“Eu nunca falei em herança maldita”, afirma Malucelli
Além de responder perguntas sobre a péssima fase do time de futebol do Atlético no Campeonato Brasileiro, o presidente Marcos Malucelli tratou de outros assuntos na entrevista exclusiva concedida à Rádio Transamérica nesta quinta-feira. Durante boa parte do programa, ele falou sobre a situação financeira do Rubro-Negro e deu esclarecimentos pontuais sobre questões suscitadas pelos entrevistadores.
A primeira providência do dirigente foi esclarecer uma expressão que se tornou corrente após a publicação de uma matéria da Gazeta do Povo no início do ano. Segundo Malucelli, o termo “herança maldita” para se referir ao legado deixado pela gestão de Mario Celso Petraglia e João Augusto Fleury da Rocha jamais foi utilizado por ele. “Eu nunca falei em herança maldita. Isso foi o jornal que noticiou, que usou essa palavra. Até certo ponto, eu sabia o que estava pegando porque era diretor jurídico do clube desde 2000, da gestão do Ademir Adur. Então, eu acompanho o futebol do Atlético desde 2000. Evidentemente, não tinha conhecimento do que se passava na área financeira e administrativa, até porque o clube era administrado de forma fechada. Não sabia de alguns compromissos que havia. Por exemplo: parte dos direitos que recebemos do Clube dos 13 já é retida para pagamento de antecipações feitas anteriormente. Então, não recebemos nem sequer esse milhão de reais por mês. Ficaram dívidas. Pagáveis, porque você paga com o rendimento mensal. Só que isso tira o valor do caixa. É pagável, mas desde que eu não tenha a despesa corrente. E daonde, se já há um déficit? Se essa renda não vem, eu tenho de fazer déficit e isso aumenta”, explicou.
De acordo com Malucelli, a diretoria está fazendo um sacríficio para pagar as obras do setor Brasílio Itiberê. “Em novembro, ainda na gestão anterior, o Atlético contraiu um empréstimo de R$ 4,5 mi para o anel inferior do lado da Brasílio Itiberê. Aquilo não era uma dívida, e sim um investimento, porque reverteria em renda para o clube. A intenção é estar pronto no dia 20 de agosto, com todas as cadeiras vendidas. A renda dessas cadeiras pagará o empréstimo da Caixa. Esse dinheiro da Caixa, tão logo nós o recebemos, foi destinado a pagamento do décimo terceiro, das férias de todos os funcionários porque já tínhamos furo de caixa desde o ano passado. Hoje, aquilo tudo que está sendo construído está saindo do caixa do dia a dia do clube. Hoje estamos construindo tudo aquilo lá com o corrente. Estamos pagando com o maior sacrifício e vai ficar pronto. É complicado, é difícil. Quem está fora não sabe que isso está acontecendo”, declarou, referindo-se às críticas de torcedores porque o clube não investe em contratações.
Jucilei
Marcos Malucelli revelou que no início do ano foi procurado por um conselheiro do clube, de nome Antônio Carlos, que recomendou a contratação do volante Jucilei, então no J. Malucelli e atualmente no Corinthians. Ele explicou que entrou em contato com o presidente de honra do J. Malucelli, Joel Malucelli, e sondou o atleta. “Bastava nós termos R$ 1,5 milhão para ficarmos com 50% do Jucilei. Foi o que o Corinthians Paulista pagou ao J. Malucelli por 50% do Jucilei. Como é que podemos ter um jogador desses por esse valor? Vou arrumar mais um déficit de R$ 1,5 milhão para uma posição em que temos o Valencia, o Renan, titular da Seleção Sub-20, e outros jogadores? Não seria nesse jogador que gastaríamos R$ 1,5 milhão. Não é bem assim. Uma coisa é indicar um jogador, a outra é poder comprar o jogador tal. São coisas que o torcedor ou o conselheiro pensam, mas para se concretizar não é assim. Nós temos R$ 2 milhões por mês de folha de pagamento. Sabe lá o que é isso? Fora as despesas correntes, que todo clube tem. Temos um orçamento de R$ 45, 48 milhões por ano. Isso de despesa. Para uma receita certa de R$ 13 mi da TV, de R$ 11 mi de sócios e mais uns R$ 5, 6 milhões de outras promoções. Isso não chega a R$ 30 mi. Para chegar a R$ 48 mi faltam R$ 18 R$. E aí?”, questionou.
Michel Bastos e Cristian
Ele voltou a falar sobre os atletas Cristian e Michel Bastos, que foram negociados recentemente e que renderão quantias relevantes ao Atlético em breve. Malucelli explicou que o clube ainda não pode contar com esse dinheiro, já que os valores serão recebidos somente à medida em que Fenerbahçe e Lyon fizerem os pagamentos. “Do Michel Bastos, nós temos 3,2 milhões euros [a receber]. Já notificamos os clubes e o empresário que intermediou a negociação para que nos deem cópia do contrato para sabermos como é que eles vão pagar. Ainda não recebemos nem cópia do contrato. Essa notificação se faz diretamente ao clube. Se não responderem, teremos de ir depois à Fifa”, esclareceu.
Quanto a Cristian, ele mais uma vez desmentiu a informação veiculada pelo Lance! de que o Atlético teria vendido sua participação ao Corinthians. “O Cristian quando foi ao Corinthians, vindo do Flamengo, fizemos uma divisão de 33% para cada um dos clubes e no contrato está escrito que em caso de venda o Corinthians tinha de notificar os outros para ver se eles não queriam ficar com o jogador pelo mesmo valor. O Corinthians vendeu, não nos deu cópia do contrato e ainda foi aos jornais para dizer que tinha comprado a parte do Atlético. Quem vendeu, ao que me parece, foi o Flamengo. Nós tivemos uma oferta de 750 mil euros em junho, mas não quisemos vender. Pedimos um milhão de euros e não foi feito negócio. Agora, terceiros vieram com a proposta de um milhão de euros, eu achei estranho e fui ver o que era e constatei que o Corinthians já tinha vendido [o jogador]. São atravessadores, empresários, que ficam feito urubus. Nós não entramos nessa e não entramos nessa por pouco”, explicou.
Segundo Malucelli, o Atlético ainda discutirá o valor total da negociação com o Corinthians. “O presidente do Corinthians me disse que dos 7 milhões de euros ele só vai receber 5. Dos 5, temos 33,3%. O Fenerbahçe pagará em três parcelas, sendo a primeira agora em setembro, a segunda em setembro de 2010 e a outra em setembro de 2011”, disse. Ele revelou que irá questionar por que razão a negociação prevê que o jogador receberá um milhão de euros, um empresário receberá um milhão de euros e o Corinthians, cinco.
“O dinheiro é bom e é para receber, mas não recebemos absolutamente nada. A primeira coisa que nós vamos fazer é pagar o que está atrasado, esse déficit que nós temos, depois vamos ver o resto”, concluiu.