Mudança de comportamento, urgente!

Passados cinco dias da perda do campeonato, já me sinto em melhores condições de escrever um texto neste nobre espaço que não seja fruto do que eu estava sentindo no momento, mas que seja o resultado de um esforço de reflexão.

Pergunto a mim mesmo: por que perdemos um título que desde o início do campeonato já parecia tão nosso? O que deu errado no meio do caminho para perdermos da forma como perdemos? Torcida? Jogadores? Técnico? Diretoria?

A torcida foi mais uma vez o destaque positivo. Não é de hoje que o maior espetáculo para quem vai à Arena é proporcionado pela torcida, visto que o time, há muito tempo, não dá um espetáculo técnico digno do público que tem. Qualquer palavra é imprópria para descrever o show dado por essa massa de torcedores da qual fazemos parte. Torcida que sofreu antes, durante e depois do jogo. Torcida que não merecia ser vice-campeã mais uma vez. Torcedor que se associou ao clube, passando a quarta-feira, 30 de abril para a quinta-feira, 01º de maio, esperando pacientemente na fila a sua vez para ser atendido e ter o privilégio de contribuir para com o seu clube de coração, sob o frio cortante da madrugada, sem dormir, sem reclamar de nada, e apenas feliz pelo fato se ser sócio do clube. Agora nos damos conta o quanto a Arena está pequena para essa torcida, visto que muitos torcedores sequer conseguiram retirar senhas para fazer um mísero pré-cadastro para adentrar o espaço destinado ao atendimento daqueles que queriam se associar. Gente que sacrifica seus parcos orçamentos domésticos em nome de uma paixão, muitas vezes não correspondida. Gente que permaneceu noventa e tantos minutos de pé, sem perder a esperança em mais um gol redentor, que gastou toda a sua energia para empurrar o time. E que deu exemplo de esportividade, saindo triste de campo, é verdade, mas que soube reconhecer o esforço dos jogadores não só naquele jogo fatídico, mas durante todo o campeonato, aplaudindo o que viu.

É muito triste relembrar tudo aquilo, escrever estas linhas e segurar a emoção. Nem acredito que perdemos. Mas a nossa torcida ainda terá muitas alegrias, pois merecemos. Tenho certeza.

Quanto aos jogadores, ninguém questiona que o elenco atual é limitado tecnicamente, mas neste 04 de maio de 2008, os jogadores atuaram além da sua capacidade. Se normalmente, quando lembramos de um jogo comum, citamos dois ou três jogadores que se destacam, nesse jogo quase todos jogaram bem. Jogaram no seu limite mental, físico e técnico. Contribuíram no limiar de suas forças. Netinho, enquanto agüentou, foi a alma e o cérebro do time. Que golaço de falta! Marcelo Ramos é o mais próximo hoje de um craque que o Atlético possui. Pedro Oldoni, por pura falta de sorte não balançou as redes. Merecia ter feito os gols que perdeu. Para quem o criticava por sua falta de intimidade com a bola, ele compensou tudo com sua vontade de acertar. E o Nei? Parecia mais um gladiador em campo do que um mero jogador, fazendo a nós, mais antigos, recordarmos dos laterais raçudos de outrora como Júlio e Augusto. Alan Bahia e Valencia fizeram tudo o que podia se esperar deles. A zaga estava insegura ( Danilo e Rhodolfo caíram muito de produção), mas Antônio Carlos é sem sombra de dúvida um dos melhores zagueiros da atualidade no futebol brasileiro. Até o Léo Medeiros compensou sua pouca habilidade com muita raça. Quanto ao Vinícius, ninguém pode execrá-lo pela falha no gol. Ele foi de uma regularidade impressionante durante todo o campeonato, fez grandes defesas, se destacou em muitos jogos e não é por um lance fortuito que devemos crucificá-lo. Aposto que ele será um dos grandes goleiros do Atlético e do Brasil. Lembro do Marcos do Palmeiras quando falhou naquele gol contra o Manchester United em 1999. Nem por isso ele se deixou abater, foi o titular do penta em 2002 e mesmo após várias contusões é respeitado até hoje.

Ney Franco teve a sua parcela de culpa nestes jogos finais. Entrou com um esquema desastroso no primeiro jogo e por sorte não fomos goleados. No segundo jogo, novamente a cautela predominou e o time entrou com um esquema feito para não tomar gols, mas que, por outro lado faz pouco gols. Três zagueiros, dois volantes e o Léo Medeiros marcando o Pedro Ken na lateral-esquerda, apenas com o Pedro Oldoni e o Marcelo Ramos na frente, não era um esquema para fazer muitos gols. Na virada do primeiro tempo um magro 1 a 0 era o produto desse esquema medroso. Com o gol do Marcelo Ramos parecia que as coisas mudariam. O Atlético naquele instante poderia ter matado o jogo e partido para uma goleada histórica. Ney Franco poderia ter arriscado mais. Poderia ter se aproveitado do momento ruim pelo qual os coxas estavam passando e ter lançado mais um atacante para bombardear a defesa combalida e aterrorizada deles. Mas, não. Ele nada fez, e o coxa, já morto, achou um gol. Daí o Ney Franco fez substituições horríveis e descaracterizou o time, que ficou totalmente zonzo em campo, sendo vítima do toque dos coxas, que facilmente cozinharam o galo até o final. Foi ridículo ver a inoperância do time nos vinte minutos finais. Mas não culpa dos jogadores. Culpa do técnico que se acovardou quando tinha o jogo nas mãos, que não foi ousado e que ao tomar o gol se desesperou e montou um esquema confuso que ninguém, nem os jogadores, nem ele próprio entendeu. De qualquer forma, ele ainda merece os nossos aplausos, pois foi um técnico sempre sóbrio, competente, que soube bem conduzir o time até a final – apesar de até hoje não ter conseguido remontar o time após o mini-desmanche do meio do campeonato – e por pouco não acrescenta mais esse título na sua carreira vitoriosa.

Quanto à diretoria, o que mais se pode falar sobre ela? Que ela é composta por pessoas que já fizeram muito pelo Atlético e que podem fazer muito mais, ninguém duvida. Todos são grandes atleticanos que sacrificam suas vidas particulares em prol do sonho de transformar o Atlético em um time grande. Mas o lado empresarial está embaçando demasiadamente a visão destas pessoas e por conta disso o Atlético, mesmo contando com uma torcida fanática, um treinador sério e uma equipe de jogadores guerreiros, foi derrotado mais uma vez.

Motivos:

Falta de interesse no futebol – vender jogadores importantes no meio do torneio!!!Vejo as fotos do Palmeiras campeão e o Alex Mineiro comemorando 3 (!) gols na final do disputadíssimo campeonato paulista. Lembro das atuações do Ferreira e do Claiton no Atle-tiba da primeira fase. Que falta eles fizeram nestas finais. Está certo. O futebol é negócio e o Atlético segue um teto de pagamentos, tem de aproveitar as boas oportunidades que surgem, etc. Imagino quantas vezes no futebol brasileiro não ocorrem propostas para os melhores jogadores no meio do campeonato para os outros times. O Fluminense mesmo recusou uma proposta pelo Thiago Neves porque sabe da importância dele para ganhar a Libertadores. Os times preservam os seus craques, pois querem ganhar títulos e sabem da importância da manutenção de um craque para isso. Craque hoje, craque daqui a 1 ou 2 meses. Espera pra vender depois. Talvez até valorize mais. Mas não, o Atlético tem de ser diferente. Tem de vender no meio do campeonato para provar a todos que segue a ferro e fogo a sua política salarial e de bons negócios. E o resultado está aí. Comparem a campanha do time pré e pós Claiton.

Falta de competência do departamento de futebol – lembram-se como era antes? Para cada craque vendido se encaixava outro como uma luva, e o time seguia mantendo seu alto padrão técnico. Não falo nem de grandes contratações, porque o Atlético nunca foi de contratar jogadores consagrados, mas ter a competência do olheiro, o faro do conhecedor de futebol para saber onde está o craque. Como era antes, trazendo jogadores desconhecidos do Maranhão, Alagoas, interior de São Paulo, Minas, do Paraná, do banco de alguma outra equipe e que ao vestirem a camisa rubro-negra mostravam que eram craques. Cadê essa capacidade? Se não tem mais, tragam gente que entenda de futebol para dentro do time e não apenas marketeiros e profissionais de tailleur e gravata. O rival campeão reforçou-se durante o campeonato paranaense e já fez excelentes contratações (Michael, Guaru) para o campeonato brasileiro. E o “caparanaense”? Continua com aquele esquema de trazer jogadores aos montes de uma parceiro, como era o Guarani e agora parece ser o Vitória, não para reforçar o time, mas para vender com lucro depois.

E as revelações da base? – antes surgiam craques como Dagoberto, Fernandinho, Jádson, etc, etc. Por que não surgem mais bons jogadores das divisões inferiores? O Atlético tem tido relativo destaque em competições sub-qualquer coisa, mas para onde vão os jogadores que despontam, que nem vestem a camisa titular? Nos últimos anos só o Guilherme (já vendido) e o Rhodolfo foram revelados. Muito pouco. Está faltando competência para revelar bons jogadores. Se Pimba, Renan, Eduardo Salles, Choco, Douglas e cia. são craques, só o tempo dirá, mas pelo visto até agora, não se pode esperar muito.

Falta de foco na conquista do campeonato – dá a impressão que o Atlético arruma mil e um assuntos para se esquivar do futebol como a dizer que o que menos importa é a conquista do campeonato. Tudo inoportuno e que só atrapalha o time na caminhada ao título. Briga com as emissoras de rádio, lançamento de camisas novas com jogadores posando como modelos, Copa 2014, bla, bla, bla, bla….. E assim os campeonatos passam, as derrotas se acumulam e o Atlético fica arranjando outros temas, como se o time de futebol fosse um assunto secundário e os títulos de nada valessem.

A atual diretoria atleticana não encontrou o equilíbrio entre condução do time tal qual uma empresa e as particularidades que movem um time de futebol. O lado empresa está falando muito alto e sobrepujando o futebol. Por conta disso, apesar de toda a organização que caracteriza o clube, os resultados em campo tem sido pífios comparados com a estrutura de que é dotado o clube atualmente.

E nem venham mais reclamar de falta de comprometimento da torcida, porque hoje a maior parte do estádio está vendida aos sócios.

Assim sendo, claro está que este título foi perdido em função da visão empresarial que dominou e domina os dirigentes atleticanos que não conseguiram ver a importância de um ou dois craques para um time, que não tem mais a capacidade para buscar bons jogadores (a eterna desculpa esfarrapada que “não há bons jogadores disponíveis” – hahaha, que piada, logo aqui no Brasil, celeiro de craques.) para reforçar ou para substituir os que inevitavelmente se vão, que não conseguem formar craques na base, e que preferiram desconcentrar o próprio time e a torcida com assuntos banais e criando polêmicas em momentos inoportunos.

É preciso mudar essa mentalidade de pensar só em negócios, business, empresa, lucros e pensar também no futebol. Chega! Mudança de comportamento, urgente!

Além disso tudo, ao final, a suprema vergonha de não permitir a entrega do troféu ao campeão.Tudo bem, odiamos os coxas e eles também nos odeiam, mas isso no campo, numa rivalidade sadia. O futebol, antes de ser um negócio, é um esporte e deve prevalecer o espírito esportivo sobre o espírito empresarial; é um entretenimento e tem o nobre objetivo de divertir e aproximar as pessoas. Saber perder também faz parte do jogo, não apenas ganhar. Seria um final digno pelo menos ter reconhecido a derrota e ter parabenizado o campeão. Mas não. Preferiu fazer um papelão, que mancha o nome do time e nos envergonha muito mais que a perda do título.

Dirigentes atuais – pensem bem e vejam se não seria o momento de passarem o bastão para outros atleticanos que tal qual vocês fizeram, podem fazer muito pelo Atlético. E se assim for, o façam de um modo digno. Uma transição suave, preparando bem o terreno para os que virão, para que possam bem administrar o time e a empresa. Nada de deixar a mesa revirada e a casa desarrumada para os que virão. Estejam certos que vocês já fazem parte da história do clube pelos bons serviços prestados, mas é preciso abrir espaço para outros bons atleticanos que queiram empenhar a tarefa de conduzir o Atlético. Estou seguro que bons nomes e candidatos capacitados não faltarão. E que esses atleticanos encontrarão o equilíbrio que falta e pensarão também no futebol e na conquista de títulos.