O que torna o Coringa invencível é que a chama que o move não é mensurável; está além da Razão, está além da Moral, está além do Bem e do Mal! Sua energia está apenas na leve, cínica e perturbadora frivolidade que há no divertimento impune a qualquer Moral. Pior, como combater alguém que não carrega em si o mais básico instinto de preservação? Como vencer alguém cujo objetivo não pode ser medido? Não são cédulas, não é uma vingança, não é o brilho de uma jóia, não é nada que tenha valor em nossa exígua visão mundana. Eis o seu charme e sua arma letal: a imprevisibilidade, a imensurabilidade, a perversão à Lógica!
Mas o Coringa não é nada alheio à nossa essência. Todos nós temos um pouco dele aprisionado nos bons costumes e nos repetidos contratos que assinamos vida afora: casamento, religião, educação… É o inadvertido sorriso que damos ao sabermos de uma fofoca da vizinha da frente ou o comedido e silencioso sarcasmo que, camuflado e involuntário, esboçamos ao ver o circo pegar fogo. Pintamos nossos rostos de branco e vermelho sob o véu da dor e da comoção. O Coringa é nossa fratura na casca do ovo de nossas almas! Por isso nos incomodamos com ele no telão; é o reconhecimento indecoroso de gretas de nossa essência. É através dessa fratura que nos fragilizamos frente aos inimigos, sejam eles as seduções do dia a dia ou, mais sorrateiramente, os motins para desestabilizar a união de forças por um objetivo, por um ideal ou mesmo por um Grande Time.