23 dez 2011 - 4h12

Edilson Thiele: “Foi difícil administrar a ansiedade”

Edilson Thiele já era chefe do departamento médico do Atlético em 2001. Naquela temporada, ele foi o responsável por definir as escalas dos médicos, decidir os tratamentos e esteve muitas vezes sentado no banco de reservas durante os jogos que culminaram na conquista do título brasileiro.

Por sua função, Thiele foi um torcedor atleticano privilegiado. Pôde conviver com os jogadores e acompanhar de perto a evolução da equipe ao longo da competição. “Tínhamos um bom time e que nunca havia chegado tão perto de um título, mas depois do jogo contra o São Paulo, sabíamos que chegaríamos lá”, lembra o médico.

Nessa entrevista exclusiva à Furacao.com, o médico fala sobre as principais contusões dos jogadores na campanha e conta bastidores do tratamento de Gustavo, que se machucou no primeiro jogo da final. Confira:

Qual é a sua melhor recordação do título de 2001?
O gol do título do Alex em São Caetano, nos dando a certeza de que seríamos campeões brasileiros, e a chegada na Baixada, pois era muito tarde e tinha um mar de atleticanos na Praça Afonso Botelho nos esperando. Foi de arrepiar.

Você trabalhou muito proximamente ao Mário Sérgio e ao Geninho. Havia muita diferença no estilo de trabalho deles?
Os dois treinadores tiveram um papel importante. O Mário, extremamente técnico, procurava tirar e espremer o que o jogador tinha como atleta, e o Geninho, com seu jeito de paizão, procurou unir e fechar o grupo. Tenho certeza que o fez como eu nunca vi nenhum técnico fazer até hoje. O grupo estava na sua mão e, acima de tudo, se dava super bem. E um jogador teve um papel fundamental, além destes dois técnicos, foi o Nem, que era o grande chefe dos jogadores. Líder e de coração bondoso.

Vários jogadores do Atlético passaram pelo DM durante aquela campanha: Nem, Gustavo, Souza, Kléber, Alex Mineiro, Alessandro, Rogério Corrêa e Cocito. Qual foi o caso mais grave? O sr. pode falar um pouco mais detalhadamente sobre essas lesões e o comportamento dos atletas no tratamento?
Não tivemos lesões graves nesta época, pois tínhamos um entrosamento maravilhoso com a preparação física, com o Riva, Eudes, Antônio Carlos e Oscar. Poucos atletas permaneceram no DM, somente o Souza por uma lesão no joelho ficou algum tempo lá, os demais não.

O Nem deu uma entrevista para nós e quando perguntamos sobre as lesões sofridas em 2001, ele disse que não se machucou nenhuma vez naquele ano. Que todas as vezes que foi para o DM era mentira, porque não gostava de treinar. O médico consegue perceber quando o atleta está reclamando de dores e não está lesionado?
É verdade. O Nem só queria matar o Riva, pois todos sabíamos que ele não gostava de treinar. Então o Riva, à mando do Geninho, cuidava especialmente do Nem e todas as vezes que ele foi para o DM sem lesão propriamente dita, foi respaldado simplesmente como prevenção e bom senso, pois sabíamos da importância dele para o grupo.

Comenta-se que o Gustavo tomou infiltração para disputar a final em São Caetano. Isso é verdade?
No jogo final em Curitiba, o Gustavo rompeu parcialmente o ligamento colateral medial do joelho, e o tratamento preconizado pela literatura para o jogador voltar às atividades normalmente é de duas a três semanas. Este ligamento normalmente não tem indicação cirúrgica e como tínhamos pouco tempo para sua recuperação, tínhamos que decidir. O principal sintoma desta lesão é a dor, então conversamos com a equipe de anestesia do hospital Vita, Dr Ranger, Dr Clovis e Dr Tanaka, todos atleticanos, sobre o que poderíamos fazer para diminuir a dor. Decidimos fazer o uso de um anestésico de longa duração – uso lícito e correto -, pois quando se fala em infiltração, o leigo pensa em infiltração de corticóide, que era comumente utilizada no passado, o que não foi feito com o Gustavo. O jogador conseguiu jogar e fomos campeões brasileiros.

Qual foi a maior dificuldade da sua parte durante aquela campanha?
Saber administrar a ansiedade, pois tínhamos um bom time e que nunca havia chegado tão perto de um título, mas depois do jogo contra o São Paulo – nosso pior adversário – sabíamos que chegaríamos lá.

Se o você pensar naquele dia do título, qual a primeira imagem que vem à sua cabeça?
A imagem do meu pai, já falecido, um atleticano que sofria com o time, não conseguia nem ir ao estádio pelo sofrimento, e de meus filhos que embora pequenos, se fantasiaram de papai noel com a camisa do Atlético, para festejar o título. Com certeza foi uma das coisas que jamais esquecerei na minha vida.



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