Dividir para multiplicar
O eterno presidente Mario Celso Petraglia não é um homem do presente. A sua mente trabalha sempre com os olhos voltados para o futuro como se estivesse vivenciando-o hoje. Por ter essa característica, pouquíssimas pessoas têm a capacidade de andar com ele sem se chocar. Deve ser muito difícil para esse homem ter de conviver com as pessoas normais.
Como o conheci? Por brincadeira escrevia algumas coisas aqui no site Furacao.com e no Bate-boca da Tribuna. Criticava-o por algumas das suas ações e elogiava-o por seus feitos incríveis, principalmente porque ele havia tirado o Atlético da mediocridade, colocando-o como um referencial para todo o Brasil como um clube bem gerido.
Num belo dia recebi uma mensagem em que ele se colocava à disposição, prontificava-se a esclarecer quaisquer pontos que até então eu desconhecia, queria que eu tivesse acesso a algumas informações que eu não as tinha. Fui até ele e conversamos por três agradáveis horas. Deve ter sido muito difícil para esse homem conversar com um sujeito com uma viseira dupla nos olhos, extremamente tapado por uma forma tacanha de ver as coisas. Confesso que me sinto envergonhado pelas coisas que defendi fervorosamente naquele dia. Hoje eu jamais as defenderia.
O tempo passou e procurei sempre estar atento aos acontecimentos do time da Baixada. Nesse tempo, a Baixada, na qual eu assisti aos jogos muitas vezes sentado nas arquibancadas como se estivesse cagando no mato, já não havia mais. Já éramos um clube que o Brasil inteiro definia como ideal. Tínhamos um belo estádio, um CT fantástico, já havíamos conquistado um título brasileiro, um vice-campeonato da Libertadores, enfim éramos o time!
O projeto foi idealizado para ser finalizado com a Copa de 2006, mas os alemães nos subtraíram esse sonho. Os africanos repetiram a frustração em 2010, e o ápice ficou para 2014. Tudo caminhava rotineiramente para o momento final.
No momento de materializar de vez o seu grande sonho de fazer o Atlético um extraordinário referencial, o Petraglia é colocado em xeque por uma das traições mais sórdidas havidas no mundo do futebol: os homens que ele colocara ao seu lado para auxiliá-lo no grande projeto da Baixada, voltam-lhe as costas, traem-no de uma maneira suja e maquiavélica.
O sonho de 1995 acabara-se ali? Voltaríamos a caminhar pela mediocridade num prazo de dez anos no máximo? Afinal, para esse homem 10 anos são como 5 minutos dentro da sua visão futurista.
Voltemos ao passado, voltemos ao sonho imaginado pela cabeça de um homem a partir de 1995: para conseguir alimentar seu sonho, teve de remover montanhas conduzindo um povo incrédulo de volta à terra prometida. Cumpriu sua promessa, mas, não satisfeito queria muito mais. Queria transformar esse time recém saído da mediocridade em um dos cinco maiores clubes da América do Sul. Era um projeto demais ambicioso, quase faraônico.
Tudo que a nação atleticana queria era só um estadiozinho onde pudesse gritar aqui é o nosso lugar, um lugarzinho onde pudesse se reunir em sua casa própria para poder cantar Atléticoooo, Atléticoooo! Mas não para esse homem, porque ele olhava para o futuro e dizia que queria o melhor estádio do Brasil. Era uma tarefa extremamente desgastante, prejudicada ainda muito mais por causa do seu temperamento fortíssimo e pouco afeito a ações politiqueiras com a finalidade de agradar a todo mundo, e não pagava jabá para torcida e imprensa de forma alguma, porque não queria que esse dinheiro fizesse falta ao clube que tanto amava.
Pagou um preço muito alto por isso. Conseguiu aglutinar o que há de mais podre na mídia paranaense, foi uma festa das canetas, latinhas e câmeras, falar mal de Petraglia dava status, aliás, até hoje ainda dá.
Seu legado é muito forte. Criou uma forma toda personalizada de fazer futebol, fez seu nome na história.
Preocupado com o rumo que os assuntos da copa tomavam, diante da inércia dos homens que deveriam estar à frente do projeto, pois esses mesmos homens o haviam descartado de forma sorrateira, não estavam fazendo nada. Todo o esforço programado desde 1995 esvaía-se pelas mãos da incompetência. A cidade de Curitiba deixaria de receber 4,5 bilhões, eu disse 4,5 bilhões de reais, em infraestrutura, empregos, benefícios, obras que as próximas gerações, nossos filhos, netos e outros descendentes poderiam usufruir por toda a vida.
No entanto, motivados por pensamentos tacanhos, estranhas forças se aglutinam, novamente, com o intuito de prejudicar o sonho futurista desse homem, sem saber que agindo dessa forma estariam prejudicando nossas futuras gerações.
Claro, o Sr. Marcos Malucelli está certíssimo, o Atlético não pode ser onerado com uma carga de investimentos de 135 milhões de reais, sendo que todo o estado do Paraná seria beneficiado com a Copa do Mundo. O que o Paraná não quer, esnoba, Santa Catarina estende um tapete vermelho desde Garuva a Florianópolis para receber. Parece que estou vendo todos os catarinenses carregando em passeata uma estátua para Beto Richa, Marcos Malucelli e Gláucio Geara, vai ser um festival de títulos de cidadãos honorários barrigas-verdes.
Alguém pensa que o homem que idealizou tudo isso que está acontecendo, Sr. Mario Celso Petraglia, veria toda essa trapalhada acontecendo e ficaria quieto em seu cantinho? Nunca!
Eles que fizessem o que quisessem, mas não deveriam mexer um milímetro nesse campo, porque na visão futurista desse homem, Curitiba não poderia ficar de fora dessa grande festa que será a copa e dos 4,5 bilhões que os meus e os seus descendentes poderiam usufruir num futuro próximo. Ele faria o que fosse possível para impedir que isso acontecesse. E fez: jogou uma bomba no colo das autoridades responsáveis.
Ora, se Beto Richa quer assinar sua certidão de óbito político, isso é problema dele, sim, porque para não queimar o filme com a torcida coxa, queimará todo o seu filme com a torcida atleticana e com todas as torcidas dos homens de boa vontade do nosso Paraná, aqueles que colocam o bem estar comum acima de qualquer paixão clubística. Todos saberemos dar o troco na hora certa.
Renunciando à sua paixão clubística, Petraglia lançou uma proposta inovadora, revolucionária, que a princípio pareceu absurda para ambos os lados, para tentar salvar a copa em Curitiba na Arena e os bilhões do PAC em nosso estado.
Os homens de visão pequena, tacanha, tal qual a minha quando tive a coragem de ir ao escritório desse homem, falarão que ele deve estar louco, que não deveria ter feito essa proposta nunca.
Não me perdoaria nunca se deixasse essa oportunidade passar em branco, se a Copa de 2014 fosse para Florianópolis ou para qualquer outro lugar. Quando se fala Copa na Arena não se deve pensar apenas nas pouquíssimas partidas que haverá em Curitiba. Dever-se-ia pensar, sempre, nos enormes benefícios que isso trará às nossas próximas gerações.
E você, ficará de braços cruzados enquanto tudo isso passa à frente da sua janela e você fica vendo novela?