3 maio 2010 - 20h14

Os pecados capitais do Furacão em 2010

Gula? Nem de gols. Avareza? Talvez no receio de investir na contratação de reforços. A ganância pelo poder no Atlético Paranaense é conhecida há tempos. Luxúria? Ahhh… Arena da Baixada. Belo CT do Caju. Estrutura impressionante que não se reflete no futebol da equipe principal. Ira? Disso a torcida entende. Melancolia? Precisa dizer alguma coisa? Preguiça? Muitos jogadores parecem acometidos. Vaidade? Quem sabe tenha atrapalhado nessa trajetória. Orgulho? Muito, mas ultimamente anda em baixa.

Os pecados capitais servem de exemplo para o atual momento atleticano. A alguns dias da estreia no Campeonato Brasileiro 2010, a torcida atleticana vive momentos de angústia, reflexos da frustração pelos insucessos até aqui na temporada. Lamentavelmente, o Atlético se tornou extremamente previsível nos últimos anos e os fracassos já não nos surpreendem. Nas últimas temporadas, a equipe se limitou a lutar contra o rebaixamento até as rodadas finais.

Enquanto os sócios se esforçam para manter suas mensalidades em dia e os torcedores criam espetáculos nas arquibancadas, a dúvida permanece: será o Atlético mais uma vez coadjuvante de tudo? Para responder estas e outras perguntas, conversamos com torcedores e jornalistas sobre quais foram os principais erros do clube até o momento, decorrido apenas um terço do ano.

Os 7 maiores erros do Atlético em 2010:

1- Falta de planejamento / planejamento equivocado
Esse foi o equívoco genérico do clube. Na iminência de mais uma edição do Brasileirão, o clube não possui um planejamento consistente para a temporada. Saída de jogador durante o Campeonato Paranaense, mudança de treinador e falta de contratações (e equívocos nas contratações realizadas) de qualidade. Tudo isso está englobado no péssimo planejamento atleticano para a temporada 2010. “Clube e o treinador ainda falam em contratar, mas não sabem ao certo quem e para quais posições. Tudo vai depender de quem será oferecido e em quais condições. Aí vamos ver se dá certo. Se der, ótimo, se não der, cai o técnico. Esse tipo de política está ultrapassado”, aponta o narrador Linhares Jr, da TV Globo e Sportv.

2- Troca no comando técnico
Eis o principal erro apontado por torcedores e jornalistas. Prova disso é o resultado da enquete promovida pela Furacao.com logo após a demissão do técnico Antonio Lopes do comando do Rubro-Negro: quase 68% dos mais de 10 mil votos computados não concordaram com a saída do treinador. Aliás, um erro cometido pela diretoria ano após ano, já que o clube tem dificuldades para concluir uma temporada ou terminar um semestre com o mesmo treinador que iniciou o trabalho. As filosofias e estilos de jogo diferentes acabam prejudicando o desempenho em campo, até mesmo porque times campeões têm em comum longos trabalhos com o mesmo comando técnico. “Obviamente que é um excelente técnico, no entanto, o erro foi demiti-lo no meio da competição. Lopes não contava com apoio de parte da diretoria, que esperou o momento oportuno para mandá-lo embora. Isso prejudicou o planejamento”, comenta Silvio Rauth Filho, repórter do Jornal do Estado. Mesma opinião do editor-chefe da Revista ESPN, Leonardo Mendes Jr, que criticou a demissão do treinador no início da temporada. “Se é para manter, vai com ele até o Brasileiro. Não dá para o cara servir em janeiro e não prestar mais em março, sendo que nesse período nada de significativo aconteceu. A mesma história do elenco, gratidão não pode guiar montagem de elenco. Mas já que começaram com ele, não fez sentido demitir em março”.

3- Falta de reforços
Mesmo com a chegada de dois jogadores para a posição mais carente do time, a lateral-direita, outras ainda não foram supridas, como meio e ataque. Aliás, carências visíveis há um bom tempo. Para piorar a situação, a diretoria insiste em iludir a torcida com promessas de grandes reforços e campanhas, o que acaba gerando falsas expectativas em um torcedor já cansado de tantas mentiras. As citadas promessas de “futebol como prioridade” e “time forte para ganhar títulos” parecem ter ficado apenas no papel.

4- Negociação/perda de atletas importantes para o elenco
O Atlético emprestou Marcinho, que finalmente havia se encontrado em campo, vendeu Alex Sandro, que estava se destacando na função de segundo volante (outra posição carente da equipe) e, ao que parece, não apostava no sucesso de Wesley, já que o contrato de empréstimo não oferecia qualquer tipo de preferência ao Atlético. Esse pecado também tem sido cometido ao longo dos anos pelo clube, vide 2008 quando negociou Claiton e Ferreira durante o Paranaense, fatores preponderantes para a perda do título.

5- Desempenho da direção de futebol
Talvez a maior bronca dos torcedores atleticanos atualmente. O desempenho do diretor de futebol Ocimar Bolicenho não anda agradando a torcida e pouco tem mostrado como dirigente do maior clube do Estado. “Como pode um clube profissional como o Atlético depositar confiança em um diretor que dificilmente acompanha os treinamentos da equipe?”, diz o colunista Paulo Perussolo, da Furacao.com. A mesma crítica é compartilhada com Leonardo Mendes Jr, da ESPN. “O Ocimar não deu certo. Tem como grande feito o não rebaixamento e isso é coisa para o Grêmio Prudente comemorar, não o Atlético. E em quatro meses de 2010 também não tem nada que credencie seu trabalho. Aliás, nada muito surpreendente, levando em consideração que seus trabalhos no Joinville, no Marília e no Santos não tiveram resultados expressivos. Não sei quanto o Atlético paga para ele, mas tem sido um dinheiro muito mal investido”, opinou.

6- Aposta em ídolos do passado que estavam no departamento médico
A diretoria atleticana pecou ao confiar demais em uma rápida recuperação de atletas com mais idade, como Alex Mineiro e Claiton que, para completar, possuem os maiores salários do elenco. No final das contas, Alex Mineiro retornou aos gramados apenas no final do Paranaense e Claiton só iniciou agora os trabalhos com bola.

7- Revelação de jogadores
Ao priorizar a formação de atletas para a negociação com outros clubes, o Atlético negligencia o seu time principal. Produz jogadores para vendê-los rapidamente. Formar jogadores para o “próprio consumo” não faz mais parte dos planos e do planejamento atleticano. Nomes como Rhodolfo, Manoel, Neto, Chico, todos que saíram da base e estão no profissional, utilizam a “vitrine do time titular” em busca de uma rápida negociação, vendendo-se talentos precocemente antes mesmo de se firmarem e escreverem uma história dentro do próprio clube. “Com isso, o time fica refém de veteranos em fim de carreira que pouco tem a contribuir, como aconteceu com o investimento no Alex Mineiro. Ele já não era tão jovem em 2001. Respeitemos a história dele no clube, mas é um retrocesso”, opina Linhares Jr. Formar o jogador como atleta do clube, fazer com que ele sinta prazer em jogar no profissional, ao invés de perder o foco e sonhar apenas com a Europa, parece ser a grande dificuldade do clube atualmente. “Apesar de todo o sucesso recente das categorias de base, não existe uma mentalidade atleticana nos garotos. Eles foram criados com a ideia fixa de entrarem no mercado, não vestir a camisa do clube que o revelou”, completa Rodrigo Fernandes, da Gazeta do Povo.

Confira outras opiniões dos entrevistados:

“O principal erro foi contratar Serna e Vanegas. Com dois reforços que tivessem correspondido, o Atlético teria vencido o Paranaense e eliminado o Palmeiras na Copa do Brasil. O Atlético também enfrentou outro grave problema: os três maiores salários do elenco (Alex Mineiro, Claiton e Paulo Baier) passaram a maior parte do ano no DM. Com os três em boa forma (física e técnica), o time teria conquistado o título estadual com certa folga”. (Silvio Rauth Filho, repórter do Jornal do Estado)

“Foram inúmeros os erros, mas muitos são frutos de uma política equivocada no aspecto esportivo – e eficiente, em parte, no setor financeiro. Um problema sério é a disputa política. Jogador de A e jogador de B no mesmo time é contraproducente. Cria-se uma divisão no grupo desnecessária e, lamentavelmente, assim parece funcionar o CT do Caju. Aliado a isso tudo, um detalhe que foge do controle do Atlético: não existe um calendário atrativo para o jogador com projeção de mercado atuar no clube. Atleta só quer mídia e dinheiro. Com o deficitário Campeonato Paranaense, não se pode oferecer nenhuma das duas coisas”. (Rodrigo Fernandes, editor de Esportes do jornal Gazeta do Povo)

“Foram atrás do Leandro com permanência datada até o fim do Estadual. E a Copa do Brasil? Não era prioridade do semestre? Como você entrega a prioridade do semestre para mão de obra temporária? Caiu o Lopes, já busca outro. Mas não, um erro atrás do outro. Mantém elenco que briga para não cair, mantém técnico de que briga para não cair, demite técnico sem resultado que justifique, entrega a prioridade do semestre na mão de interino”. (Leonardo Mendes Júnior, editor-chefe da Revista ESPN)

“É preciso mudar a mentalidade. O futebol paranaense precisa ter outra postura. Nos consideramos um grande centro, mas não somos. Encerramos nossa força nas nossas fronteiras. Nosso campeonato foi fraquíssimo nos últimos dois anos, serviu para nada. Basta ver o desempenho dos nossos times na Copa do Brasil. Chegamos aonde? Somos autofágicos. Precisamos de rivalidades, mas de inteligência também. Nossos dirigentes são extremamente amadores, em todos os níveis: clubes e federação. Isso precisa mudar. O futebol está muito competitivo e nós não estamos acompanhando esta evolução. Vamos ficar cada vez menores. Temos apenas um clube na Série A. Há quatro, cinco anos, tínhamos três. E, os três passaram pela Libertadores. O Atlético chegou à final. E, aí estaganamos. Recuamos. E, estamos acabando”. (Linhares Junior, narrador da TV Globo / Sportv)

Colaboração: Paulo Perussolo



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