Crise paradigmática
Engraçado. Minha história com o Atlético remonta ao ano 2000. Não poderia ter escolhido melhor conjuntura para alojar no coração as cores rubro-negras. Parecia destino. Mal sabia o garoto de dez anos que em questão de meses ele poderia gritar a felicidade de ser campeão brasileiro.
Não raro, atribui-se a certo projeto iniciado em 1995 para tirar o clube da lama – stricto ou lato sensu – o sucesso da equipe orquestrada por gente boa de bola (não craques), como Souza, Kléberson, Incendiário e o Mineiro. Evidenciava-se uma pacificação neste sentido: o Atlético, assim como o Brasil, é (o time) do futuro. Seria injusto olvidar determinados êxitos posteriores a 2001, v.g. o segundo lugar no Brasileiro de 2004 e o vice na Copa Toyota Libertadores do ano seguinte. Ora, a ausência de um poder de decisão, pela lógica, conferiu-nos a alcunha de entusiastas do vice-campeonato, ainda que nada comparada à fama vascaína no Rio de Janeiro.
A necessidade que se impõe diz respeito, hoje, a uma reflexão acerca do que É o Clube Atlético Paranaense. É detentor de invejável estrutura, referência nacional, voltada ao desenvolvimento físico e estratégico de seus atletas? É candidato a algum título que se preze? É um emergente que planeja alçar vôos mais altos? Como se deduz, às demandas da realidade – apropriando-me indevidamente da estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn – não são mais encontradas soluções dadas no presente panorama. Seremos nós obrigados a aceitar um novo paradigma, o da mesquinharia, tanto no campo quanto em tudo que concerne ao futebol? Ou estaremos nós colocados na posição de resgatar aquele pensamento de um Atlético forte, que hoje, infelizmente, não mais corresponde ao mundo fático, sendo buscado unicamente nos devaneios mais apaixonados do torcedor.
É, desta sorte, oportuno o termo CRISE PARADIGMÁTICA. O espírito rubro-negro esmorece, deixando de condizer com a chama que se acendia no moleque gorducho anos atrás. Abre-se paulatinamente espaço à conformação com a mediocridade. Esqueça a fragilidade técnica do plantel, esqueça o pretenso achaque por parte da mídia, esqueça a indisposição da diretoria para com o futebol, esqueça o marketing perspicaz e inovador. Cada um destes elementos não passa senão de uma fagulha face ao quadro contemporâneo. Seja enxergado o óbvio: a incerteza sobre o ser, sobre qualquer ontologia do CAP permitiu o indesejável. Apequenamo-nos. O que nos é apresentado cotidianamente não corresponde a uma fase e muito menos a uma provação do nosso amor. Tem toda a pinta de um novo establishment, o paradigma da pequenez. A ciência que circunda nosso time se demonstra novamente revolucionária. Passamos do imponente ao tímido, do frutífero ao escasso.
Será tal constatação digna de um pessimista, de um cético? A meu ver, soa apenas sensato. Queira o futuro (mais uma vez ele) me provar censurável.