23 dez 2011 - 4h03

Mário Sérgio: “Time e torcida: sintonia inesquecível”

Mário Sérgio foi responsável por montar o elenco Campeão Brasileiro, que na sequência da competição foi dirigido por Geninho. Naquela época, foi possível o Atlético fazer uma pré-temporada entre o fim do Paranaense e o início do torneio nacional. Foi neste momento que ele planejou o time, montou a vencedora estratégia do 3-5-2, indicou reforços e formou o elenco. Na estreia, o Atlético venceu o Grêmio e acabou com uma invencibilidade de 20 jogos do time gaúcho, e após cinco jogos invicto, tornou-se líder do campeonato. Porém, contra o Palmeiras, na 10ª rodada, o time completou quatro jogos sem vencer e os jogadores atleticanos estavam sendo cada vez mais criticados pelas constantes expulsões. Quando, na rodada seguinte, perdeu para o Fluminense, Mário Sérgio não suportou a constante pressão e deixou o time. O tricolor carioca havia quebrado um tabu de 54 anos sem vencer o Atlético, a única derrota em plena Arena da Baixada naquele campeonato.

Após declarar à imprensa sobre as noitadas dos jogadores, dizendo a célebre frase “Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético”, que acabou gerando um mal estar no elenco e também perante à torcida. “Não só falei isso à imprensa como recebi telefonemas de alguns jogadores me perguntando se realmente havia dito tal coisa. Respondi que não só havia dito como também achava que seria uma maneira de colocar um basta nos excessos (criando no torcedor um comportamento de fiscalizar tais atitudes). Soube mais tarde que alguns jogadores não podiam nem sair de casa, tamanha era a cobrança dos torcedores”, revelou, em entrevista exclusiva à Furacao.com.

Diante da situação, Kléber, Nem, Souza e Flávio foram até o hotel onde o técnico estava hospedado e pediram para que ele permanecesse no comando da equipe. No dia seguinte, Mário Sérgio voltou atrás em sua decisão e ficou mais dois jogos. Porém, as derrotas para Palmeiras e Fluminense resultaram em sua demissão desta vez definitiva.

Sem arrependimentos, Mário Sérgio concedeu entrevista à Furacao.com por e-mail e comentou sobre os motivos que levaram ao seu desligamento do clube, o segredo do time campeão, a contratação de Souza e revela não ter nenhuma mágoa. “Torço pelo Atlético Paranaense até hoje por ter passado três vezes pelo clube e ter feito grandes amigos”.

Qual é a sua melhor recordação do título de 2001?
A relação que tive com o grupo. Nosso relacionamento era muito próximo e sincero.

Como foi a negociação para sua contratação? Quem entrou em contato com você, a negociação foi rápida, o que foi discutido?
Por intermédio do Juan Figer, conheci o Petraglia e falamos muito sobre futebol. Ele gostou do meu método de trabalho e me fez o convite.

Qual era o objetivo do Atlético naquele Campeonato Brasileiro? Quando você chegou, qual era a expectativa da diretoria em termos de campanha e colocação final?
Desde o início eu disse à diretoria que o time era excelente. Tivemos a oportunidade de executar uma pré-temporada longa, concentrados no centro de treinamento, sem folga para ninguém. Esta convivência me deu a certeza da qualidade do grupo, confirmando meu diagnóstico inicial.

Por que você decidiu armar aquela equipe num esquema tático de 3-5-2? No primeiro treino, você usou o 4-4-2 (Flávio; Rogério Souza, Igor, Rogério Corrêa e Fabiano; Cocito, Donizete Amorim, Kleberson e Adriano; Alex Mineiro e Kléber). Como foi a mudança para o 3-5-2?
Só usei o 4-4-2 quando perdi os três zagueiros, machucados. O projeto tático sempre foi de três zagueiros. Quando passamos ao 4-4-2 o time teve uma queda de rendimento. Chegamos a jogar contra o Vasco com Pires e Nem e o Pires nunca foi zagueiro.

Você participou do processo de contratação de jogadores? Quais dos jogadores que vieram foram indicados por você?
Pires, Souza e Ilan. Quando ao Erandir, este foi indicação do Carletto.

Naquela época, a torcida cobrava muito a contratação de uma “estrela” e o único jogador que chegou com esse status foi o Souza. Qual foi a importância dele para a conquista do título?
Quando propus a contratação do Souza sabia que ele seria importante para o grupo. Fui tão sincero que disse ao Petraglia que inicialmente ele não seria titular. O dono da vaga, no momento, seria o Gabiru. Fui questionado por se tratar de uma contratação cara, mas assim mesmo insisti porque sabia que o Souza me daria uma outra opção de jogo no meio-campo, já que o Adriano era um jogador de força e com o Souza eu teria uma opção mais técnica, com mais qualidade no meio. Dependendo do jogo usaria um ou outro.

Sob o seu comando, o Atlético teve um início excepcional, atropelando os adversários nas cinco primeiras rodadas. Depois, foram cinco partidas seguidas sem vencer. Por que houve essa queda brusca de aproveitamento?
Porque perdemos a defesa (por contusão) e tivemos que mudar o esquema de jogo. Ainda assim nos dois jogos que empatamos com o Santos e perdemos para o Fluminense os resultados foram injustos.

Você chegou a pedir demissão depois do empate com o Santos em casa. Depois, os jogadores pediram para você permanece e você voltou atrás, o que não é um fato muito comum no futebol. O que houve exatamente naquele momento? Por que você decidiu entregar o cargo e o que te convenceu a voltar?
Naquele momento eu sabia que alguns jogadores não estavam se cuidando. Inclusive posteriormente ao meu pedido de demissão me reuni com quatro deles que se comprometeram a acabar com este comportamento pouco profissional e retomar o ritmo de trabalho.

Você voltou e ficou apenas mais dois jogos, com duas derrotas, e saiu definitivamente. Comenta-se que você teria dito a seguinte frase: “Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético”. Você disse mesmo isso? Se não disse, confirma que o grupo estava abusando das noitadas?
Não só falei isso à imprensa como recebi telefonemas de alguns jogadores me perguntando se realmente havia dito tal coisa. Respondi que não só havia dito como também achava que seria uma maneira de colocar um basta nos excessos (criando no torcedor um comportamento de fiscalizar tais atitudes). Soube mais tarde que alguns jogadores não podiam nem sair de casa, tamanha era a cobrança dos torcedores.

Recentemente, você deu a entender no Twitter que pediu para sair da primeira vez porque não estava recebendo corretamente. Era isso mesmo? O clube atrasou o seu salário, premiação, o que foi?
Atrasou salário, mas não foi este o motivo do meu pedido de demissão.

Boa parte da torcida considera que você teve um papel importante na armação daquela equipe e você inclusive recebeu uma faixa de campeão da diretoria, em sinal de reconhecimento. Particularmente, você se considera campeão também? Qual foi a sua parcela de contribuição, é possível estimar em termos estatísticos?
A minha relação com Petraglia, Carletto e com Samir (diretor de futebol na época) era de amizade. No dia em que pedi demissão saí para jantar com o Carletto e o Samir e este disse que sairia também. Disse a ele que não saísse porque o time era excelente e que ele perderia a chance de ser campeão. Disse para trazer o Geninho que era o único treinador que sabia jogar com três zagueiros. Quando o Geninho assumiu, falamos ao telefone por quase duas horas e passei para ele todas as informações sobre o grupo e coloquei à sua disposição todo o meu material de trabalho que estava com Eudes (responsável pelo trabalho de informática).

Torceu para o Atlético vencer ou assistiu apenas por interesse futebolístico?
Torço pelo Atlético Paranaense até hoje por ter passado três vezes pelo clube e ter feito grandes amigos.

Você se arrepende de ter saído no meio do campeonato? Se pudesse voltar no tempo, faria alguma coisa diferente para seguir no clube até o final?
Nunca me arrependo das coisas que faço. Naquele momento a confiança que norteava nosso relacionamento (meu e jogadores) foi abalada pelo não cumprimento do combinado.

Qual era o grande segredo daquele time? Você poderia apontar os destaques individuais daquele time?
Seria uma injustiça apontar destaques. O segredo do time era o excesso de qualidade técnica. Em todo o grupo, quase todos tinham o mesmo nível.

Qual o papel da torcida naquela campanha? Tem alguma partida em específico em que você se lembra de uma participação mais intensa do torcedor?
No primeiro jogo do campeonato, contra o Grêmio, considerado o melhor time do Brasil naquele momento. Foi a melhor partida que já vi um time jogar sob a minha direção. E a sintonia entre time e torcida foi inesquecível.



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