11 nov 2008 - 9h46

Dos pés à cabeça

Quais as semelhanças entre o gol de Léo Medeiros diante do Ipatinga na abertura do Brasileiro e o de Rafael Moura diante do Figueirense na rodada do último final de semana? Além de serem gols de cabeça nas únicas partidas que o Furacão venceu longe de casa até o momento, tiveram seu nascedouro em cobranças de falta do ala Netinho.

De lá para cá, muita coisa mudou no Atlético. O time trocou a parte superior da tabela pela briga contra o rebaixamento, técnicos vieram e saíram, jogadores foram dispensados e outros contratados. Mas uma jogada permanece forte no Furacão: as cobranças de falta de Netinho. Até a posição do jogador mudou: trocou o meio-campo pela ala-esquerda.

Mas as cobranças deste canhoteiro nascido em Itajaí, Santa Catarina, continuam sendo a principal arma do Atlético nesse Brasileirão para balançar as redes adversárias. Dono de uma venenosa canhota, Netinho recebeu a equipe da Furacao.com no início dessa semana e contou um pouco da atual fase do Atlético, diz o que acha que deu errado no ano e as perspectivas para o futuro.

MUDANÇA DE POSTURA DO TIME NO BRASILEIRO

A fase melhorou muito, se for ver o que era o time do Atlético há um mês, um mês e meio atrás dá pra ver que é totalmente diferente. Não só o time dentro de campo, mas a atitude, a cara que esse time estava demonstrando e isso transparece até na torcida que tem comparecido mais, que tem nos apoiado mais. Um exemplo disso foi essa partida agora diante do Figueirense, a gente passou por uns seis ônibus de torcedores indo lá nos apoiar e isso é muito importante, nos motiva ainda mais e com isso conseguimos uma vitória fora de casa, o que é muito bom. A fase melhorou muito, principalmente após a vinda do Geninho, que é um cara muito bom, ele é a cara do Atlético, a torcida gosta muito dele e ele conseguiu mexer com o nosso brio.

O QUE MUDOU

Por exemplo, os treinamentos. Por vezes tinha jogador que ficava meio chateado, parece que a gente treinava por treinar, sem aquela motivação. Hoje o ambiente é completamente diferente, há alegria nos treinos, o Geninho é um cara carismático, um paizão da galera. Nessa fase se tem uma pessoa que é a grande responsável pela mudanças essa pessoa é o Geninho.

“Todos estamos fazendo nossa parte, mas o grande responsável pela mudança é o Geninho” [foto: Georgia Andrade]

PREPARAÇÃO FÍSICA

Nosso físico estava ruim, mas também devido a muitas trocas de treinadores e também de preparadores. Cada um tem seu método, sua filosofia e você tem que se adaptar totalmente. Mas quando o Moraci (Sant´Anna, preparado físico que chegou em setembro) chegou ele fez um diagnóstico de cada um, “trancou” a gente por duas semanas e nessas duas semanas (interrupção devido aos jogos das eliminatórias da Copa do Mundo), foi muito bom, a galera botou na cabeça que precisa treinar muito essa parte mesmo. O Moraci é um sujeito que dispensa comentários, ele participou de seis Copas do Mundo, tem um currículo muito bom, é um cara que chegou pra somar, pra ajudar e em momento algum se colocou como o dono da verdade, como arrogante que sabe tudo, ele sempre mostrou que veio trabalhar junto com a gente.

Foi um conjunto que nos fez evoluir, cada um mostrou no que poderia ajudar, nós os jogadores, assimilamos isso e como o Geninho falou este final de semana, a gente era um grupo, mas agora somos um time, por isso que a gente tem conseguindo provar dentro de campo que essa fase mudou.

APOIO DA TORCIDA

Eu acho que teve uma fase que o time, não que estivesse receoso, mas não sentia segurança em atuar em casa. Nosso time era muito jovem, chegaram jogadores mais experientes na seqüência, e na hora do “vamos ver” o pessoal fica meio com medo de errar, de levar vaia e isso prejudicava sim. O jogador não tenta uma jogada mais aguda, um toque diferente na bola e isso é ruim.

O fator apoio do torcedor é fundamental para essa reação do Atlético. Aliás, deixo claro que ela NUNCA deixou de nos apoiar, mas nessas últimas partidas ela foi fundamental, dentro de casa melhoramos muito, quer seja no jogo contra o Cruzeiro ou mesmo contra o Sport que a gente não teve, e sabe que não esteve bem, mas ela apoiou, não foi embora, ficou nos apoiando, não vaiou, acreditou num gol no finalzinho e foi o que aconteceu.

Contra o Figueirense foi o que aconteceu, e é como eu falei, as coisas têm dado certo e com a torcida nos apoiando, agora então que voltaram a gritar o nome de cada jogador, o que eu acho bem importante, é um fator a mais para nosso time buscar ter mais força , mostrar mais luta dentro de campo, porque a gente também sabe que se não corresponder ela vai vaiar, vai acabar xingando.

VISADO PELA TORCIDA E PELA CRÍTICA

O papel da torcida é sim cobrar. Mas num momento difícil, e isso é de cada um, tem jogador que assume a responsabilidade e eu não tenho medo de arriscar, de tentar mesmo. Mas como eu já sou titular aqui por mais de um ano, eu tenho sim a obrigação de não me omitir, de ir mesmo pra cima, eu me coloco à disposição do time, quer seja numa cobrança de falta, num escanteio, num chute de fora da área, eu tento ajudar de alguma forma, eu sou assim mesmo com vontade de ajudar.

Às vezes o torcedor não entende até mesmo porque a gente estava numa fase muito ruim e a paciência do torcedor fica menor, mas como eu disse, com a torcida nos apoiando a atitude do time também muda e todo mundo procura ajudar mais, veja nosso ataque, que não vinha funcionando está fazendo gol em todas as partidas.

São vários fatores que estão nos ajudando a sair dessa fase ruim.

COBRANÇAS DE FALTAS

Eu me cobro muito (pelo fato de ainda não ter feito gol de falta neste Brasileiro), podem ter certeza. É uma característica que tenho, um dom que Deus me deu e eu tenho que fazer por merecer isso. E tenho treinado muito, não é falta de treinamento, não é falta de concentração, tenho treinado mais ou menos umas 150 cobranças por semana, de um lado, de outro, no meio, não só eu, mas depois do treino também o Antonio Carlos, o Zé Antonio que pega muito bem na bola, o Rafael Moura também vai lá de vez em quando e inventa de bater umas faltas (e boas), o Julio dos Santos, são vários que inclusive me ajudam bastante também.

Minha família brinca, meu cunhado me cobra bastante, neste último jogo teve essa cobrança que achei que foi uma bela defesa do goleiro do Figueirense, mas faltam ainda quatro rodadas pro final e quem sabe eu faço o meu golzinho de falta neste campeonato. Mas enquanto eu não estiver fazendo gol de cobrança direta, mas estiver ajudando com cobranças na área, na cabeça dos meus companheiros e em escanteios, também eu estou feliz.

Temos treinado muito essa jogada na área, essa bola lateral e isso é muito mérito do Geninho também, que é um cara que depois do treino, nos chama ali pra gente fazer e combinar a jogadinha, a bola parada e como temos um time alto com Rhodolfo, Antonio Carlos, o Chico, Gustavo, o próprio Rafael Moura, o Danilo quando estava no time tinha um bom jogo aéreo, e mesmo o Alan Bahia que não é alto, mas se coloca bem, tem o tempo de bola certinho, facilita meu trabalho.

Eu conheço como o Antonio Carlos quer a bola, eu sei como o Rafael se desloca pra cabecear e isso facilita bastante meu trabalho também. Mas eu me esforço, me cobro bastante também pra fazer meu gol de bola direta.

Netinho: “Eu me cobro muito, sei que tenho que continuar treinando muito as cobranças de faltas.” [foto: JORNAL DO ESTADO/ Frankiln de Freitas]

OSCILAÇÕES DO TIME DURANTE O ANO

O começo do ano foi muito bom, todo mundo viu, motivado, ganhando de todo mundo, mas perdemos alguns jogadores e aos poucos aquele clima bom foi se desfazendo. Depois que perdermos a Copa do Brasil (eliminado ainda na 1ª fase após perder em casa nos pênaltis para o Corinthians de Alagoas) e a partir dali nossa própria torcida passou a desconfiar do time, daí foi complicando. Mas mesmo assim fizemos a melhor campanha do Paranaense e perder como a gente perdeu o título foi muito complicado, foi um baque muito grande pra gente, ainda mais com a torcida acreditando e torcendo.

Mas faz parte de um passado, a gente sabe que o ano não foi nem de longe o que a gente queria, nós tínhamos o propósito de ganhar um ou dois títulos esse ano e não vamos ganhar nenhum e ainda passamos por tudo o que passamos nesse Brasileiro, e para um time do tamanho do Atlético não dá pra passar mais um ano sem conquistar título.

A gente aprende com os erros e faltam ainda quatro jogos esse ano e a gente vai fazer de tudo pra terminar o ano bem, em paz, pra ter a cabeça boa pra se preparar bem e fazer um ano que vem muito melhor, o torcedor pode ter certeza. Com planejamento, se preparando bem em todos os aspectos, em especial o físico pra que depois durante o ano a gente só mantenha. Eu tenho certeza que ficando com o Moraci Sant’anna e o Geninho a gente tem tudo pra fazer um ótimo ano em 2009.

A IMPORTÂNCIA DA BOLA PARADA

Veja que os times que estão na parte de cima da tabela também usam muito a bola parada. O Grêmio é o time que mais usa e o São Paulo tem o Miranda que cabeceia muito bem, o Borges e o Jorge Wagner que cobra as faltas cruzadas tem muita qualidade, de cada cinco cobranças ele acerta pelo menos três na cabeça dos jogadores do São Paulo.

Eu acho que o meu maior problema é a inconstância, se tem uns cinco escanteios eu coloco dois onde eu quero, um jogo errado, outro meio fraco ou muito forte, então eu preciso melhorar isso, ter mais regularidade, a perfeição não porque isso não existe, mas eu tenho que ser mais regular nas bolas paradas.

Hoje temos mais variações de jogadas, tem bolas que eu sei que tem que ir no primeiro pau ou no segundo, mas como eu digo, o que vale é o conjunto porque minha cobrança só vai ser boa mesmo se alguém aproveitar um escanteio bem batido, que pegue nosso jogador livre ou em condições melhores que o defensor, então é uma coisa coletiva, eu batendo bem, mas quem estiver na área estiver bem posicionado.

Entrevista concedida a Juarez Villela Filho e Marcel Costa



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