23 dez 2011 - 4h23

Memórias jornalísticas de um ano histórico

Quando da minha última passagem por Curitiba para estar ao lado do meu amado Atlético Paranaense na rodada final do Campeonato Brasileiro, dia 4 de dezembro, recebi um convite irrecusável: contar aos leitores da Furacao.com como foi a cobertura esportiva do ano de 2001. Como a imprensa viu a campanha do nosso time e interagiu no dia a dia do clube.

Memória nunca foi o meu forte e, logo após aceitar o convite, me bateu um pânico de não conseguir lembrar de todas as coisas importantes que vivemos naquele ano enquanto setoristas do Atlético. Concentração máxima e as lembranças foram chegando.

Desde a volta da Arena, o time vinha mostrando uma nova postura, mas isso não foi suficiente para colocarmos fé de que 2001 poderia terminar como aconteceu. Grandioso. Por sinal, acho que a imprensa paranaense só se deu conta disso ao mesmo tempo em que a imprensa nacional, quando vencemos num jogo histórico e heroico, o Fluminense.

Só que até chegar ao fatídico 9 de dezembro de 2001 muita história rolou. A desconfiança sempre rondou aquele elenco. E, ao contrário do que acontece em outros times, inclusive agora em 2011, em vez de se dividir, o elenco de 2001 se uniu. Nem mesmo a troca de treinador, a chegada de jogadores mais valiosos financeiramente, as sondagens de propostas de outros clubes mais influentes, a pressão da torcida que na época se engalfinhava com os dirigentes interferiram no clima do dia a dia da cobertura esportiva.

Todos os assuntos sempre foram tratados com muita transparência pelos dirigentes do futebol, pela presidência e pelo elenco. E, quando surgia uma farpa, ela logo era pinçada pelos setoristas que em uma roda antes de abrirem os portões do CT do Caju, se movimentavam para acabar com o ‘climão’.

Era de consciência de todos que, para fazer render boas matérias, seria preciso ter união também da imprensa. Mas isso não impediu os repórteres de darem seus furos jornalísticos, de terem suas exclusivas, de receberem informações únicas de suas fontes dentro do clube. E todos nós tínhamos pelo menos uma boa fonte no Atlético. Inclusive eu, a única repórter de um ‘site de torcida’ que participava diariamente das atividades.

Nenhum dos dois outros clubes tinha isso. Então, não foi fácil conquistar meu espaço no rol de setoristas, ser ouvida, valorizada. A Furacao.com passou de ser um simples site de torcedor para ser um site que servia também de fonte para a imprensa local e, até, nacional.

Se pudesse resumir, diria que 2001 foi o ano em que a imprensa era chamada para uma peleja contra a comissão técnica após o treino de sábado. Ano em que a imprensa tinha laços próximos com os jogadores, que apresentava dono de loja para fornecer boné e camiseta.

Época em que a imprensa comprava camisa de jacarezinho do mesmo fornecedor do jogador estrela e dava palpites no sabor do suco que o Bolinha oferecia. De jogador que ao final do treino ficava ali na beira do gramado para jogar conversa fora e que passava de carro devagarzinho ao deixar o CT para que o jornalista pudesse se aproximar como quem não quer nada, e fazer a tal pergunta exclusiva.

Poderia chamar de mais amadora? Não sei. Talvez sim. Mas também consciente do seu papel de reportar tudo o que acontecia. Nem mesmo quando o Atlético começou com uma história de cercadinho para os setoristas o astral mudou. Me recordo das últimas semanas após a classificação em segundo lugar, quando a imprensa nacional começou a brotar do chão no CT do Caju. Os jogadores passaram a cumprir certas regras de comportamento com a imprensa, mas nós, que estávamos ali desde o começo continuávamos a fazer nosso papel de repórter, investigar e dar a notícia.

Ah! Onde eu estava nos dois jogos da final? Já tinha deixado a Furacao.com e desfrutava da minha passagem relâmpago pelo jornal Gazeta do Povo, cobrindo poliesportivo. Porém, na primeira semana de casa fui pautada para fazer uma das matérias mais bacanas da minha vida: a expectativa de uma família atleticana para a final. Lá fomos o fotógrafo e eu para a casa do torcedor Marcos Sebrão, o Sapo. A matéria foi ‘A ‘capa do jornal no dia 23 de dezembro, com fotão de meia pagina. Orgulho!
Os 90 minutos de jogo passei dentro da redação quase deserta da Gazeta. Se existiam outros atleticanos ali, estavam disfarçados ou de folga ou escondidos ou metendo aquela conversa fiada de que repórter não tem time de futebol.

Eu não, eu estava com a camisa do Atlético apoiada no computador e sofrendo a cada minuto de jogo não por medo de perder a disputa, mas por não estar em São Caetano com meus amigos. Pouco mais de um mês depois, um reposicionamento do jornal me colocou para fora da casa, mas não me tirou o reconhecimento por ter sido uma repórter comprometida durante todo o ano de 2001.



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