Crônica de uma morte prevista
Tentarei escrever excluindo toda a indignação pela acachapante e humilhante derrota que sofremos hoje. E como sofremos: sofremos ao ver uma defesa totalmente desorganizada, ao observar um meio campo escalado de maneira amadorística e risível, ao constatar a completa e absoluta falta de garra e identificação com nosso clube. Logicamente, endosso todas as críticas aqui feitas a atual diretoria pois ela é a principal responsável pela manutenção desse espírito derrotista que tomou conta de nosso clube de 2005 para cá. Espírito esse que nos faz duvidar até dos motivos para continuarmos pagando nossas mensalidades, indo em jogos contra equipes inexpressivas e entoando nossos hinos de torcedores apaixonados.
Todavia, gostaria de ressaltar que perdemos, como quase sempre se perde no futebol, taticamente. Outro dia eu falava que teríamos que ter opções de saída de bola. O que vimos? As velhas e inoperantes ligações diretas, os chutões sem destinos para aonde aponta o nariz e as irritantes chuveiradas na área adversária. Era essa nossa estratégia para ganhar dos ervilhas? Leandro, o pseudo treinador interino, disse que nossa intenção era jogar no campo do adversário mas infelizmente não deu certo. Como assim nossa intenção? Futebol não é feito de intenções. É feito de treinamento árduo, genialidade, raça, jogadas ensaiadas e uma estrutura de jogo razoavelmente inteligível e racional.
Assim pergunto: é racional continuarmos com nosso falso 4-4-2 quando está EVIDENTE que não temos laterais? Ou Pimentel e Paulinho ainda precisam provar mais alguma coisa? Tem alguma lógica jogarmos com dois volantes que não tem habilidade suficiente para fazer a bola chegar até os meias de criação? É inteligente deixar que nossos jogadores mais habilidosos, Madson e Baier, joguem escondidos nas laterais do campo com preocupações defensivas? Quer dizer, os laterais não sobem… mas também não marcam! Ou alguém não percebeu que tomamos gols de jogadas advindas dos flancos? Não bastasse isso, nossa defesa está desentrosada e mal organizada. Rafael Santos e Manoel embora este esteja com uma imensa má vontade- não são os piores zagueiros do mundo mas estão mal orientados. Devem marcar por zona, homem-a-homem? Quem faz a cobertura? Quando a bola é alçada na área ainda não temos um goleiro com ritmo de jogo e audácia suficiente para gritar : – É Minha!.
Hoje somos um time tonto e a bola parece batata quente. Tocamos pra lá, tocamos pra cá, depois voltamos, alguns chutões. Falta de estratégia. Lembremos do Carpa. Sim, ele é uma espécie de professor pardal, é arrogante, teimoso, inventivo nas horas indevidas e impaciente. No entanto, ano passado tínhamos um padrão. Paulinho defendia, Granja ou Diniz subiam. A defesa era organizada, tínhamos jogadas ensaiadas poucas- e a bola acaba chegando aos jogadores de ligação. Enfim, também tínhamos diversos problemas, alguns jogadores totalmente questionáveis e ganhamos diversas partidas com gols de falta: mas tínhamos um padrão mínimo.
Aspectos motivacionais, é evidente, também estão em situação precária. Jogadores desinteressados caminham em campo e tratam a derrota para nosso maior adversário, da forma como foi, como algo perfeitamente normal. Embora a morte estivesse anunciada, perder para o aglomerado do alto da glória jamais ode ser tratada como algo cotidiano.
O que precisamos então? Certamente os comentários de todos os torcedores têm muitas soluções. A volta de MCP, a dispensa de jogadores, a contratação de outros, um técnico de verdade e assim por diante. Junto à isto meu pedido pessoal: temos que ter alguém, em alguma instância do clube, que realmente entenda como funciona o futebol. Repito: dessa maneira não vamos ganhar absolutamente nada! E sem títulos, caros irmãos e sofredores rubro-negros, nosso 2011 será cinzento.