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19 abr 2008 - 11h18

Rádio e gratidão (ou falta de)

O rádio esportivo paranaense, há tempos, perdeu o seu charme. Carneiro Neto, o último cronista com conteúdo, não mais nos brinda com seus comentários ácidos, provenientes de uma inteligência muita acima da média. Na minha opinião, a última equipe esportiva que realmente empolgou foi a da Rádio Cidade dos idos de 1995/1996, comandada pelo próprio Carneiro e composta por radialistas do calibre de Capitão Hidalgo, Valmir Gomes e Remy Tissot.

O tempo passou, o futebol se transformou e a rádio FM veio para dominar o mercado radiofônico desportivo. Aliás, por mais paradoxal que possa parecer, essa transformação foi impulsionada por Mário Celso Petráglia que, em 1998, comprou a rádio CBN e convocou uma equipe esportiva que, pretensamente, seria a melhor já vista em Curitiba. Apesar de um início promissor, a equipe, por motivos políticos e econômicos, logo se desmanchou e, a partir daí, o rádio esportivo paranaense viveu um período de entressafra. Um verdadeiro limbo, em outras palavras.

Surge, no entanto, em 2002, uma opção inovadora. Sob o comando do saudoso Alexandre Zraik, a Rádio Transamérica chega, com uma proposta nunca antes vista, com o objetivo de exterminar a concorrência e dominar o mercado do rádio esportivo de Curitiba. Numa combinação inteligente de futebol/música/humor, a Transamérica logo se impõe, atrai para si a audiência da maioria esmagadora dos ouvintes e se firma como a principal referência do rádio esportivo do estado do Paraná.

Uma das razões, aliás, do estrondoso sucesso da Transamérica é a identificação do público jovem com a proposta da rádio, que deixa de lado práticas obsoletas, não abrindo espaço às velhas vinhetas, à narração gritada, aos comentários previsíveis e a outras práticas decadentes. Não posso afirmar que a Transamérica seguiu propositadamente os princípios implementados, a partir de 1995, pelo Atlético Paranaense, mas, sem sobra de dúvidas, a semelhança dos projetos é grande, ainda que cada um na sua área. Isso porque tanto o Atlético como a Transamérica buscaram o novo, o moderno, superaram o decadente e se transformaram, cada qual em seu campo de atuação, em líderes de mercado. O Atlético com a maior torcida entre os clubes paranaenses e a Transamérica com a maior audiência radiofônica.

Pois bem, há pouco afirmei que grande parte do crescimento da Transamérica deve-se ao público jovem, em busca do novo. Coincidentemente, ou não, o mesmo público que impulsionou o crescimento do Clube Atlético Paranaense. Ora, partindo-se do pressuposto de que no em 2002 – ano de criação da equipe esportiva da Transamérica, o Atlético já tinha solidificado seu público, não se chega a outra conclusão, senão a de que foi a torcida do Atlético a principal responsável pelo gradioso sucesso da rádio Transamérica.

Surpreendentemente, no entanto, deparo-me, na última quinta-feira, com integrantes da Transamérica comemorando, de forma absolutamente vulgar e inapropriada, a obtenção de uma medida judicial de tutela antecipada, onde, de forma provisória, concedeu-se à rádio o direito de transmitir os jogos do Atlético, independentemente de qualquer pagamento. Armou-se um circo: entrevista de 20 minutos com o advogado, gargalhadas e mais gargalhadas, comentários revestidos de cinismo, ofensas dirigidas à cúpula rubro-negra etc. Em certo ponto, o comentarista se glorifica por nunca ter mencionado o nome da Kyocera, quando fazia referência à Arena atleticana, como se a cessão de namingrights fosse algo maligno. Mais adiante, o mesmo comentarista se coloca em um pedestal por sempre ter noticiado as coisas do Atlético, sem ter, supostamente, nunca cobrado nada para tanto.

Mentira. Mentira deslavada. Sempre recebeu, e muito, para falar do Atlético. Sempre cobrou dos patrocinadores por inserções publicitárias, quando se falou do Atlético. O Atlético, especialmente para a Transamérica, sempre foi sinônimo de dinheiro. O público da Transamérica e do Atlético é o mesmo. Representa o novo, o jovem , a rejeição ao arcaico, enfim, o público alvo de todo o mercado publicitário. A Transamérica, no entanto, não reconheceu isto. Trata o Atlético com desdém, chegando ao cúmulo de afirmar que faz um favor à torcida do Atlético em transmitir as partidas do rubro-negro.

Ora, um favor faria se pagasse pela transmissão, na medida em que aí, de fato, estaria contribuindo com o crescimento do clube, proporcionando a montagem de uma equipe mais forte e, conseqüentemente, levando mais alegrias à nação atleticana. Mas, não, agarra-se na demagogia, tenta, insistentemente, ridicularizar as medidas inovadoras tomadas pelo Atlético. Foi assim com a setorização da Arena, com a contratação de Lothar Mathaüs, com a cessão de namingrights, e, agora, com a cobrança pelos direitos de transmissão radiofônica.

O mais curioso é que a rádio que mais deveria ser grata ao Atlético é aquela que mais esperneia, amparada no surreal pretexto de “defesa do torcedor”. Rádio Transamérica, o torcedor atleticano não é burro. Praticamente tudo que essa rádio conquistou se deve ao Atlético. Então, nada mais justo que o Furacão pleiteie uma fatia do lucro da rádio. Torcedor atleticano, não dê audiência a sanguessugas, prestigie quem prestigia o Atlético. Não se deixe enganar por discursos de ex-políticos, enterrados pelas urnas, fantasiados de cronistas.



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