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14 jan 2011 - 21h56

Washington não foi ídolo

Todo mundo questiona que jogador é movido a dinheiro, que se fosse você, na mesma situação, agiria da mesma forma e se venderia por qualquer cifra a mais, independente de jogar no Japão, nos Emirados Árabes, na Coreia ou na Rússia. Discordo um pouco dessa teoria. Acredito que dois são os principais problemas que afundam a carreira dos jogadores brasileiros.

Primeiro, a entressafra é tão grande que não há mais jogadores bons, realmente diferenciados. Vivemos uma deficiência muito grande, mais tática do que técnica. O futebol brasileiro está contaminado com o câncer chamado ‘boleiros’.

Boleiro na verdade não tem compromisso. Quer entrar e dar chapéu, meter caneta, ser o craque da rodada, sair com carrão depois do jogo e pegar um pagode, sair no jornal, pegar modelo na balada. Quer mídia. Mas na maior parte do tempo é descompromissado, não joga pela equipe, é egocêntrico e alguém disse um dia que joga muito, quando na verdade é apenas habilidoso. O cara se destaca e o time perde. Ele só quer o contrato no exterior, nada mais. É o caso do Robinho: um baita enganador marqueteiro que so joga no Brasil. Meter 10 x 0 no Naviraiense é muito fácil, agora se destacar no Milan, num futebol bem mais elaborado que o nosso (pode não ser o mais bonito) é pra poucos.

O segundo grande problema é a falta de percepção do jogador, a falta de administração da própria carreira. O que será melhor para mim? Ganhar mais agora ou ganhar muito mais depois? Jogador pensa no hoje. O amanhã a Deus confia. E nesse ritmo, muito jogador troca o suor de hoje, que pode gerar bons frutos no futuro, pra colher o que der agora. Talvez seja porque tenha muito boleirinho meia boca nesse mundinho do futebol. Como sabem que a carreira é curta, pensam em tentar fazer o pezinho de meia o mais cedo possível. Ser ídolo virou segundo plano.

Só para citar alguns exemplos de como jogador não se importa mais em fazer história. Ronaldinho Gaúcho tem mais de 100 milhões acumulados em fortuna. Não tem mais necessidade de jogar por dinheiro. Arrumou a vida dos bisnetos, se quiser. Entretanto provou, ele e seu procurador A$$$$$$i$$$, que estão se lixando pra carreira. Conseguiram cravar na história o estereótipo de mercenários. Se o Ronaldinho gostasse mesmo do Grêmio seguiria o conselho do Pelé e jogaria por prazer, pra ser ídolo.

O mesmo eu digo do Washington. Não adianta julga-lo por ingrato, porque não tem mesmo a mínima vontade de ter sido ídolo. Todas as suas transferencias não envolviam sentimento. Só para lembrar, foi ser campeão num campeonato fraco como o campeonato japonês e voltou ao Brasil pra ser campeão como coadjuvante. Nas vezes em que foi o ator principal, só ajudou a ser vice. E nisso eu agradeço muito à LDU, pois foi com muito prazer que assisti àquela Libertadores. Não pelo atleta.

Portanto ídolo de verdade será algo cada vez mais raro. A carreira é segundo plano. Ídolos como Washington (do casal 20) e Assis, Paulo Rink, Kleber Pereira e Alex Mineiro (esse manchado pela última passagem) só com muito profissionalismo, o que cada dia esta mais raro no futebol brasileiro.

Administrar a carreira não significa abdicar das cifras, mas não é preciso prostituir a profissão. O próprio Alex, ex-ervilhas, ja declarou que não vestiria a camisa do Atlético, e o Ricardinho há muito tempo atrás desistiu de um contrato conosco por ter jogado no Paraná Clube. Não digo que esses sejam craques ou esse tipo de comportamento seja exemplo, mas mostra um respeito pelos clubes que passaram. Alguém aqui já imaginou Paulo Rink vestindo a camisa do Coritiba? Eu acredito que ele não teria coragem de fazer isso. Ser ídolo vai muito além do dinheiro e nisso nem Messi me convence.

Tem jogador que não precisaria desse tipo de comportamento. Será que o Fernandão ganhou ou perdeu jogando anos depois no São Paulo, clube que derrotou pelo Internacional numa Libertadores, quando então tinha uma forte identidade com o time gaúcho? Sinceramente, acredito que o prejuizo foi maior que o lucro. Vai encerrar a carreira com uns trocos a mais mas os colorados lembrarão mais de Falcão do que de Fernandão.

No Atlético, lembro de Paulo Rink e Oseás como a dupla que moeu o Palmeiras na antiga Baixada. Poderia falar bem do Washington pra meus filhos, mas vou acabar citando a eles sem mágoas: foi um jogador que sabia fazer gols mas não teve a capacidade de levar-nos ao título.



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