Dane-se, Carpegiani
O Atlético Paranaense significa muito em nossas vidas. Boa parte do que sentimos e expressamos tem as cores desse clube único, que enfrentou, durante a maior parte da sua existência, crises financeiras e políticas gigantescas. Enfrentou, sobreviveu e cresceu, embora lhe falte, ainda, o reconhecimento da sua excelência. Por isso nos atormenta, de vez em quando, a dúvida atroz: somos grandes ou pequenos? Não há resposta única ou definitiva para essa pergunta.
A boa estrutura do CT do Caju é inegável, assim como não se discute a modernidade de um estádio como a Baixada ou a força da nossa torcida. Só que, diante dos resultados esportivos dos últimos anos, fica difícil de enquadrar o time atleticano entre os maiores do País. É certo que fomos campeões brasileiros, que ganhamos um torneio seletivo cuja importância nunca foi devidamente avaliada nem mesmo pelos mandatários do clube, que participamos de algumas edições da Taça Libertadores, que nos firmamos na divisão principal do Campeonato Brasileiro. É certo e é muito, mas não basta para que sejamos notados além das fronteiras do recatado Paraná ou da Curitiba bela e arrogante. Faltam-nos (mais) títulos de expressão. Chegaremos lá.
Não adianta, portanto, sofrermos com a estupidez da crônica especializada, que não enxerga vida além da estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Não adianta imaginarmos que alguém, lá fora, vai sentir o que sentimos ou defender a causa que defendemos. Caminhamos sozinhos, e é assim que encontraremos nosso espaço na história do futebol o espaço que tem o tamanho do Atlético Paranaense, e que será, para nós, sempre o maior.
Daí que não surpreende a súbita retirada do capitão Carpegiani. E surpreende menos ainda o assédio são-paulino sempre ele, sempre o mesmo a um profissional empregado em outra agremiação. Não é certo, porém, atribuir ao detestável SPFC a exclusividade dessa prática repugnante. Ela faz parte da ética da cartolagem, que não respeita nada a não ser os seus interesses próprios, que atribui a cada pessoa o seu preço, que fabrica resultados e encara o mundo sob a ótica dos sujos e dos canalhas. Assim funciona o esporte da nossa paixão, não importam as cores e a roupa que usem os seus mandatários.
Pois o nosso ex-técnico faz parte desse circo. Há pouco mais de duas semanas, jurou que estava resolvido financeiramente, que se preparava para descansar em janeiro, que cuidaria de seus negócios particulares. No domingo, enfim, cedeu ao brilho e ao encanto do grande centro. Deixou a província em busca de melhor sorte perto dos que mandam de fato. Poderia ter optado pela conclusão de um trabalho que anunciava bons frutos, mas preferiu o comum: vender-se. Outros também o fariam.
Não há o que lamentar. Resta, apenas, desejar ao criativo Carpa que se dane, junto com o seu SPFC. O Atlético Paranaense, que significa tanto em nossas vidas, seguirá o seu curso.