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23 jun 2009 - 13h02

Lanterna do Diógenes – II

Complementando a brilhante alusão do colega atleticano Elias Cordeiro, aqui vai um pouco mais do filósofo grego Diógenes de Sínope, só para ajudar-nos a compreender melhor a vida – coisa que a Filosofia faz muitíssimo bem – pois nada neste mundo já deixou de ocorrer, apenas nós é que não conhecemos… quer dizer, ainda não aprendemos.

Também segundo Bertand Russell, a morte de Sócrates foi o divisor de águas da cultura grega. A partir dela, começaram a surgir novos movimentos filosóficos. Antístenes, discípulo daquele, mostrava que “A é A… portanto não se pode dizer que A seja B…mesmo porque B não é A”. Então, aconteceu Diógenes, discípulo deste, um sujeito que levava uma vida tão primitiva quanto a de um cão, sendo apelidado como “cínico” (canino), originando a corrente filosófica do Cinismo. Alguns de seus “ensinamentos”, pois:

1. “A virtude praticada é o único bem digno, então deve o homem se afastar dos bens mundanos (influência socrática): quanto mais fracos são os vínculos que nos prendem, menor é a probabilidade de sermos feridos ou desapontados”. Os paranistas da segunda divisão lamentam proporcionalmente àquilo que conquistaram no mundo; não é à toa que nós NOS INDIGNAMOS COM O PARADOXO atual entre nossa estrutura e nosso “time”.

2. “Deve-se refletir sobre as condições éticas da época em que se vive: desfrutar a vida quando ela pode ser aproveitada, sem se lamentar quando dos revezes da sorte”. Bastando os revezes, não podemos aceitar as rotineiras e fracas justificações do infortúnio (arbitragem, eixo do mal, etc), e sim APROVEITAR E RESPEITAR DEVIDA E CORRETAMENTE aquilo que se tem hoje (torcida e estrutura), para então se poder evoluir.

3. “A felicidade está apenas no autodomínio e na liberdade: combater o prazer, o desejo e a luxúria, é buscar a auto-suficiência”. Afastar a dependência do mundo dos egos, das negociatas e das panelas, tendo PULSO E COMANDO SUFICIENTES para deixar de lado quem não está jogando/trabalhando nada e dar a chance para os que merecem, elegendo, contratando e escalando pessoal com liberdade e responsabilidade, sem compromissos escusos.

4. “Sou uma criatura do mundo e não de um Estado ou de uma cidade particular: concepção cosmopolita, em seus primórdios”. Quem se lançou ao mundo não pode limitar sua consciência às cercanias do Estado do Paraná, precisa fundamentalmente não de um simples planejamento qualquer, mas sim DO PROJETO COMPATÍVEL E ADEQUADO para tamanha jornada.

Morava ele num barril, seus pertences eram um alforje, um bastão e uma tigela. Como disse Elias, procurava homens verdadeiros à luz do dia com uma lanterna acesa. O Atlético não possui esta lanterna. Por isto só faz procurar homens no escuro, via telefone, os homens “B”. Nesta penumbra, não se pode encontrar os homens virtuosos e auto-suficientes, os homens “A”. Por isto contrata homens “B”, que não são os “A” que tanto necessitamos. Por exemplo, Muricy é “A”. Waldemar deve ser ‘D’.

Um dia, Alexandre o Grande, foi visitá-lo. Sensibilizado com a miséria do homem, pediu a Diógenes que fizesse um desejo, que el Magno o realizaria. O filósofo respondeu, à sombra do guerreiro, “afaste-se da minha luz”, ou seja, “saia da frente do sol”. Impressionado, Alex da Macedônia retrucou em voz baixa “Se eu não fosse eu, queria ser ele”. Passado o tempo, os dois morreram no mesmo dia, em lugares muito distantes.

Outra vez acharam ele pedindo esmola para um a estátua: ele explicou que ela era cega e não o via, além do que estava acostumado a não receber nada de ninguém e muito menos depender de alguém.

N’outra ocasião, em público e seminu dentro do barril, pegaram ele se masturbando. Disse que era porque os homens, infelizmente, não podem viver esfregando apenas a barriga.

Ou seja, está mais do que na hora do Clube Atlético Paranaense fazer valer o sentido do propósito do erguimento de tijolos e agregação de sócios, humildemente reconhecer os consecutivos erros, agir com independência total e irrestrita e retomar a ousadia que o fez revolucionar em 1995. Muito mais do que se esfregar, o Atlético precisa realmente penetrar no mundo.

Há quatro anos, o Atlético vive um transtorno temporal. Não se pode abandonar a magnitude de um sonho, mesmo quando chega o despertar.

Parabéns, Elias. Correntes filosóficas ajudam a mostrar razões. Mas isto não significa que tenhamos que padecer com elas. Senão o Atlético acabará como Diógenes, resumindo-se nu na solidão do barril, ora indiferentemente a empurrar com a barriga, ora onanisticamente a se manipular.

Deixemos de coisas e cuidemos da vida, porque senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moços, sem ter visto a vida.



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