Fábula: ‘O Pastor & as Ovelinhas’
Era uma vez, nas longínquas terras do planalto das angustifólias, um determinado pastorzinho que levava a vida cuidando de suas ovelhinhas.
Decidiu-se ele por este ofício, outrora quando sob outro comando, elas conseguiram chegar até o ponto máximo onde poderiam: foi uma festa, ficaram conhecidas e famosas no reino inteiro, o que o motivou a tomar as rédeas daquele rebanho, mais tarde n’outra oportunidade.
Então pastor Maracelso durante anos bem as conduziu, atravessando todo o reino da Brasiléia, em busca de alimento, melhores pastagens para que elas pudessem mais adequadamente lhe dar o leite, couro, carne e também a tosa (lã), os quais eram responsáveis pelo seu sustento e de seu povo.
Certo dia, Maracelso deparou-se com um perigo que começou a rondar as cercanias onde repousavam suas queridas cabecinhas bovídeas: Mercadêncio, o lobo mau, que começou a atacar seu ancho rebanho indiscriminadamente, fosse dia ou noite, lá estava o cruel e calculista canídeo selvagem, arrebatando as coitadinhas, uma a uma, sem dó nem perdão.
Indignado, o pastorzinho resolveu contratar um cão (cachorro), para que este não deixasse escapar nenhuma desgarrada, a se tornar presa fácil para o voraz lobão.
Só que os cães contratados eram deveras fracos, em todos os sentidos, não conseguindo alcançar o objetivo de Maracelso, que era manter suas melhores ovelhas e cordeirinhos sob seu domínio, principalmente durante as viagens, a exibi-las como fruto de seu brilhoso trabalho.
Dentre eles, notabilizaram-se na memória do povo da região o cão Shar-Pei de nome ‘Carrossel Paulista’: começou bem, mas ficou doente dos olhos e não enxergava mais direito, tal que não as levava adiante, empacava feito mula no meio das viagens, tão devagar tornou-se seu ritmo; por respeito, foi encostado e chamado de vez em quando, quando da entresafra canina.
Um dia ele (pastor) mandou trazer de volta de Portugal um Fila Brasileiro, chamava-se ‘Cane Pior’, que também não foi feliz, tamanha era sua lerdeza mental. Outra vez ele arrumou um exemplar importado, da raça Dog Alemão, chamado Mathador, que acabou fugindo de volta atrás de sua cadela viralata.
Ninguém esquece do Mastim Napolitano (maior cabeça do reino canino), o ‘Tonho’ (muito parecido com o homem-elefante do cinema), que quase chegou lá, mas perdeu o controle devido às travessuras do borrigo Fabrício.
Recentemente viajava pasttorzinho com o Labrador ‘Funk’, que era muitíssimo bonzinho, por isto vivia perdendo ovelinhas para Mercadêncio, tantas que acabou abruptamente sucumbindo daquelas terras.
Cansado, Maracelso decidiu arrojar:
-‘Chega! Vou trazer um cão super brabo! estas ovelhas estão muito folgadas, não querem nada com nada! Afghan Hound(apelido de seu fiel ajudante), suba até a região nordeste do país onde há o temível Cão dos Baskervilles, o pior Americam Pit Bull Terrier de que se teve notícia, e o traga urgentemente para cá: acabou-se a moleza!’
E o danado veio. Chegou com fama de cachorrão ofensivo, que só atacava, não interessava quem estivesse pela frente. Tanta era a moral de ‘Bob Cão’, que Maracelso deixou inteiramente o comando do rebanho para ele, tinha total confiança no animal.
-‘Afghan! Não dê mais o Bonzo que dava para ‘Funk’: deve ser a ração o motivo do fracasso deles. Vamos dar ao nosso Pit Bull só carne de primeira. Vá comprar.’
E assim o fiel ajudante viajou mundo afora e trouxe das mais variadas e nobres carnes disponíveis para o cãozito.
Só que, como toda fábula tem seu momento de imprevisto, de espanto, ‘Bob Cão’ começou a reclamar da comida. Chegou a ponto de espalhar pelo reino
todo que tava só ‘no osso’.
Na verdade, ele não sabia era comer direito: desperdiçava muita comida, cuspia direto, vomitava às vezes, pois não digeria bem o bom alimento que lhe era fornecido, pois o coitado não estava acostumado com bons tratos, instalações, água e boa comida à bangu. Arrogante, o coitado pediu filé, mas que só chegaria dali a alguns meses.
E de repente, não mais que de repente, as ovelhinhas começaram a desfalecer no pasto. Cansadas, mal conseguiam andar, arrastavam-se na relva. Seu leite secou, os pelos enfraqueceram e o povo ficou enfurecido com a Peste do Timbu, nome que deram à nova doença altamente patogência e virulenta: atingiu todo o rebanho.
Preocupado, o povo da aldeia fez piquete na pracinha, querendo saber o que se passava sob o comando de ‘Bob Cão’, o feroz que latia sem parar à beira do campo.
Foi aí que a fadinha do destino trouxe um fio de luz à mente de Maracelso:
-‘Afghan: traga aquele cachorro aqui imediatamente! Vamos botar ele no paredão e ver o que está acontecendo!’
Trouxeram ‘Bob Cão’. Botaram ele no tapume da Itiberê. Mandaram os seguranças tirar sua roupa: ficou pelado, pelado, nu com a mão no bolso:
-‘Olha só, Maracelso! Não te disse que não valia a pena? Falei pra gente comprar outro Bernese Mountain Dog, que nem o nosso ‘Gênio’ de 2001! Você quis inovar, óia aí no que deu…’ – explicou ao pastor o escudeiro.
Tiraram a fantasia de Pit Bull. Por baixo estava escondido um Basset, o linguiça da Cofap: totó mais comum, sem graça, chato, late o tempo todo e não resolve bosta nenhuma. Pior é que não mete medo em ninguém. ‘Au-au’ mega previsível, só faz bagunça, zona. Não tá nem aí pras ovelhas: elas tão de greve, não querem mais este animal sonso por aqui, posto que uma coisa dessas não é digna do rebanho de Maracelso: não combina, entendeu, entendeu?
Possíveis ‘moral da estória’:
1.’compraram gato por lebre’.
2.’cão que ladra não morde’.
3.’não se desculpe: corrija-se’.
4.’a vida é dura para quem é mole’.
5.’fracassar é triste, pior é não tentar vencer’.
6.’é triste cair, mais ainda é não tentar subir’.
7.’na boca de quem não presta, o bom não vale nada’.
8.’não creio em homem que perde nem em mulher que acha’.
9.’se grito resolvesse, porco não morria’.
10.’adoro as rosas, mas prefiro as trepadeiras’.
ps: -‘Êta estorinha demorada, né seu pastorzinho?’