisés Machinsky se apóia na opinião de um representante nacional das emissoras de rádio. "Segundo o presidente da ABERT – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, Daniel Pimentel Slavieiro, não existe respaldo legal para o clube exercer essa cobrança e que a Lei Pelé específica apenas o direito de transmissão televisiva. Dessa forma, a transmissão deve sim ser gratuita", alega. "Totalmente inviável e improcedente", acrescenta Rogério Afonso.
A tese jurídica do Atlético será revelada na coletiva desta terça-feira pelo advogado Fernando Azevedo Pimenta, do escritório Prandini, De Luca e Pimenta Advogados Associados, de São Paulo. Por ora, a diretora Luciana Pombo lembra que o clube não está proibindo a transmissão e nem impedindo os radialistas de trabalhar. "O que se cobra é apenas a transmissão – o direito de imprensa de comentar (positiva ou negativamente), fazer entrevistas, fazer credenciamento em jogos, continua. Só não transmite quem não quiser pagar pela transmissão", diz ela.
Valores
Por fim, a questão acaba chegando aos valores praticados. O clube informou que cobrará R$ 15 mil para ceder os direitos de transmissão de cada partida e R$ 456 mil por todos os jogo do Campeonato Brasileiro. "É exorbitante. Basta comparar com o que é cobrado por 64 jogos da Copa do Mundo", compara Napoleão. Ele diz que uma cota master de publicidade nas emissoras AM custa em torno de R$ 5 mil por mês.
"É um valor absurdo, completamente abusivo. O valor cobrado pelo Atlético simplesmente inviabiliza o trabalho das emissoras por uma questão muito simples: raras equipes esportivas de rádio conseguem ter uma receita como essa ao longo de um ano inteiro. O mercado publicitário de Curitiba não comporta o valor que deveria ser cobrado por cada cota de patrocínio para cobrir essa despesa", diz Machinsky, da CBN/Globo. "Nem o valor que pagamos para transmitir a Copa do Mundo foi tão alto", completa Rogério, da Transamérica.
O Atlético discorda da opinião dos radialistas. "O valor foi pesquisado amplamente pelo Marketing do clube, que analisou as receitas recebidas pelas rádios por conta dos programas esportivos. O Atlético está valorizando sua marca ao cobrar R$ 15 mil. E acredita que está dentro das condições de mercado", explicou Luciana Pombo. Ela mesma já trabalhou em rádios paranaenses e acha que as emissoras têm condições econômicas de adquirir os direitos nos termos propostos pelo Atlético. "Todas em que trabalhei, sim. Desde a CBN, a Transamérica, a Banda B. Todas têm reais condições de faturamento (ou tinham, dependendo da administração atual). Basta ter visão comercial. Se você valoriza a transmissão, seu patrocinador terá que valorizar também. Imagine quanto irá faturar a rádio que fechou com o Atlético se ela fizer a transmissão de forma exclusiva (se nenhuma outra se interessar)? Os valores ultrapassarão em muito os R$ 15 mil. Sem dúvida alguma", sustenta.
A Furacao.com perguntou à diretora de comunicação se o clube cogitava a hipótese de obter um espaço fixo na programação de alguma emissora para garantir a transmissão dos jogos aos torcedores ou se aceitaria reduzir os valores em uma possível negociação. Para a primeira pergunta, Luciana respondeu o seguinte: "Apenas faríamos isso se não houvesse interessado. Mas houve". Para a segunda, afirmou: "Agora que fechamos com a primeira fica difícil porque não poderemos cobrar um valor para uma e outro valor para outra rádio".
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